Ônibus da física angústia

Como o movimento apavora quem está despropositadamente parado

Carolina Pinheiro
DOSE
2 min readJul 27, 2018

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Quando aprendi sobre inércia no colégio, em uma daquelas intermináveis aulas de física, eu fiquei absolutamente fascinada. Quer dizer então que se um corpo está parado, ele tende a permanecer parado, e se um corpo está em movimento, ele tende a manter-se em movimento? Sensacional. Mas e o meu corpo?

Eu me lembrei desse conteúdo digno de vestibular enquanto sentava, parada, em um ônibus voltando para casa. Enquanto fitava o horizonte, meu corpo se deslocava no espaço através do movimento daquele veículo. Mas eu mesma, euzinha, o meu ser, de fato, estava imóvel.

Faz tempo que eu me preocupo com o futuro. No ano em que termino a faculdade, mil receios vêm à tona e eu me sinto afogar em incertezas. O que mais me faz sofrer é que já em tempos daquela aula de física, eu tinha tudo planejado. Tudinho. Como um roteiro cinematográfico, com início, meio e fim. E agora me deparo com a inviabilidade do longa, bem no meio das filmagens.

É tão angustiante lidar com o fato de que a vida não te espera. De que o mundo continua a girar à sua volta. De que o ônibus transporta seu corpo ainda que ele permaneça parado. Mais do que isso, a angústia está na plena noção de que você deseja, com todo o seu corpo estático, quebrar a inércia — e não apenas perceber repetidas e repetidas e repetidas vezes que a sua imobilidade não segura o passar dos minutos.

No entanto, quanto mais desejo me mover, mais me sinto imobilizada. Maldita tendência natural de continuar parado. Maldito Newton. Se bem que ele deixou uma suposta luz no fim do túnel. Um estado inicial, como a estagnação, pode sim ser alterado. Mas somente com a aplicação de uma força externa. E eu me pergunto, onde será que posso encontrar essa dita cuja para resolver minha inquietação inerte.

Eu preciso dar um rumo à minha vida. Eu não sei o que fazer. Esse ônibus vai continuar me levando. Os dias vão passar. Eu preciso dar um rumo à minha vida.

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Carolina Pinheiro
DOSE
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Internacionalista, mestre em Ciência Política, escritora e sonhadora profissional.