Como Passei em Medicina

Guia definitivo para pré-vestibulandos ansiosos e/ou autodidatas

Amanda de Vasconcellos
O Prontuário
31 min readMar 31, 2020

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NOTA: nada impede que eu vá atualizando este post com o tempo, seja com observações que me venham à mente ou com perguntas, que vocês podem fazer aqui mesmo, por comentários, ou pelo meu Instagram.

Sumário:

  • [1] Ritmo de estudos
  • [2] TRI
  • [3] Redação
  • [4] Provas do Enem
  • [5] Perguntas de seguidores
  • [6] Links úteis

Olá, leitor(a)! Se você chegou a este post, imagino que você esteja estudando para passar em algum vestibular (ou você é meu amigo ou amiga e resolveu me dar uma força ❤). No momento em que esse texto é postado, você tem grandes chances de estar isolado(a) em casa em meio à pandemia de Covid-19. Calma, eu sei que está terrível. Eu sou obcecada com produtividade, mas nem eu ouso te dizer que essa é a hora de estudar desesperadamente para o Enem — ou seja lá qual vestibular você pretende fazer —, a incerteza é grande, ninguém sabe como vai estar o mundo em outubro. Certo, eu te entendo. Mas vamos dizer que você está no lado da cautela e quer estudar — vai que os vestibulares ocorrem normalmente. Fica aí a pergunta: e agora?

Você está com sorte. Meu nome é Amanda, sou estudante do segundo período de medicina na UFMG. Ao fim do meu terceiro ano, em 2018, passei em duas faculdades: PUC-MG e FCMMG. Posteriormente, no dia 18/03/2019, fui convocada na 5ª chamada da lista de espera para a UFMG. Você pode achar que estou me gabando, mas o que eu quero mais é demonstrar que tenho as “credenciais” para te dar dicas sobre vestibular. E a verdade é que eu não sou nem um pouco especial ou diferente de você: eu sou procrastinadora, desfocada, ocasionalmente desorganizada, totalmente desmotivada, e meu raciocínio é bem lento. Como, então, eu passei em três faculdades? Estratégia (do grego strateegia). E vou tentar te falar um pouco do que fiz.

Não vou aqui ser hipócrita e dizer que eu tive que lutar horrores pela minha vaga (eu não sou nenhuma Charlinha), mas também não posso chegar e dizer que foi a coisa mais fácil que eu já fiz na vida. Meu ponto de partida foi muito bom: eu estudei a minha vida inteira em colégio particular. Embora essa tenha sido uma vantagem enorme para mim, só a escola não me garantiu a vaga, caso contrário não existiriam cursinhos caros e imensos por todo o Brasil. O que eu penso é que a escola me deu a base — uma excelente base —, e o resto eu tive que correr atrás. Considerando que desde pequena eu tenho problemas de concentração quando falam comigo (ler um livro por horas a fio? Conte comigo. Acompanhar 5 minutos de conversa? Desculpa, pode repetir o que acabou de falar?), só as aulas não me bastavam: eu me perdia e recorria a uma boa dose de autodidatismo.

Aqui vou te dar, então, majoritariamente dicas de como estudar sozinho. Mas, antes de absolutamente qualquer coisa, te faço um apelo: seja cético quanto ao que vou te falar. A internet está cheia de gente que vai te contar a fórmula secreta para passar no vestibular, depois para conseguir o emprego dos sonhos, e depois para enriquecer sem sair de casa. Não vou te contar fórmula secreta nenhuma: vou te passar as minhas dicas para vestibulares, especialmente o Enem, que foi meu foco desde o começo do Ensino Médio. Eu e você temos, provavelmente, muita coisa em comum, mas também muitas diferenças entre nós. Cabe a você analisar o que se aplica e o que não se aplica à sua vida.

Eu convivi com muita gente competente ao longo dos meus anos de escola. E essas pessoas não eram só competentes, elas também eram sortudas: estavam num colégio bom, faziam cursinhos bons, compravam livros bons, etc. Convivi, basicamente, com gente nas CNTP, e, apesar disso, as pessoas que vi serem aprovadas nos vestibulares que queriam não tinham um padrão específico. Acredito que isso ocorra justamente por conta do monte de informações que nós recebemos ao longo da nossa formação: fica difícil filtrar o que vai e o que não vai ser útil.

Só para dar um exemplo, vou falar das pessoas que se formaram comigo e entraram no curso de medicina na menina dos olhos do estudante belo-horizontino médio: a UFMG. Para o primeiro semestre, entraram meu veterano-padrinho e uma menina de quem eu nunca tinha ouvido falar. Todos sabiam que ele ia passar para o curso que quisesse: sempre foi muito estudioso, tirava as melhores notas, e, nas horas vagas, tinha hobbies mais cultos que a média, como ler sobre filosofia. Já ela não era conhecida como “gêniazinha”. Quando conversei com uma colega de ensino médio sobre quem havia passado, ela me disse que a garota era inteligente, e só. Não frequentava tanto às aulas, provavelmente estudou em casa, e é isso aí. Já para o segundo semestre, entramos eu e meu melhor amigo: eu sou eu, e ele é um cara super inteligente para as exatas — tanto que sempre levou fama de gênio nessas áreas —, mas não sabia nada de humanas ou linguagens. Não chegou a afundar nessas áreas, mas o que permitiu que ele passasse foram as notas absurdamente altas em matemática e em ciências da natureza.

