Catarata: Um olhar quantitativo de uma estratégia centrada no paciente.
89% dos pacientes melhoraram a qualidade de vida após a cirurgia.
A catarata é uma patologia inevitável com a idade que afeta de forma muito negativa a qualidade de vidas das pessoas; a sua cirurgia é a mais realizada em todo o mundo e é das que mais impacto tem numa perspetiva custo-benefício. A questão que se colocou foi:
É possível aliar uma estratégia de racionalização de custos com a promoção da qualidade dos cuidados prestados, incluindo sempre a perspetiva do doente?
Foi para dar resposta a essa questão que surgiu o CAT.PT, um projeto nacional coordenado pelo Professor Joaquim Murta, do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, e no qual colaboram 12 instituições de saúde. Utilizando a plataforma da Promptly, estes hospitais monitorizam os resultados de saúde dos doentes e fazem benchmarking dos resultados, procurando melhorar os cuidados de saúde prestados.
A análise incorporou mais de 11 mil doentes. Os pacientes preencheram questionários antes e após a cirurgia, para avaliar o grau de incapacidade na vida diária relacionados com a visão, pela voz do próprio paciente.
Dos 11 mil, 89% reportaram uma melhoria significativa nas tarefas da vida quotidiana após a cirurgia. Em 85% dos casos, os doentes tinham uma acuidade visual antes da cirurgia inferior ao mínimo ideal para poderem conduzir (5/10). Após a cirurgia, 94% registaram uma capacidade igual ou superior a este patamar e 78% atingiram uma acuidade visual “normal” (10/10).
Nas palavras do Prof. Joaquim Murta, Diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra,
“Os sistemas de saúde baseados no volume estão desajustados e o futuro exige uma mudança de estratégia e atitude. Um modelo orientado para os resultados será aquele que, não só melhora a qualidade da saúde dos cidadãos, como também o tende a fazer com um menor investimento, assegurando a eficiência. O objetivo das instituições deve ser direcionado na avaliação e diferenciação dos “resultados”, com informação contínua aos clínicos e população em geral, permitindo aos doentes fazerem escolhas informadas.”
Lê o relatório na íntegra em:
Alguns outcomes a reter do relatório:
A pontuação média do questionário antes da cirurgia foi de -0,06 log (SD:1,86) e após a cirurgia -2,58 log (SD: 2,01). Pontuações inferiores deste questionário refletem menos barreiras à realização de atividades diárias, pelo que esta variação de -0.06 para -2,58 reflete uma melhoria após a cirurgia.
Cerca de 90% dos doentes reportaram, através do questionário CatQuest 9-SF, ter menos barreiras visuais após a cirurgia em comparação com o período pré-operatório. A proporção de doentes que apontaram ter mais barreira à realização de atividades diárias após a cirurgia, comparativamente a antes, foi de 10,37%, enquanto 1,33% não experienciou quaisquer diferenças (neutros).
As componentes em que os doentes reportam uma maior redução das barreira à realização de atividades diárias foram a satisfação com a visão e a capacidade de ler legendas na televisão.
Este é um caminho pioneiro que está a ser trilhado em conjunto com o Centro Hospitalar Universidade de Coimbra, o Grupo CUF, a Unidade de Oftalmologia de Coimbra- UOC, o Centro Hospitalar de São João, o Centro Hospitalar do Porto, o Hospital de Braga, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, o Instituto Gama Pinto, o Health Cluster Portugal, a Novartis, a Alcon, a Bayer e a Edol.
Este projeto tem como objetivo criar um sistema de benchmarking rigoroso e credível, em cirurgia de catarata, colocando o foco nos resultados obtidos, nomeadamente na ótica do próprio doente, e promovendo uma cultura de melhoria contínua numa cirurgia de alto volume, alto impacto na vida do doente, e nos custos do Sistema Nacional de Saúde.
Não pretendemos ficar por aqui! As prioridades para 2021 são ambiciosas e já estão definidas. O caminho a que nos propomos passa por:
- Expansão do projeto, com abertura a novos centros e novas patologias oftalmológicas, com prioridade à Degenerescência Macular da Idade (DMI);
- Benchmarking transparente e divulgação dos resultados à população;
- Incorporação de novas métricas para avaliar Outcomes em cirurgia premium (com lentes tóricas e/ou multifocais), quer na ótica do doente (PROM) quer do clínico (CRO);
- Informação da população, investigação e aprendizagem de erros, através de ciclos de melhoria e disseminação de boas práticas.