Políticas do Design

Melissa Teixeira
ProjetoCTA
Published in
3 min readJul 27, 2021

Ruben Pater, designer e professor na Royal Academy of Arts, em Haia (Holanda), em seu livro Políticas do Design: um guia (não tão) global da comunicação visual, utiliza uma abordagem histórico-cultural para discutir como as peças de design gráfico são produzidas em diversas localidades, além do significado por trás de suas linguagens visuais e o impacto que geram. O autor desenvolve a obra com capítulos direcionados à linguagem e tipografia, cor e contraste, imagem e fotografia, símbolos, ícones e infográficos.

Antes de tudo, logo na apresentação a edição brasileira, Pater deixa claro para o leitor:

[…] não dá para separar o design da política. Este livro tem o título de Políticas do design, mas não é sobre designers engajados com ativismo. Parar de usar imagens racistas ou machistas e parar de tratar o modernismo da Europa ocidental como uma linguagem visual neutra não é ativismo. São passos necessários rumo a uma prática mais responsável e a uma sociedade mais ética. Afinal, não se trata apenas do design que criamos, mas também das decisões a respeito do que comemos, do que dizemos do que consumimos e de como tratamos nossos colegas humanos. É isso, na verdade, que molda a realidade política que habitamos. (PATER, 2019, p.1)

É importante notar como o autor tem ciência que o design não é neutro e, devido a isso, toda produção deve ser pensada tendo em vista sua capacidade transformadora. Assim, como cristãos, devemos refletir se a forma como estamos criando realmente está debaixo do senhorio de Cristo, a fim do que fazemos sinalize a redenção e minimize os efeitos do pecado no mundo caído que vivemos. É preciso pontuar também que isso pode ser realizado mesmo sem o uso de elementos visuais explicitamente cristãos, como defende Francis Schaeffer, em A Arte e a Bíblia, junto a afirmação de que “uma obra de arte pode ser, em si, uma doxologia” (doxologia = louvor a Deus).

Uma questão discutida de modo corriqueiro ao longo dos capítulos são os estereótipos. Desde a ideia de uma cor relacionada a determinado gênero, até a forma que uma cultura é representada a partir do ponto de vista de outra. Sobre esse último, pode-se citar como exemplo o uso das fontes Neuland e Lithos, que foram associadas ao mercado afro-americano. O grupo étnico não reconhecia as tipografias como parte de sua cultura, na verdade, eram encaradas como a visão de um designer americano sobre o que ele considerava ser “africano”, porém que não era de fato.

No livro também há relatos — muitas vezes colocados de maneira cômica e lamentável, ao mesmo tempo — de acontecimentos em que a comunicação foi falha. As ocorrências se dão, justamente, mostrando que não há uma linguagem visual global, que todas as pessoas no mundo não entendem a mesma mensagem sobre uma mesma coisa. Pode-se perceber o caso da cantora Taylor Swift que, em 2015, anunciou sua turnê mundial chamada T. S. 1989, para promover seu mais recente álbum intitulado 1989. O problema se deu, pois, as autoridades chinesas interpretaram como uma referência ao Tiananmen Square, 1989, ano que houve muitos protestos e um massacre estudantil em Beijing, levando a turnê ser renomeada na China.

Dentre outros levantamentos interessantes que Ruben Pater faz, chega-se à conclusão de que devemos ser conscientes e responsáveis na nossa maneira de comunicar através de artefatos culturais. O autor não levanta esta questão, porém, devemos nos atentar às questões relacionadas com a fé cristã e a cultura, precisamos enxergar o mundo através e a partir da sabedoria revelada na Bíblia.

Segundo Albert Wolters (2006, p. 97), citado em João Paulo Oliveira (2017, p. 36), “quando olhamos através das lentes corretivas das Escrituras, percebemos que em todos os lugares as coisas da nossa experiência começam a se revelar como criadas, sob a maldição do pecado, e ansiando pela redenção”. É preciso discernimento ao analisar os efeitos da queda na criação, a fim de podermos servir da maneira mais apropriada, gerenciando e tratando com cuidado o que Deus fez, sem tirar os olhos do glorioso momento em que todas as coisas serão restauradas por Cristo.

Referências:

OLIVEIRA, João Paulo A. da G. Cosmovisão Cristã. Rio de Janeiro: [s. n], 2017.

PATER, Ruben. Políticas do design: um guia (não tão) global de comunicação visual. São Paulo: UBU Editora, 2020.

SCHAEFFER, Francis A. A Arte e a Bíblia. Minas Gerais: Editora Ultimato, 2010.

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