Espero que você tenha percebido que não há um padrão. Considero que todos nós fomos alunos dedicados, mas as semelhanças terminam aí. Agora veja bem: você está lendo conselhos de um ser humano absurdamente mediano que você encontrou na internet, um ser humano privilegiado e compulsivo. Sim, compulsivo: eu passei o meu terceiro ano alternando entre períodos quase inertes e épocas em que eu fazia facilmente umas quatro redações em uma semana e umas duas apostilas de matemática em um dia. Se você se parece comigo, que ótimo, pode tentar copiar minha não-rotina e, com sorte, vai dar tudo certo. Porém, se você não se parece, lembre-se: selecione quais dos meus conselhos são verdadeiramente úteis para você.

Você, amigo diferente, tem um ritmo de estudos diferente. Seus talentos são outros, e suas dificuldades também são. Não te digo para me ignorar, mas te digo para ser um pouco cético. E você, amigo semelhante, seja cético também. O que não faltam na internet são relatos de pessoas que passaram no ITA, em medicina, em direito, em Harvard, e todas elas te dão receitas do que fazer. Eu não quero te dar essas receitas, eu quero falar um pouco da minha experiência e dar alguns conselhos baseados no que eu sei. E, se você levar o que eu digo como verdade absoluta, você só vai ficar nervoso. Não leve relatos como verdades absolutas. Você provavelmente vai ouvir falar de quem estudou doze horas por dia, e de quem estudou uma hora por dia. Quem vai decidir seu ritmo é você, e não o estranho da internet. Não se cobre com base no que o seu primo, o seu vizinho fez. Encontre o seu ritmo, avalie a sua evolução.

Sem mais delongas, vamos começar.

[1] Ritmo de estudos

O que mais me perguntam quando começo a dar dicas sobre a minha aprovação no Enem é: “Como você estudava?”. De todas as perguntas que podem me fazer sobre estudos, essa é certamente a pior delas.

A verdade sobre o meu ritmo de estudos é que ele nunca existiu. Se você quer se inspirar nessa constatação para planejar seus estudos, volte duas casas e repense a decisão. Se você pulou a introdução, fica aqui o resumo dela: não confie cegamente em mim — ou em qualquer outra pessoa, especialmente se você acabou de conhecê-la pela internet. Ressalva feita, vamos supor que você, leitor, será responsável e vai encarar meu relato como o que ele é — um relato, jamais um método perfeito para ingressar na universidade. Dentro dessa suposição, que conselhos eu posso te dar no que se refere a ritmo de estudos?

Vamos por partes: em primeiro lugar, eu não acredito que apenas o preparo intensivo do terceiro ano seja suficiente para vestibulares muito concorridos. É preciso ter uma base, e construir essa base em apenas um ano é, no mínimo, mais exaustivo do que a maior parte das pessoas estaria disposta a aguentar. Não sou exceção: deixe os 50 anos em 5 para o JK, eu preferi estudar 3 anos em 3. Confesso, não fui excelente em cada ano do meu Ensino Médio (para ser sincera, nem no terceiro eu fui, o que já é assunto para outro texto), mas em todos eles eu consegui absorver bem ao menos as bases do que estava sendo ensinado. Com isso, precisei me esforçar muito menos no meu terceiro ano.

Em segundo lugar, eu acredito fortemente que planejamento ajude muito a diminuir o estresse. Foi o que fiz no início do meu terceiro ano, e, embora não tenha conseguido seguir meus planos originais até o Enem, foi importante ter uma noção de por onde começar. Já no início do ano, eu procurei a matriz de conteúdos do Enem e montei uma planilha, listando cada conteúdo, a qual disciplina esse conteúdo pertencia, e depois colori (erro meu, teria sido mais rápido imprimir a planilha a cores) de verde os conteúdos que eu dominava, de amarelo os que ainda precisava trabalhar, e de vermelho os que eu sequer lembrava. Não colori os conteúdos que ainda aprenderia no terceiro ano, o plano era colorir logo depois que eles fossem ministrados para avaliar minha aprendizagem, porém eu não cheguei a fazê-lo. Eu nem sei se ainda tenho a planilha, eu a abandonei. A matriz de referência que o Inep fornece é muito ampla, o que me deixou desorientada, então eu usei uma lista que o Stoodi fez dos conteúdos que caem no Enem. Também planejei marcar o que eu ainda precisava revisar e o que estava seguro, e também não finalizei as marcações.

Tudo isso me leva ao que realmente fiz para estudar. Ainda acho que organização teria me livrado de muito estresse e de muita insegurança, mas eu não segui minhas próprias metas. E, olhando em retrospecto, acho que foi melhor assim. De maneira ampla, o que aconteceu foi que a minha desorganização fez com que eu desistisse de fazer resumos e revisões e optasse por refazer exercícios à exaustão. Essa parte é generalizável: fazer exercícios é muito mais eficiente que qualquer revisão, então já inclua isso no seu plano de estudos.

Certo, então eu não segui um plano de estudos ao longo do ano, mas eu dividia meus dias de modo a estudar consistentemente sem me exaurir?

HAHAHAHAHAHAHAH

Não.

Eu estudava bastante, não vou negar, e você também deve estudar bastante, mas aquele papo de estudar X horas por dia, dividir X minutos para cada matéria foi algo que nunca fiz. De novo, não quer dizer que você não deva fazer: descubra o que funciona para você. Hoje em dia, tenho usado muito o método Pomodoro, que me ajuda a dividir meu tempo sem estresse exagerado, mas, no início, tudo o que esse método me causava era perda de concentração. O que funcionou para mim foi estudar todas as vezes em que eu tinha ânimo, ponto. Às vezes eu estudava em grupo, às vezes eu estudava sozinha, às vezes eu estudava no colégio, às vezes eu estudava em casa… Enfim, eu não segui uma rotina, e terminei o ano estressada, porque não é o melhor dos hábitos estudar de domingo a domingo e depois passar uma semana quase sem encostar nos livros. Esperar o ânimo para realizar tarefas também é uma péssima ideia, porque depois eu precisava colocar minhas obrigações em dia já com a corda no pescoço. Mas se você, como eu naquela época, tiver 17 anos, saúde mental questionável, e um apreço por adrenalina, confie no seu potencial: deixe tudo para a última hora.

