Catarata: Um olhar quantitativo de uma estratégia centrada no paciente.

89% dos pacientes melhoraram a qualidade de vida após a cirurgia.

Bárbara Ferreira
promptlyhealth
4 min readFeb 25, 2021

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A catarata é uma patologia inevitável com a idade que afeta de forma muito negativa a qualidade de vidas das pessoas; a sua cirurgia é a mais realizada em todo o mundo e é das que mais impacto tem numa perspetiva custo-benefício. A questão que se colocou foi:

É possível aliar uma estratégia de racionalização de custos com a promoção da qualidade dos cuidados prestados, incluindo sempre a perspetiva do doente?

Foi para dar resposta a essa questão que surgiu o CAT.PT, um projeto nacional coordenado pelo Professor Joaquim Murta, do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, e no qual colaboram 12 instituições de saúde. Utilizando a plataforma da Promptly, estes hospitais monitorizam os resultados de saúde dos doentes e fazem benchmarking dos resultados, procurando melhorar os cuidados de saúde prestados.

A análise incorporou mais de 11 mil doentes. Os pacientes preencheram questionários antes e após a cirurgia, para avaliar o grau de incapacidade na vida diária relacionados com a visão, pela voz do próprio paciente.

Dos 11 mil, 89% reportaram uma melhoria significativa nas tarefas da vida quotidiana após a cirurgia. Em 85% dos casos, os doentes tinham uma acuidade visual antes da cirurgia inferior ao mínimo ideal para poderem conduzir (5/10). Após a cirurgia, 94% registaram uma capacidade igual ou superior a este patamar e 78% atingiram uma acuidade visual “normal” (10/10).

Nas palavras do Prof. Joaquim Murta, Diretor do Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra,

Professor Joaquim Murta
Professor Joaquim Murta

“Os sistemas de saúde baseados no volume estão desajustados e o futuro exige uma mudança de estratégia e atitude. Um modelo orientado para os resultados será aquele que, não só melhora a qualidade da saúde dos cidadãos, como também o tende a fazer com um menor investimento, assegurando a eficiência. O objetivo das instituições deve ser direcionado na avaliação e diferenciação dos “resultados”, com informação contínua aos clínicos e população em geral, permitindo aos doentes fazerem escolhas informadas.”

Lê o relatório na íntegra em:

1º Relatório Anual CAT.PT

Alguns outcomes a reter do relatório:

A pontuação média do questionário antes da cirurgia foi de -0,06 log (SD:1,86) e após a cirurgia -2,58 log (SD: 2,01). Pontuações inferiores deste questionário refletem menos barreiras à realização de atividades diárias, pelo que esta variação de -0.06 para -2,58 reflete uma melhoria após a cirurgia.

Cerca de 90% dos doentes reportaram, através do questionário CatQuest 9-SF, ter menos barreiras visuais após a cirurgia em comparação com o período pré-operatório. A proporção de doentes que apontaram ter mais barreira à realização de atividades diárias após a cirurgia, comparativamente a antes, foi de 10,37%, enquanto 1,33% não experienciou quaisquer diferenças (neutros).

As componentes em que os doentes reportam uma maior redução das barreira à realização de atividades diárias foram a satisfação com a visão e a capacidade de ler legendas na televisão.

Este é um caminho pioneiro que está a ser trilhado em conjunto com o Centro Hospitalar Universidade de Coimbra, o Grupo CUF, a Unidade de Oftalmologia de Coimbra- UOC, o Centro Hospitalar de São João, o Centro Hospitalar do Porto, o Hospital de Braga, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, o Instituto Gama Pinto, o Health Cluster Portugal, a Novartis, a Alcon, a Bayer e a Edol.

Este projeto tem como objetivo criar um sistema de benchmarking rigoroso e credível, em cirurgia de catarata, colocando o foco nos resultados obtidos, nomeadamente na ótica do próprio doente, e promovendo uma cultura de melhoria contínua numa cirurgia de alto volume, alto impacto na vida do doente, e nos custos do Sistema Nacional de Saúde.

Não pretendemos ficar por aqui! As prioridades para 2021 são ambiciosas e já estão definidas. O caminho a que nos propomos passa por:

  • Expansão do projeto, com abertura a novos centros e novas patologias oftalmológicas, com prioridade à Degenerescência Macular da Idade (DMI);
  • Benchmarking transparente e divulgação dos resultados à população;
  • Incorporação de novas métricas para avaliar Outcomes em cirurgia premium (com lentes tóricas e/ou multifocais), quer na ótica do doente (PROM) quer do clínico (CRO);
  • Informação da população, investigação e aprendizagem de erros, através de ciclos de melhoria e disseminação de boas práticas.

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Bárbara Ferreira
promptlyhealth

Product Manager with a special interest in User Feedback and Data Driven Decisions.