Neste dia das mulheres, homenageie à mulher da sua vida: você

Amanda de Vasconcellos
O Prontuário
Published in
6 min readMar 8, 2020

Antes de começar este texto, eu gostaria de desejar o meu feliz dia das mulheres a todas as mulheres que me inspiram: amigas, parentes, colegas, professoras, influenciadoras… Seria difícil citar todas as mulheres a quem admiro sem me esquecer de nenhuma, então eu gostaria de agradecer universalmente a todas aquelas para quem olho e penso: “Eu quero ser como você”.

E o que faz com que essas mulheres sejam, para mim, tamanhas guias? Há várias mulheres por quem nutro profunda admiração, e essa é uma das melhores sensações do mundo. Olhar para os feitos da capacidade humana e ter o ímpeto de reverenciá-los, sentir-me capaz de também, um dia, poder acrescentar as minhas contribuições ao rol de proezas da humanidade, ainda que numa escala pequena… Isso me dá propósito. E quando esse propósito me é dado por alguém semelhante a mim, se torna mais forte minha crença na minha própria capacidade. Se, afinal, com todos os desafios que seu gênero impôs às grandes mulheres elas conseguiram façanhas, eu também poderei conseguí-las um dia, e pretendo continuar lutando. E, aqui, deixo uma das minhas citações favoritas, senão a favorita:

A questão não é quem vai me permitir, é quem vai me impedir — Ayn Rand

Talvez muitos de meus leitores não conheçam Ayn Rand, e ainda pretendo escrever um pouco sobre sua obra neste blog. Tenho sérias críticas à sua filosofia, mas, no cômputo final, admiro profundamente a boa parte da trajetória de Rand, e sou especialmente grata à motivação que consigo derivar dela. E o que extraio dessa frase é o que venho tentando voltar a aplicar em minha vida: correr atrás do que quero, sem depender da aprovação alheia. Estou voltando a construir em mim um valor que inspirou a maior parte das decisões das quais me orgulho: o individualismo.

Individualismo? Isso quer dizer que eu pense apenas em mim mesma? Nem de longe. Eu me importo — e muito — com as outras pessoas. O que quero, então, dizer quando digo que estou voltando a me tornar uma pessoa individualista? E o que isso tem a ver com o dia das mulheres?

Há uma característica que frequentemente vejo em outras mulheres: o cuidado. Não quero, com isso, dizer que mulheres devam apenas se dedicar ao cuidado, ou que mulheres que não se identifiquem como cuidadoras são menos mulheres, ou que homens não possam ser cuidadores… O que digo é que o cuidado não é associado em vão ao feminino. Seja pela biologia, seja pela construção social, as mulheres por quem me guio são, em sua maioria, pessoas doces, preocupadas, gentis, empáticas — ou, ao menos, simpáticas —, e que não poupam esforços para colocar um sorriso nos rostos de outras pessoas. E isso lá é um defeito? É maravilhoso. Não importa o motivo: nosso gênero foi abençoado com um tato para as necessidades do outro. Até mesmo em posições de liderança essa doçura feminina, totalmente contraditória à figura de um poderoso chefão, parece ser uma vantagem. Tenho trabalhado com líderes cuidadosas, boas comunicadoras, que mesmo quando precisam ser rígidas conseguem fazê-lo de modo compassivo. Me parece que, ultimamente, a tendência tem sido exaltar esse tipo de capacidade interpessoal, por mais que esse jeitão de menininha tenha sido tão menosprezado no passado. Se há, então, uma característica tradicionalmente feminina que nós, mulheres, deveríamos preservar a todos os custos, eu diria que ela é o cuidado.