Outra observação importante foi que eu comecei o ano prometendo para mim mesma que eu estaria presente em cada aula, mas chegou um ponto em que eu desisti. Foi bem no fim do ano que eu joguei a toalha oficialmente, mas eu percebi que não estava mais rendendo direito, e decidi que às vezes eu estaria melhor na biblioteca que em sala de aula. Sou uma pessoa bem autodidata, meu foco é melhor lendo que assistindo aulas, então para mim isso foi o melhor. Assistir aulas tem uma vantagem crucial que são os professores elencando prioridades por você. Eles sabem melhor o que é importante e o que não é (dentro da sua própria matéria, porque ao comparar a sua matéria às demais ele sempre vai pensar que ensina a mais importante de todas), e, se você resolver estudar a sós, vai ter o trabalho extra de fazer a seleção de conteúdos preferenciais. Qualquer trabalho extra pode ser interpretado como estudo extra, mas o importante é mais a qualidade que a quantidade de estudo, e essa seleção pode te cansar bem facilmente. Então você deveria frequentar suas aulas? Se você consegue aprender nelas, sim. Caso contrário, priorize estudar sozinho.

Para concluir — de maneira menos conclusiva que o ideal —, gostaria de reiterar o que disse no último tópico: descubra o que funciona para você, não caia na lábia de quem jura que encontrou o método universal para os estudos. Se esse alguém fosse mesmo esse messias acadêmico, ele teria 100% de aprovações. Em outra nota, esteja pronto para flexibilizar o que você tinha como certo. Eu achei que meu terceiro ano fosse ser o mais organizado da minha vida, e que eu ia chegar ao Enem com todos os conteúdos na ponta da língua, e com uma biblioteca de resumos. Não fiz tantos resumos, não sabia todos os conteúdos, não revisei tudo o que pretendia. Fui me adaptando, o que, confesso, não costumo fazer tão bem. Ache o seu método, mas saiba a hora de mudá-lo. Tenho colegas que fizeram rigorosamente todos os exercícios de suas apostilas, e nem todos estão onde queriam estar. Faça seu plano para se poupar do estresse, e refaça seu plano para se poupar da decepção — ou se decepcione mesmo que o plano inicial não era assim tão fantástico, tá tudo bem você cair algumas vezes no meio do caminho, desde que você tenha a humildade necessária para reconhecer a queda e se levantar em tempo hábil. Tenha noção do que pretende fazer para se preparar, dos seus objetivos para o futuro próximo, porém nem sempre ter uma ideia perfeita do longo prazo será útil, e nem sempre as X horas diárias que seu professor recomendou vão funcionar para você.

[2] TRI

A TRI é o sistema de correção das provas do Enem, que ninguém entende direito, eu acho. Tem milhares de sites que vão te explicar muito melhor que eu como ela funciona (e eu vou deixar este aqui linkado para você ler, se tiver caído neste post de paraquedas), mas entender mesmo, com profundidade, passando pelas equações, nem meu ex-professor nerd de matemática entendia. O que isso quer dizer, na minha opinião, é que ela passa a ser um adversário meio sacana, que consegue manter os segredinhos bem secretos, de modo que você não tem como desenvolver sua estratégia perfeita para lutar contra ele. Por isso, nesse post, eu vou falar da estratégia que eu usei. Para isso, vou deixar aqui minhas notas e desenvolver meu raciocínio em torno delas.

Considerando que a UFMG não dá pesos diferentes para cada nota, eu acabei ficando com 799,24. Não foi a nota ideal, mas acontece. Eu acredito que pudesse ter ido melhor, mas não fui, em parte por não seguir os conselhos que eu dei para mim mesma o ano inteiro. Por isso, este post pode ser resumido na frase: faça o que eu digo, não faça (tudo) o que eu faço. Na minha época de vestibulanda, meu sonho era um banco de dados com as notas e acertos de pessoas diversas no Enem. Fica aí a dica para quem tiver paciência, eu duvido que eu vá fazer isso durante o semestre letivo. Vai aí então a evidência anedótica desta que vos fala. Minhas notas foram:

  • 33 acertos (34, se contarmos a questão anulada) em matemática, nota 872,5;
  • 35 acertos em ciências da natureza, nota 749,9;
  • 37 acertos em linguagens, nota 682,3;
  • 40 acertos em ciências humanas, nota 751,5;
  • 920 na redação (detalho minha nota em cada competência no próximo tópico).

Como vocês podem ver, a TRI praticamente aleatoriza algumas das notas. Vamos falar de uma por uma, e da estratégia que eu usei para obtê-las.

Mais fácil de tudo é falar sobre a redação, que é a prova que mais foge do escopo dessa discussão. O que acho importante notar sobre a redação nesse momento é que ela é a única nota não afetada pela TRI. Isso não necessariamente significa que sua nota nela fica protegida do efeito “praticamente aleatorização”, até porque, embora os critérios de correção do Enem sejam bem rígidos, ainda é um outro ser humano, cheio de subjetividades, corrigindo um texto, mas uma das maiores vantagens da prova de redação é que, ao menos, você pode saber exatamente quais critérios serão empregados na correção. Eles são disponibilizados por volta de outubro no manual do candidato, que eu recomendo fortemente que você leia. Use esse recurso a seu favor, conhecimento é poder.

