uma experiência em Inhotim

Prosa
prosajornal
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3 min readOct 5, 2017

Com a estrutura e a diversidade de um Jardim Botânico, a beleza extraordinária dos jardins do Inhotim chama a atenção desde a chegada. Com a impressão de estar em um dos parques da Disney, cheio de turistas e caminhos que levam às atrações, você se depara com as obras de arte contemporânea espalhadas ao ar livre. O parque é uma propriedade privada, localizada em Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte) e tornou-se um dos mais conceituados acervos de arte contemporânea mundial, além de possuir uma coleção botânica rara e diversificada.

Em meio a paisagens de lagos, trilhas, montanhas e vales, você é surpreendido pelas obras e galerias expostas nesse ambiente. A relação entre arte e natureza é inusitada e diferente de qualquer museu que você já frequentou, principalmente por causa da possibilidade de entrar e encostar nas obras de arte, que nunca seria permitida em museus comuns.

Muitas das obras contêm críticas político-sociais que, na maioria das vezes, são difíceis de abstrair. Em muitos momentos é preciso ler a descrição da obra e seu significado para compreender a crítica. Entretanto, é fácil passar muito tempo observando e procurando os detalhes escondidos nas artes, por causa da natureza singular e impactante das obras.

Um exemplo dessa excentricidade artística é o “Desvio para o vermelho: Impregnação, Entorno, Desvio”, do artista brasileiro Cildo Meireles. O quarto só de objetos vermelhos captura sua atenção por ser uma obra muito particular e te faz indagar quais possíveis significados estão por trás dela. Após ler a descrição na frente da porta do quarto, no qual não se pode entrar usando sapatos, descobrimos simbolismos e metáforas escondidos, desde a violência do sangue até conotações ideológicas da cor vermelha.

Outro diferencial são obras de arte que até parecem parte do paisagismo do parque. Esse é o caso da obra da japonesa Yayoi Kusama Nagano chamada de “Nascissus Garden”. São 500 esferas de aço inoxidável que parecem compor um espelho sobre a água. E, realmente, a intenção da obra é remeter ao mito de Narciso, que se encanta pela própria imagem refletida na superfície de um lago, e é reproduzida nesse contexto por vários espelhos convexos que multiplicam a paisagem externa e, sobretudo, a de quem os observa. Em uma ponte com o mito de Narciso, o espectador da obra contempla necessariamente a si próprio.

Uma obra divergente das paisagens naturais do parque é o “Forty Part Motet” de Janet Cardiff, que utiliza tecnologia de ponta para reproduzir o canto de um coral. Ao caminhar pela sala é possível ouvir diferentes vozes enquanto você se desloca pelas caixas de som. E, em uma experiência auditiva ainda mais inusitada, ao sentar-se nos bancos no centro da sala e fechar os olhos, é possível perceber os cantores se movimentando ao seu redor, por conta de um jogo de reprodução do som feito pelo artista. São 40 alto-falantes na sala, um para cada voz do coral, que se combinam de formas diferentes e “andam” pela instalação.

Essas vivências são únicas para cada visitante, que pode interagir com a obra da maneira que quiser e tentar entendê-la pelas suas próprias percepções. O Inhotim aproxima seu público das obras de arte e deixa a interação com a arte diferente e mais divertida. Para quem não gosta de arte, também é um passeio por lindos jardins e com ótimos restaurantes, além de ser um ótimo lugar para tirar fotos. Vai lá visitar e conta sua experiência pra gente!

-Carolina Moraes

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