A Astronomia das Palavras

Fernanda Saba
Prosamento
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2 min readJan 2, 2020
Sobre a vastidão dentro de nós

Há dias que não quero dizer uma palavra. Quero guardar todas dentro de mim; preciso guardar todas dentro de mim. Se faz necessário ordená-las, saboreá-las, para então jogá-las para fora, para que seu som possa sair pela minha boca, audível.

Carlos Drummond de Andrade disse para penetrarmos surdamente no reino das palavras, prefiro entrar “mudamente”.

Não quero desperdiçar o som delas, não quero usá-las sem o cuidado que merecem. São dias difíceis, onde devo primeiro encontrar a ordem delas dentro de mim. Dias em que não consigo codificar meus sentimentos em caracteres, nos quais não sei o que sinto, o que penso…

Todos são tão verborrágicos, começam seu dia já jogando palavras fora, sem nenhum preparo para, ao menos, reciclá-las depois.

Existe um medo tão grande em mantermos um universo de palavras dentro de nós, como se elas pudessem nos machucar ao cair como meteoros sobre nossas cabeças. Mas, isso é algo ruim? Às vezes precisamos de um meteoro ou outro para repovoarmos nosso planeta particular.

Que em 2020 consigamos organizar nossas palavras dentro de nós, para que elas nos saiam mais com mais força, mais sabor. E, se for necessário, que elas venham com a força de um meteoro e nos façam criar nova vida.

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Fernanda Saba
Prosamento

Product Designer Senior e contadora de histórias inacabadas desde criancinha. Um dia, irá concluí-las, mas não hoje, só amanhã.