Agora vamos falar da nota de humanas, a mais alta em número de acertos. Creio que essa estratégia valha um pouco para linguagens também, mas vamos falar de uma prova de cada vez. Nessas duas provas a TRI aleatoriza muito as notas, e não parece ter muito como lutar contra isso. Em humanas, quanto mais conteúdo você souber, melhor. Quanto mais malícia você tiver para entender o que os textões querem dizer, melhor. Apesar disso, a sorte ainda é um fator na nota final. A maior arma que você tem é o estudo, não tente ser esperto e tentar adivinhar quais questões serão consideradas fáceis e quais serão consideradas difíceis na hora da prova. Responda todas com atenção absoluta, porque mesmo uma quantidade grande de acertos pode não garantir uma nota incrível. Por outro lado, lembra de não desesperar com a TRI. Se possível, não se desespere com nada, porém é especialmente importante você não pirar com aquilo que foge do seu controle. Estude muito, dê seu melhor, reze/faça uma promessa/faça uma meditação guiada/lance um feitiço/mentalize boas energias (se você tiver alguma fé), e é isso aí.

Linguagens é a outra prova na qual eu acredito que a melhor estratégia para lidar com a TRI é fingir que a TRI não existe. Eu nunca conheci ninguém que tivesse tirado mais de 700 nessa prova, mas as estatísticas dizem que esses indivíduos existem. Se você tirou 700, onde você vive? O que você come? Quais são seus rituais secretos? Não estou sendo irônica, comente sua dica. Como não fiz parte dessa minoria, sugiro que dê seu absoluto melhor, e não tente ser o espertinho que estuda só os temas mais errados para se destacar. Aliás, jamais seja esse espertinho, porque a TRI te penaliza se você errar assuntos fáceis e acertar os difíceis (não vão tirar pontos pelos seus acertos, mas você vai receber uma pontuação menor por eles). Em linguagens, os assuntos são considerados fáceis ou difíceis por uma margem pequena, o que acontece é que um estilo de questão é mais fácil que outro, e as questões misturam muito um estilo com o outro, fora as questões que são completo non sense. Dê seu melhor, tenha noções de estilos artísticos e literários, pratique a interpretação de texto, segura na mão de Deus, e vai.

Agora vamos à parte legal da prova. Tá, mais ou menos legal: ciências da natureza. Eu podia ter ido melhor? Podia, mas a nota que eu tirei foi mais consistente com a minha quantidade de acertos. Nessa prova, você está mais no controle, e o segredo é bem simples: comece pelo básico, e aprenda bem. Pronto, você não precisa saber cada detalhe de eletromagnetismo, quase ninguém sabe. Também não precisa saber o ciclo de reprodução completo das angiospermas, nem os cálculos mais complicados de pH. Você sabe bem sobre eletricidade? Sabe bem sobre a evolução das espécies? Sabe bem sobre equilíbrio químico? Começar por essas bases ajuda muito. Cansei de ver gente que era um oráculo das ciências naturais, mas você não precisa disso, até porque brincar de decoreba estressa qualquer um, e você vai querer muito evitar o estresse. Você é um nerd da química? Bem vindo ao clube, aposto que isso vai te ajudar muito! Contudo, se você for o estudante médio, não tente aprender o básico de tudo, dê prioridade a aprender tudo do básico. Depois disso, aprenda o intermediário, e depois vá para o avançado. Não tem problema se sua noção de temas difíceis for superficial, desde que você esteja com o fácil na ponta da língua. E outra coisa: lembre que a TRI leva em conta a maioria das pessoas, então procure os assuntos mais errados no Enem. Se você sabe muito de eletromagnetismo, embora ache cinemática dificílimo, é chato dizer isso, mas guarde para você. Não esqueça do eletromagnetismo, entretanto saiba que você vai ter que quebrar a cabeça com o D=VT, porque é essa equação que seus amigos sabem, e ser a reencarnação de Lorentz não vai adiantar nada se a TRI achar que seu brilhantismo foi chute.

Finalmente, a matemática. Se eu não fizesse medicina, eu provavelmente faria matemática. Foi a minha menor quantidade de acertos? Foi. Mas foi por um motivo simples, que você tem que repetir como se fosse um mantra: não perca tempo quebrando a cabeça com as questões difíceis. Você começou a fazer aquela prova maravilhosa, aí aparece um problema de logaritmos não trivial, e você, que ama matemática, quer porque quer acertar, e eu te digo: acerta em casa, primeiro termina as regras de três, senão você vai ter que fazê-las correndo no fim da prova. Por outro lado, preste atenção: matemática é a única disciplina em que a TRI pode realisticamente aumentar sua nota (a menos que você seja o ponto fora da curva que fecha linguagens, e eu fico feliz por você, todavia você continua sendo a exceção). Mesmo se você acertar pouco, sua nota pode subir, porque matemática é o ponto mais fraco do brasileiro médio. Talvez você mesmo seja o brasileiro médio, apanhando com matemática, e tá tudo bem, o importante é trabalhar para mudar isso. Por ser a disciplina mais difícil para a maioria dos seus concorrentes, você não precisa ser genial para ser acima da média. Use isso a seu favor. Como? Em primeiro lugar, administre bem seu tempo, não faça a bobagem de enguiçar em questão difícil. Em segundo, treine, faça muitos exercícios, faça exercícios até o seu limite. Acredite, isso vai te salvar.

Por fim, queria ressaltar a observação de que minhas notas não foram perfeitas, porque, mesmo sabendo o que eu deveria ter feito, eu não sou uma máquina (embora eu quisesse muito ser), e, assim, cometo erros. Talvez minha própria estratégia tenha sido um erro, o que não me parece ser o caso, mas, como falei na introdução deste texto, sejam céticos, não é porque ela funcionou relativamente bem para mim que ela vai funcionar para vocês. A questão é: vocês também vão cometer erros, e tá tudo bem. Talvez só te chamem na 5ª chamada (foi meu caso), já que sua estratégia não é perfeita. Ou talvez você tenha a estratégia perfeita, mas não consiga seguí-la. Ou você vai seguir a estratégia perfeita, mas vai ocorrer algum contratempo. Tá tudo bem, cara. Dê seu melhor: se tirar 850 e aparecer na traseira de ônibus por ser o primeiro lugar na sua faculdade de escolha, parabéns. Se passar raspando, parabéns também! Não pirem em ser perfeitos, porque por mais que a TRI sacaneie com a nota de muita gente, ela dá muita chance para a imperfeição.