E então chego à outra parte desse texto: o individualismo. O que é individualismo? Seria pensar somente em si mesmo? De modo algum: isso é egocentrismo, e ninguém consegue aturar um egocêntrico. É claro, em última análise, todos pensamos mais em nós mesmos que nos outros, porém é um consenso que Narciso, cheio de si a ponto de se afogar no próprio ego, é uma figura nada admirável. Ser individualista é reconhecer que cada indivíduo é único, dotado de faculdades racionais, e que, portanto, tem seus próprios pensamentos — e direito de exercê-los livremente, conquanto não impeça outros indivíduos de fazê-lo. E creio ser lógico afirmar que um verdadeiro individualista não teria interesse algum em prejudicar a outrem: se, afinal, o outro é, como eu, alguém dotado de razão, sonhos, história, alegrias, tristezas, laços, ideias, erros, acertos… Por que eu o prejudicaria? Por que eu agiria para prejudicar alguém se esse alguém é, por definição, um ser de infinita dignidade? Ser individualista é reconhecer as diferenças humanas, a responsabilidade de cada um por si mesmo, e ver em cada vida uma dignidade imensurável. Creio, pessoalmente, que àquele que crê intensamente no valor de uma vida humana é impossível fugir da benevolência. Sou uma mulher cuidadosa, preocupada, e, quem sabe, gentil, porque consigo ver na humanidade uma série de virtudes. Como fugir do ímpeto de enxergar toda essa virtude atingindo seu ápice? Como fugir do ímpeto de lutar pela grandeza, pelo sonho de ter cada vez mais obras humanas que possam ser admiradas?

Por outro lado, a nós, mulheres, mesmo que individualistas, é quase inescapável a armadilha da fragilidade. Se nosso gênero nos abençoa com compaixão, também ele nos amaldiçoa com a infantilização. Somos constantemente postas em xeque, temos nossas capacidades questionadas a cada instante, e mesmo outras mulheres constantemente parecem olhar umas às outras como se falassem com alguém inferior. Nossas virtudes são constantemente menosprezadas, as habilidades associadas ao feminino são desprezadas. O que se associa aos homens, se associa ao poder, e às mulheres parece restar a eterna desconfiança. Temos de ser o dobro do que são os homens para sermos vistas como iguais, e, ainda assim, corremos o risco de, ao longo de todas as nossas vidas, sermos tratadas como inferiores. Ainda que tenhamos progredido enormemente, e que a igualdade civil tenha sido alcançada, ainda há muito a ser feito das sutilezas da sociedade. Na hierarquia social, nós, mulheres, somos frequentemente colocadas um degrau abaixo de nossos colegas homens.

Por isso tudo, mulher, hoje te faço uma proposta, não apenas para o dia da mulher, mas para sua vida: muitos querem te impedir — será que você é um desses muitos? Será que você tem impedido a si mesma? A sua compaixão é só para os outros ou você cuida também de si? Você sente culpa ao preocupar-se com suas próprias necessidades? Você, mulher, que desejou um feliz dia das mulheres a todas as suas amigas, fez o mesmo desejo a si mesma? Você que consola aos sofrimentos de todos ao seu redor, consegue consolar a si mesma, ou carrega frequentemente as cruzes do mundo, e se culpa por todo o mal que te ocorre? Mulher, você se permite?

Então te peço, mulher: comemore o dia das mulheres, mas, sobretudo, o dia da mulher, dessa mulher que é você. Independentemente de cor, classe, credo, orientação sexual, capacidade intelectual, de todas as suas falhas, reconheça o quanto você é capaz. Reconheça o quanto cada uma de suas vitórias pertence a você. Lembre-se de que é uma lutadora, e que suas conquistas são suas. Ninguém, ninguém pode menosprezar seus esforços e atribuí-los à sorte. Ninguém pode tirar de você seus méritos. E você, mulher, passou por tanto para chegar até aqui. Não importa quem você é hoje, você se construiu. A pessoa que você se tornou é resultado da sua batalha, e você é dotada de tantas virtudes que o mundo se recusa a enxergar! Trate-se, hoje e sempre, com todo o carinho com o qual você trata seus semelhantes. Não pise em si. Mulher, me diga: quem vai lhe impedir?

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