Quando Escrever Vira Questão de Disciplina

Qualquer hobby exige certo esforço, mas nem sempre o esforço parece valer a pena

Amanda de Vasconcellos
O Prontuário
5 min readOct 11, 2020

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Eu não queria escrever este texto. De verdade, passei por uma semana pouco empolgante, sem muitas ideias de temas, e me deparei (obrigada, algoritmo) com uns vídeos sobre The Sims que me deram uma nostalgia gigantesca. Eu não sabia sobre o que falar, preferia estar jogando. De qualquer forma, isso não é uma reclamação. Estou, por opção prória, trazendo conteúdo mais uma semana, e quero falar sobre o porquê disso.

Meu guru me diz constantemente que, na internet, a ordem de prioridade ao postar deve ser: frequência, conteúdo, e forma. Tenho certeza que há controvérsias nesse assunto, porém, como não sou nem um pouco boa em marketing, prefiro confiar em quem entende. Um dos meus motivos para continuar escrevendo tem sido, então, manter a frequência. Meu público, por menor que seja, espera que eu entregue algo novo todos os domingos. Se eu decepciono meu público, é uma questão de tempo até que eu não possa mais chamá-lo de meu.

Só que evidentemente eu não comecei este blog com uma visão puramente estratégica, de como atingir o máximo número de pessoas e manter essa audiência. Por mais que hoje eu tenha um apreço e respeito muito grande por quem é meu leitor, eu comecei fazendo tudo o que dava na telha, e o resultado nem sempre era agradável. Como já disse em textos prévios, escrever por hobby envolve um equilíbrio delicado: foco demais no leitor e a atividade da escrita deixa de ser prazerosa. Por outro lado, ênfase demais no prazer leva a blogs abandonados e livros jamais escritos. A linha é sempre tênue.

Minha história foi, por um bom tempo, a da autora hedonista. Escrevo desde pequena, pois sempre tive muitas ideias e um gosto muito grande por colocá-las no papel. Por outro lado, como qualquer ser humano, tenho sempre que lutar contra aqueles apelos imediatistas que surgem de vez em quando. Isso é particularmente verdadeiro quando tento escrever ficção: é muito mais divertido escrever capítulos dramáticos e cheios de ação do que capítulos lentos, que descrevem ações “burocráticas” necessárias para o progresso da trama. Levei muito tempo para tomar a decisão de que evitaria cair na armadilha da fuga: escrever tinha que ser, pelo menos em parte, uma obrigação, ou eu jamais sairia do lugar.

É provavelmente a esse ponto que quero chegar. Semana retrasada, no Twitter, meu amigo Guilherme Passos (cuja escrita você realmente deveria conferir) elogiou minha produtividade na escrita. E eu devo admitir que fiquei um pouco pasma.

Para contextualizar, o Guilherme escreveu seu primeiro livro em velocidade recorde, e escreve resenhas do que lê mais rápido ainda. E, mais estranho de tudo, ele parece se divertir com isso. Eu, francamente, gosto de sentir que minhas ideias estão finalmente sendo expressadas, mas não sei se é exatamente o que posso chamar de diversão. Certo, faz alguns anos que meu “estado-padrão” é bastante anedônico, porém eu tendo a achar que a escrita é um daqueles hobbies naturalmente ingratos, em certos momentos.

E eu continuo escrevendo.

Meu ritmo atual é bem mais lento do que era uns anos atrás — e eu inclusive me pergunto se a escrita ultra-veloz não fez com que eu perdesse parte do prazer que sentia em escrever… A qualidade dos 2 livros que consegui escrever em 4 meses certamente é baixíssima, tanto que ainda planejo reescrevê-los (o único sucesso tem sido, no momento, em postergar esse projeto). Mesmo assim, um texto semanal parece produtivo a bastantes dos meus amigos escritores que vêm conversar comigo. E não tem segredo: é na base da disciplina.

Me disciplino porque me conheço, e sei o quanto sou capaz de colocar meus projetos pessoais em segundo plano. Sei o quanto sou capaz de passar 12 horas diárias dormindo, e ainda sentir sono (sim, minha tireoide é normal, alguns médicos já pediram o exame). Sei o quanto sou capaz de decidir colocar algum dado aleatório em uma planilha. Sei o quanto sou capaz de decidir fazer as unhas sozinha no meio do dia e passar umas 2 horas tentando (spoiler: nunca funciona). Em suma, me disciplino porque sei que nunca vou escrever nada se não o fizer. E, para ser bem sincera, eu não gostaria de deixar de ser uma escritora.

Eu gosto de expressar minhas ideias, ainda que isso não me gere um prazer extremo. É algo ocasionalmente catártico, e, quando consigo passar uma semana tranquila, é bem frequente que eu encontre algum tema sobre o qual absolutamente preciso falar. Só que a inspiração não bate com frequência à minha porta, e eu preciso constantemente procurar temas, pois só assim manterei a constância, que é minha única maneira de não abandonar esse lado de mim.

No fim das contas, talvez eu esteja quebrando meu próprio equilíbrio. Todas as vezes em que chega a sexta ou o sábado e ainda não me veio nenhum tema à mente sobre o qual discorrer neste blog, vou ser franca: meu desejo é de desistir. Algumas semanas atrás, eu quase não aguentei. Estava sem inspiração, e terrivelmente cansada. Não sei se tomei a decisão certa quando me forcei a manter o hábito mesmo sob tais circunstâncias, mas eu quase nunca tenho certeza de nada. Não tenho certeza sequer sobre o que a escrita tem significado para mim: hobby ou obrigação?

Creio que nenhum hobby vem sem seus esforços, tema que também já mencionei em um texto passado. Sinceramente, não sei o que faz um hobby valer ou não a pena, considerando a energia que eles exigem que invistamos mesmo naqueles momentos que deveriam ser livres. Eu não sei mais se escrever vale a pena. O que eu sei é que não me arrependi nem um pouco de ter entregado conteúdo por mais uma semana consecutiva.

Obrigada por ler esse texto, apesar de essa semana eu ter trazido um conteúdo mais “meta” que o usual. Justamente por isso, como sempre, eu adoraria receber seu feedback nos comentários.

Se tiver gostado, não se esqueça de deixar seus aplausos (de 1 a 50) e de me acompanhar nas redes sociais. Até a próxima!

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