[3] Redação

Eu detesto a redação do Enem, um posicionamento no qual não pareço estar sozinha. No colégio onde estudei, começamos a trabalhar textos dissertativo-argumentativos no 9º ano, e o que parecera inicialmente algo interessante para expressar meus posicionamentos tornou-se rapidamente um martírio. Talvez eu tenha, depois de ser aprovada na UFMG, feito um barquinho de papel com uma redação antiga. E, talvez, eu tenha afundado esse barquinho propositalmente. Talvez isso tenha sido filmado. Talvez isso esteja em algum lugar da internet. Talvez eu precise crescer. Talvez.

Isso dito, gostaria de deixar clara minha maior estratégia para tirar uma nota boa na redação do Enem: raiva e cinismo. Não me entendam a mal, 83% dos meus melhores amigos (eu perguntei) me acham fofa, mas essa é uma prova que me deixa brava desde o 1º ano. Fiz, então, o que costumo fazer com as disciplinas que me tiram do sério:

Ah, então você acha mesmo que vai me sacanear, redaçãozinha? Você é absurdamente patética. Você é uma receita de bolo, não pense que eu tenho medo de escrever 30 linhas de formulinha. Esteja avisada que eu vou escrever essas 30 linhas. Semanalmente. Aliás, mais de uma vez por semana. Eu vou fechar essa maldita prova e nunca mais ter que sequer olhar para qualquer folha de papel que lembre minimamente você.

Antes de mais nada, eu não fechei a redação, tirei 920. Minha competitiva interior ficou brava com isso, mas, sejamos racionais, esse foi um bom resultado. Minhas notas foram:

  • 180 na competência 1 (domínio da escrita formal da língua portuguesa);
  • 200 na competência 2 (compreender o tema e não fugir do que é proposto);
  • 200 na competência 3 (selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista);
  • 180 na competência 4 (conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação — vulgo coesão e coerência);
  • 180 na competência 5 (proposta de intervenção).

Eu posso eventualmente juntar várias das minhas redações e dar dicas sobre como elaborei minha linha de raciocínio em cada uma delas. Você teria interesse nisso? Comente, por favor. Pode ser útil para dar uma ideia do que fazer, lembrando que o que funcionou para mim pode não funcionar para você, especialmente quando estamos tratando de algo tão subjetivo quanto processo “criativo” (como se a redação do Enem desse espaço para criatividade. Crie um blog se quiser ser criativo/a, não tente fazê-lo na redação do Enem, eu imploro).

Se quiserem uma dica que se aplica a qualquer tema de redação que o Enem pode cobrar, fica aí: pratiquem. Sempre que tiverem tempo e disposição, escrevam uma redação. Comecei meu terceiro ano escrevendo três redações por semana, e uma colega minha estava escrevendo cinco. Evidentemente, nenhuma de nós duas conseguiu manter esse ritmo, e eu acho que foi melhor assim. Exagero teria nos levado à exaustão, e pessoas exaustas, em sua maioria, não estudam. Depois de três redações por semana durante, não sei, um mês, eu fiquei um bom tempo sem conseguir pensar em escrever sequer uma linha, o que creio que seja contraproducente. Eventualmente, consegui estabilizar meu ritmo em uma redação por semana (às vezes mais, às vezes menos), o que acho que seja o ideal para a maioria das pessoas. Assim, você terá tempo de receber a correção de sua última redação antes de começar a próxima, e então poderá trabalhar nos seus erros.

Nesse tópico da correção, é muito importante que você encontre alguém que corrija suas redações, e é importante que esse seja um corretor criterioso. É difícil definir exatamente quem é o corretor ideal, até porque a própria redação do Enem não é corrigida por máquinas, mas sim por humanos, que vão, inevitavelmente, colocar suas subjetividades na hora da correção. Imagine ler cerca de cem textos maçantes escritos por jovens em um dia, imagine ter cerca de três minutos para cada texto. É impossível esperar que a correção de cada um deles seja idêntica, e evidentemente nem todas as correções seguirão à risca o que preza a cartilha do Enem. Nesse caso, quem é o corretor ideal para a sua redação? Eis o que eu procuraria:

  1. Constância. Não adianta você conseguir o melhor corretor do mundo se ele precisar sempre de três semanas para corrigir cada texto. Você não tem esse tempo todo.
  2. Experiência. Nem sempre é possível conseguir um corretor experiente, mas faça o melhor para conseguir alguém que, pelo menos, trabalhe há um tempo razoável com pré-vestibular. O ideal, nesse quesito, é procurar alguém que trabalhe como corretor nas próprias provas do Enem, mas nem sempre isso é possível, e eu nem tenho certeza se é permitido pela lei.
  3. Segurança. Não procure o corretor que te traz “o grande segredo que ninguém te conta sobre a redação do Enem”, ou o que jura de pés juntos que não basta escrever corretamente, pois há um critério secreto que exige que você use um português machadiano para ser aprovado. Procure aquele cara que conhece bem as regras colocadas pelo MEC na cartilha, e é isso.

