Stay hungry, stay foolish

Erick de Miranda Oliveira
ProJurisTech
Published in
6 min readMay 3, 2019

Quando eu tinha por volta de 12 anos, meu pai, que sempre gostou de filme e computadores, me chamou pra assistir um filme: Piratas do vale do silício.

Confesso que já assisti esse filme algumas “n” vezes e sempre fiquei impressionado com todo o contexto. O filme passava na década setenta, onde informática era algo distante e não fazia parte do universo das pessoas comuns e o surgimento de duas grandes empresas (Apple e Microsoft) junto com a corrida e disputa entre Bill Gates e Steve Jobs, ainda jovens.

Ficava me perguntando se algum dia, aquela região iria passar por um choque de evolução de conhecimento novamente.

Quem é da área de tecnologia provavelmente já sonhou em trabalhar em uma das grandes empresas que surgiram nessa região da Califórnia e sempre fica impressionado com as diferenças de cultura, ambientes e políticas de trabalho descontraídas e com a mais alta e recente tecnologia que é usada lá, porém acabam sempre concluindo que é algo muito distante e chegando na seguinte frase (normalmente com suspiros no final): “… É, lá é outro mundo”.

Um dia estava procurando algumas tecnologias e formas de trazer, nem que fosse 1%, do que há de melhor desse mundo pra minha realidade e acabei caindo em um site bem simples e direto, tanto que me chamou a atenção com duas palavras “dev trip”.

Fiquei muito animado com o que dizia o site, sobre a viagem, que é realizada pela MacMagazine junto com a iMasters. Sem muita pretensão mandei um e-mail para o CTO da empresa onde trabalho, a ProJuris, perguntando se eles ajudam de alguma forma ou me permitiriam ir nessa viagem.

Então que ocorre outro evento inesperado: ele me chama para conversar no dia seguinte dizendo que a empresa iria bancar a viagem para que eu fosse junto com o gerente de tecnologia da empresa.

Após os sete dias passados, visitando empresas em um grupo de quatorze pessoas, posso dizer que se tem uma coisa difícil sobre essa viagem toda, com certeza é: processar e absorver tudo que ela oferece.

Com isso, rabisco alguns insights (com certeza terei muitos por muito tempo) desse outro mundo:

  • O que faz existir tanta inovação nessa região e nas empresas que estão nelas, com certeza, é uma coisa: compartilhamento de conhecimento.
  • É muito fácil começar qualquer coisa, como meetups, para compartilhar o conhecimento.
  • O conhecimento é aberto para todos e de acesso para todos, desde um estagiário até o mais sênior dos engenheiros de software.
  • Acesso a pessoas de outras empresas, até mesmo CEOs, é uma prática normal e sem espera de algo em troca. Na verdade eles esperam uma coisa em troca, mais compartilhamento de conhecimento.
  • Não existem processos nem receitas.
  • Equipes de desenvolvimento não se prendem a uma metodologia ágil ou às vezes até mesmo nenhuma metodologia. Get things done. Simples assim. Existe um alinhamento do esperado no trimestre ou semestre e pronto.
  • Falhar é melhor que ter sucesso.
  • Já ouvimos que empresas gostam de pessoas que falharam ou que trabalham em empresas que falharam, algo normal e do dia a dia em uma região cheia de startups.
  • Um exemplo rápido e prático é o próprio e gigante Facebook que está com novos prédios sempre crescendo. Podemos ver que no último construído e em ação, a estrutura e organização física das equipes, nos conceitos de ambiente aberto era bem diferente do penúltimo prédio. Eles pensaram, testaram, viram que não ficou tão legal, e fizeram diferente no novo prédio.
  • Não desista achando que é difícil ou que nunca vai acontecer. Se fosse isso, nenhuma startUp iria surgir. Até mesmo se eu desistisse de mandar o e-mail falando da viagem, achando que nunca ia acontecer, não iria estar escrevendo isso.
  • Muitas das nossas empresas brasileiras estão evoluindo muito com tudo isso também e sempre motivando mais a busca e compartilhamento de conhecimento. Ainda tem muita coisa que engessa os processos e não permitem nossas empresas serem tão abertas e flexíveis como lá fora, mas isso já mudou muito.
  • Não se prenda a processos, get things done. Todos aqueles “mimos” que vemos de snacks free, restaurantes na empresa, acesso aos melhores equipamentos de forma fácil, não são por mero agrado, são para todos conseguirem fazer suas coisas e de forma rápida e sem atrito.
  • Compartilhe conhecimento, mesmo que com poucas pessoas. Apenas tome a iniciativa de fazer e siga o fluxo: fazer, avaliar e melhorar. Não espere ter 50 pessoas para compartilhar algo. Disponha seu uma parte do seu tempo para conversar sobre um assunto, avise seus colegas e faça com quem aparecer. Você não precisa ser o melhor no assunto para falar, ninguém é. Como disse, as empresas cedem espaço e até mesmo seus melhores colaboradores para meetUps. Tive contato com brasileiros que estávamos um mês apenas lá e decidiram fazer meetUps enquanto estavam lá e receberam apoio, para financiar comidas ou bebidas do evento, e várias empresas cederam gratuitamente o espaço para realizarem.
  • Temos muita coisa boa em casa. No meu grupo tinham pessoas da área de desenvolvimento de vários tipos de empresa, e toda hora percebi que temos muito potencial e coisa boa no Brasil. Apenas não compartilhamos muito.
  • Lá não é o paraíso, existem empresas ficando milionárias e existem startups e até mesmo empresas fechando. Demissão ocorre é muito. Como disse o Alex da Dremio, na contratação a gente acha, no desligamento a gente sabe! Não está produzindo ou está fora da cultura da empresa, you fired!
  • Cultura da empresa! Isso é muito forte. Como uma região com os melhores devs sendo disputados pelas melhores empresas, o fator crucial para decisão de onde trabalhar é: qual cultura da empresa eu mais me identifico?
  • Estamos em constante processo de evolução e mudanças são normais. Em uma visita na elastic, tivemos uma grande conversar com o diretor de soluções Bill Warren e eles conseguiu nos trazer um grande (literalmente grande) exemplo disso. O símbolo de San Francisco, a Golden Gate. Ao passar pela Golden Gate, é normal encontrar latas de tinta nela. Isso porque, todo dia ela tá sendo pintada, é isso desde anos já. O motivo é simples, quando estão quase terminando de pintar o fim dela, o a tintura do começo já está defasada, é preciso começar tudo de novo constantemente.

Não tem como não escrever um grande clichê, agradecendo a ProJuris por me proporcionar esse conhecimento que levo pro resto da vida, tanto profissional quanto pessoal e que vou sempre compartilhar, e claro, agradecer a Macmagazine e iMaster por organizar essa experiência, que todos deveriam ter.

Por fim, o famoso “é lá é outro mundo”, não é tão distante assim. Acho que até às vezes é usado como desculpa (que confesso que eu mesmo por vezes já usei).

Comece a fazer algo e faça seu mundo ser igual ou até melhor do que qualquer outro.

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