“Muito legal, Amanda! Onde eu vou encontrar esse corretor?” — você me pergunta. Vou ser sincera e te dizer que não tenho certeza. A maior parte dos cursinhos — online ou presenciais — tem corretores que preenchem a todos esses critérios, então essa é uma boa pedida. Há também serviços online de correção de redações, mas nunca usei nenhum deles, então não posso dar uma sugestão baseada em experiência. Se você já usou, comente! Posso compilar uma lista de profissionais confiáveis.

Então certo: você está treinando constantemente a sua redação. Como você faz para melhorá-la? É aqui que descreverei as estratégias que usei, competência por competência. Todo ano, o MEC libera, próximo à data do Enem (é melhor, então, que você comece a estudar pela cartilha do ano anterior) a Cartilha do Participante, que tem todas as informações sobre como cada aspecto será corrigido. Vamos a cada um deles:

A primeira competência é o conhecimento da modalidade padrão da língua portuguesa. O limite de erros que você pode cometer em ortografia ou gramática é alterado todos os anos, e não sei como ele está agora. O que posso dizer é que sua escrita não precisa ser perfeita para que você consiga seu objetivo. Já se você não pretende tirar menos de mil nessa prova, é melhor que seja, no mínimo, excelente. Para os comuns dos mortais, porém, é perfeitamente aceitável ficar abaixo de 200 nessa primeira competência. Como a redação é uma das mais importantes notas do Enem — senão a mais importante — , é importante que você se garanta no máximo de aspectos possíveis. É possível conseguir 160 na competência 1, faça disso um de seus objetivos. Como conseguir essa nota? Eu diria que prática é a melhor opção, e, para além disso, tente aprender as regras gramaticais por trás dos seus erros mais frequentes. Se, por exemplo, suas redações frequentemente recebem comentários de que você está errando a crase, por que não procurar as regras para a crase? Sim, é decoreba. É um esforço consciente para prestar atenção nisso ou naquilo enquanto escreve, é manter um bloco de notas com os erros que você mais comete e ir revisando. É chato, mas vale a pena.

A competência 2 e a competência 3 são bastante relacionadas entre si. Ambas são o que compõem a argumentação do texto, e reza a lenda — contada por todos os professores de redação que já tive — que é raro que uma receba nota diferente da outra. Na prática, você precisa mobilizar conhecimentos de várias áreas para argumentar para a sua posição. Dá para fazer um texto inteiro sobre estratégias argumentativas, mas tentarei fazer um resumo:

  • Entenda bem o que o tema está pedindo. Vou dar o exemplo da redação de 2015: o tema era persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira. Não era falar simplesmente da violência contra a mulher, ou falar da violência contra a mulher ao redor do mundo. O tema exigia que você falasse dessa violência no contexto da sociedade brasileira, e de como ela não tem desaparecido.
  • Estabeleça sua posição antes de começar a escrever. É preciso que esteja claro qual dos lados da discussão você vai tomar na hora da sua redação. Você pode ser a pessoa mais moderada do mundo, mas, na hora da redação do Enem, não fique em cima do muro: queime o muro. Isso não quer dizer que você precisa tomar posições extremas, não estou pedindo que você sugira uma revolução proletária para solucionar a desigualdade no Brasil. Estou pedindo que você não perca linhas do seu texto falando “Veja bem, é um tema muito complexo, por um lado há quem diga isso, pelo outro há quem diga aquilo, e os dois lados têm contribuições válidas para o debate…”. Defina qual será sua posição, e siga com ela. Se for para mencionar posições opostas, que seja para dizer “Embora fulano diga isso, ele está errado, por causa disso”.
  • Escolha alguns poucos argumentos e desenvolva-os bem. Gostava de estruturar minhas redações em quatro parágrafos: uma introdução, dois parágrafos de desenvolvimento, e um parágrafo de conclusão. Uma estrutura interessante é apresentar na introdução uma problemática, e já dizer quais serão os argumentos usados (“O problema é esse, e podemos analisá-lo levando em conta esse e aquele argumentos”). Nos parágrafos seguintes, use cada parágrafo para desenvolver um argumento.
  • Não inclua citações que você não pode correlacionar com sua argumentação. O Enem exige que você argumente mobilizando conhecimentos de outras áreas, e muita gente acha que isso quer dizer colocar uma penca de citações de filósofos, citar trinta mil teóricos políticos, coisas nesse naipe. Bom, você pode fazer tudo isso, mas não é a melhor opção. O que é avaliado na redação do Enem não é sua capacidade de citar o máximo possível de pessoas inteligentes que concordem com a ideia que você está defendendo, é a sua capacidade de dar substância aos seus argumentos. Dizer “No Brasil tem racismo porque a gente já teve escravidão” é um argumento fraco, contar a história da escravidão (resumidamente, por favor) e ir correlacionando pequenas anedotas com casos de racismo recentes que tenham sido evidenciados pela mídia é mais interessante. E, no Enem, essa substância não precisa vir só de pessoas inteligentes: você pode usar exemplos históricos, notícias recentes (desde que notórias), até cultura pop para dar substância ao seu argumento. Na minha redação do Enem, eu citei um episódio de Doctor Who do qual nem os fãs costumam gostar. O corretor gostou.
  • Não invente moda. Essa dica se parece muito com o meu pedido de que você não sugira uma revolução proletária na hora da redação do Enem. Você vai ouvir dos Zé Cruzadas da internet que você precisa esquerdar para ir bem na redação do Enem, e eu pessoalmente não acho que seja esse o caso. O que eu acho é que você tem que conter suas opiniões ao que é estritamente socialmente aceitável, e o motivo é simples: em qualquer discussão, os argumentos são construídos à base de premissas, e supõe-se que ambas as partes estejam de acordo que essas premissas são verdadeiras. Se você baseia sua redação em algo que é socialmente aceitável, você não precisa perder tempo estabelecendo suas premissas. Se o tema de uma redação é, por exemplo, políticas públicas para reduzir o uso de drogas, parte-se da premissa que o uso de drogas é um problema, e a partir dessa premissa você pode construir sua argumentação. Se, por outro lado, você quiser argumentar que o uso de drogas é uma prerrogativa do indivíduo, não sendo responsabilidade do estado impedir que ele faça mal a si mesmo, e que, independentemente disso, a guerra às drogas é uma política inerentemente falha, boa sorte. Dez linhas já vão embora enquanto você defende o direito do seu vizinho de chapar numa rave, e, depois disso, você ainda tem que argumentar sobre como a sua ideia de acabar com a guerra às drogas pode, na realidade, ser benéfica para o combate à dependência.

Falha da guerra às drogas à parte, vamos falar de coesão e coerência. O que eu acabei de fazer é um exemplo do que você não deve fazer na sua redação. Não tem sentido lógico (quase) nenhum eu pular de propaganda libertária subliminar para coesão e coerência, essa foi uma transição abrupta e quiçá incoerente. O que você deve fazer é planejar o seu texto de modo que a consequência lógica do que você enunciou numa frase seja a frase seguinte. Ah, e faça isso usando conectivos. Muitos conectivos. Tantos quanto você conseguir enfiar. O Enem adora isso. “Quais conectivos, Amanda?” — você me pergunta. E eu te respondo: estes aqui. De nada.

Por fim, antes que eu comece a chorar em solidariedade a todos os vestibulandos que ainda têm de fazer esta porcaria de redação (desculpa), encerrarei falando da proposta de intervenção. Eu posso te explicar como ela funciona, coisa que a internet já fez por mim, ou dar a receita que eu usei (e funcionou). Você não precisa de mais de uma proposta, só uma já é mais que suficiente. Termine seu texto falando:

Desta maneira (ou algo do tipo), torna-se evidente que é preciso que ocorra [insira aqui o que precisa acontecer]. Tendo isso como finalidade, o [insira aqui quem vai fazer] deve, por meio de [insira aqui como vai ser feito], fazer [insira aqui o que vai ser feito], com ênfase em [insira aqui alguma firula para chamar de detalhamento].

Não tem muito além disso para fazer. Olhe para a redação como um obstáculo a ser transposto, isso me ajudou bastante.

[4] Provas do Enem

Este seja, talvez, o tópico mais importante deste guia. Tá, Amanda, eu sei como a TRI funciona, eu sei como organizar meus estudos, e eu sei que eu não deveria tomar sua palavra como verdade absoluta. Mas como eu estudo para o Enem? Bom que perguntou!

Neste ponto, acho que a estratégia que desenvolvi é bem específica ao Enem, mas, spoiler: o centro dela é a repetição de exercícios — sejam oriundos de simulados ou de provas antigas —, e isso deve funcionar para qualquer prova que você pretender fazer na vida. Sim, essas provas mudam todo ano, mas dificilmente o estilo das questões muda muito. Na minha época (como se isso tivesse sido um século atrás), a prova andava ficando mais conteudista a cada ano, ou seja, exigindo um conteúdo mais específico, e não algo que pudesse ser resolvido com um pouco de conhecimento e raciocínio. Vamos falar disso, tenha calma.

A primeira prova da qual quero falar é a minha menina dos olhos: matemágica. Me chamem de louca, porém fazer problemas matemáticos foi se tornando terapêutico para mim ao longo do Ensino Médio e, chegando na faculdade, poucas coisas me aliviaram mais do que ter que fazer contas em genética semestre passado e em biofísica nesse semestre. Sim, eu sou enviesada, mas aqui está o segredo para matemática: não tem segredo. Você precisa entender alguns conceitos básicos em matemática, e essa é uma parte comparativamente curta do aprendizado. Vou te dar a minha sugestão pessoal: antes de qualquer coisa, faça um resumo, ou, como dizia um professor que tive na 9ª série (abraço, Marcão!), uma cola. É, isso mesmo: pense consigo mesmo o que você colocaria numa cola se pretendesse colar no Enem (mas, por favor, não faça isso, é extremamente pouco provável que você tenha sucesso). Fórmulas, propriedades, conceitos básicos… Não importa se vai caber em uma folha de papel ou em várias, se você vai fazer em post-its ou em uma planilha de Excel, o importante é que você tenha o seu material de consulta rápida. Eu recomendo que aí você inclua absolutamente tudo que aprendeu em matemática: mesmo as fórmulas que você não entende bem, mesmo os conteúdos que raramente caem.

Certo, você tem em mãos sua cola de matemática. O que você faz agora? Exercícios. Exercícios, exercícios, mais exercícios, e… Eu já falei exercícios? Certo, você não vai se restringir a fazer exercícios logo de imediato. Dê uma olhada na sua cola: o que dela você não entende? Você entende o que cada uma das fórmulas quer dizer? E com isso não digo saber que é o a, o b, e o c em Bhaskara: você entende o que esses números representam? Você sabe por que é assim? Você consegue ter pelo menos uma ideia de como é a dedução? Sim, isso tudo parece abstrato, inútil, e chato, mas garanto que ajuda: isso faz uma diferença surreal na compreensão. Analise cada partezinha do seu material de consulta e anote quais são as lacunas no seu conhecimento. Então vá pesquisando: procure videoaulas, guias escritos… Você vai achar vários desses na internet, a maioria totalmente de graça. Como matemática é uma disciplina mais técnica, eu considero especialmente importante que você compreenda tudo. Não, você não vai se lembrar de cada mísera fórmula, de cada detalhe… Mas você vai se lembrar do geral, e isso eu te garanto que será suficiente. Então você vai fazer exercícios, e todos que você errar você vai procurar entender por que errou. Você vai fazer exercícios à absoluta exaustão. É isso: repetição, exercícios, não tem fórmula mágica.

Para as provas de ciências da natureza, em química e física eu recomendo exatamente a mesma estratégia que eu usei para matemática. Muita gente tem aversão às fórmulas, porém eu acho que ressignificá-las é um ato que, ainda que pareça pequeno e simbólico, na realidade ajuda muito. Quando olhar para aquela fórmula, não veja um punhado de números desconectados daquilo que você está estudando, úteis apenas para resolver exercícios. As equações na física e na química nada mais são do que uma descrição do que está acontecendo na natureza. O que você precisa de um parágrafo para explicar em palavras pode ser compreendido com duas linhas de equação. Se você conseguir olhar para os números desse modo, ouso dizer que pelo menos um terço do caminho já está percorrido. E aí você vai fazer o mesmo que fez para matemática: faça a cola, preencha as lacunas, e faça exercícios. Sim, a matéria é muita, ela é extensa, você vai esquecer parte dela, mas os exercícios vão te forçar a aprender o que é mais importante.

E vamos para a biologia! Eu não sei o que eu fiz para biologia. Sério, eu não sabia biologia, juro que não sabia. Doenças e corpo humano? Bioquímica? Sim, era comigo mesmo, mas qualquer coisa diferente disso era uma lacuna forte no meu conhecimento. Eu estudei pela repetição, pelos exercícios, para tentar entender a malícia das questões. Em geral, isso foi o que me ajudou mais no Enem: eu sou uma pessoa com facilidade para enxergar padrões, então fazer exercícios à exaustão me ajudou em todas as provas. Fui percebendo como cada assunto era cobrado, e então eu comecei a acertar mais do que se esperaria ao acaso, mesmo que eu não soubesse cada detalhe do que estava sendo perguntado. Mas, evidentemente, eu não era ignorante por completo: eu sabia o que era ensinado no colégio… Em linhas gerais. Se você, como eu, teve acesso a um bom colégio, isso deve ser conteúdo suficiente para a maior parte das disciplinas do Enem (o resto é malícia, é perceber os padrões após fazer zilhões de exercícios). Se, por outro lado, você não teve esse privilégio, eu pessoalmente recomendaria procurar videoaulas ou resumos de todas as matérias e, quando concluir o estudo delas, espere um tempo e faça um autoteste. Vá estudando e, durante seus estudos, elabore perguntas para responder em uma ou duas semanas. Isso deve te ajudar muito.

Por fim, empreguei a mesma estratégia tanto para humanas quanto para linguagens: fiz com essas disciplinas o mesmo que fiz com a biologia. A diferença crucial é que essas duas provas são menos conteudistas que a de ciências da natureza. Não me entenda errado: não sou defensora da tese que você não precisa saber nada para fazer o Enem, que basta saber interpretação de texto. Não basta, e é extremamente provável que essa mentalidade vá te sabotar. A questão é que as questões nessas matérias parecem, às vezes, terem sido todas escritas pela mesma pessoa. O estilo de cobrança, a viagem que elas fazem em torno do texto de apoio (que, diga-se de passagem, você deveria ler. Sim, leia primeiro a pergunta propriamente dita, mas não caia na ladainha segundo a qual o texto é inútil. Pode ser e pode não ser, e isso você só descobre lendo)… Segue um padrão. Então fica de novo o recado: faça exercícios. Na dúvida, faça exercícios. Procure exercícios pela internet, refaça as provas antigas do Enem, pegue os simulados do seu amigo que faz cursinho, não importa como: faça exercícios. Se você for extrair apenas uma informação deste guia, extraia esta: faça exercícios, e repare no padrão que eles seguem.

[5] Perguntas de seguidores

Como não esquecer o conteúdo até o Enem?

Não adianta: você vai esquecer uma coisa ou outra, a questão é saber o que você pode e o que não pode esquecer. Minha sugestão é não se preocupar em ter entendimento/memorização perfeita de cada mísero assunto que pode cair na prova. Uma compreensão geral de tudo, mas compreensão profunda só dos assuntos que caem mais.

Tá, e como lembrar desses assuntos? Repetição. Não tem outro jeito: é ir repetindo, repetindo, e repetindo. Acho simulados (e provas antigas) bem eficientes para isso, porque invariavelmente você vai entrar em contato sucessivas vezes com o mesmo conteúdo, mas você pode construir o seu método: post its? Leitura de resumos? Flashcards? Fica a seu critério.

Autoteste, seja por meio de simulados ou de flashcards, é a maneira mais eficiente de reter conteúdo, porém eu sou da linha que não adianta nada se empenhar em fazer 30 mil decks no Anki se você realisticamente tem mais chances de reler o mesmo resumo 10 vezes em lugar de diariamente revisar seus flashcards. Como saber o que é realista? Autoconhecimento, e tentativa e erro. E você vai errar, e você vai esquecer uma matéria ou outra. O que eu tenho a te dizer é: relaxa, aceita isso, dificilmente você vai evitar esses dois problemas, se concentre em trabalhar naquilo que pode ser trabalhado de fato.

[6] Links úteis

Obrigada por ler esse texto! Eu adoraria saber o que você achou nos comentários, e, se gostou, por favor, dê seu “aplauso” (de 1 a 50) aqui embaixo. E, falando sério, por mais que eu odeie o Enem e pense nele como uma época triste da minha vida, eu conheço a ansiedade de se sentir desorientado, e é por isso que estou escrevendo sobre as estratégias que usei para estudar. Não hesitem em me perguntar qualquer coisa sobre esse tema — este post vai estar eternamente em construção, e a função única dele é que ajude você —, e cliquem aqui para me encontrar nas redes sociais e não perderem os próximos posts :)

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