Parei de trabalhar… melhor decisão que já tomei na minha vida!
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E não foi hoje não, faz tempo já na verdade.
Resolvi escrever esse texto pra responder uma pergunta que tem rolado demais, principalmente depois que divulguei uma foto com meus crachás de trabalho de 2009 e 2017 respectivamente, onde ficava clara uma transformação do “fenótipo”, mas de caso pensado não trazia muita informação sobre o que tinha acontecido na cachola, lá dentro do cabeção mesmo.
Daí vai chegando o final do ano, bate aquela nostalgia, e de repente essa pode ser uma forma legal de eu contribuir contigo num momento em que é normal a gente fazer planos pro ano “que vem”.
Por causa da história do pensamento do design, eu sempre me interessei em estudar as origens do trabalho, os “por quês” e os “comos” relacionados a esse lance de trocar primeiro coisas por coisas, depois coisas por dinheiro, e me chamou a atenção o fato de que especificamente na era industrial, a gente começou a trocar vida por dinheiro.
Uma das trocas mais imbecis que a humanidade decidiu — sim, decidiu, ainda que sutilmente mas decidiu — fazer em toda a sua história.
Até o finalzinho do século XVIII, antes do advento da primeira revolução industrial, o trabalho era encarado como uma arte.
Todas as profissões, sem exceção, exigiam um período de aprendizado por observação, super profundo e significativo. A dinâmica era o aprendiz observar o mestre trabalhar, e os melhores mestres eram disputados a tapa pelos novatos porque quanto mais expressiva sua arte, mais elevado era o grau à partir do qual eles poderiam iniciar suas carreiras.
Só depois de um tempo observando eles começavam a botar a mão na massa. Era assim na agricultura, na política, na filosofia, nas finanças, no comércio, nas navegações, na construção civil, na literatura, na pintura, no artesanato, na cartografia, na diplomacia, enfim, com todas as engrenagens de um mundo que era sim muito funcional na época. Num mundo mais vazio, concordo, mas que era funcional, isso era.
Parênteses aqui: não defendo o retrocesso, de jeito nenhum. Nem estou sendo saudosista com uma dinâmica de mundo que hoje em dia não faz mais sentido por motivos óbvios. O que estou querendo dizer é que o mundo funcionava, apoiado no uso de todas as técnicas e tecnologias disponíveis até então. E tinha vários lances ruins também, como por exemplo a escravização e o trabalho forçado, que obviamente colocavam à margem camadas inteiras da população mundial. Só que sacanagem social não é um fenômeno contemporâneo. É um fenômeno humano, e por isso acompanha a nossa história faz muito tempo.
Fechando o parêntese, volto pro nosso rolê dizendo que junto com todo o pacote de benefícios trazidos pela introdução das máquinas à vapor e das ferrovias (ícones da primeira revolução industrial), veio também o início de um fenômeno que pra mim é muito assustador.
Todo o caráter nobre do trabalho, que adicionava prazer ao ato de — ao final — realizar transações comerciais, começava a ser gradativamente extinto, porque o fim do trabalho passou a ser o dinheiro somente, e as atividades profissionais criadas transformavam a maioria absoluta das pessoas em executoras de atividades repetitivas que literalmente roubavam, na cara dura, todo o tempo que antes era usado para observação, criação, e também execução.
Observação, criação e inovação passaram então a ser propriedade exclusiva de quem, em última análise, gerava as oportunidades de trabalho na época. Olha aí, pra quem pensava que o Elon Musk era revolucionário por abrir mão da parte não orientada à proposição de valor de seu negócio — afinal ele publicou o projeto de construção dos seus veículos elétricos, para que pudesse se dedicar exclusivamente à confecção da bateria — essa parada já é bem antiga.
O que eu não quero fazer? Executar. Eu só quero pensar, criar… tá, mas alguém tem que fazer, certo? Ok então, vamos “terceirizar” essa parte criando linhas de produção onde os antes criativos agora passem a somente executar. Resolvido!
Sem querer julgar o mérito aqui tá gente, não digo se é certo ou errado, não é esse o foco aqui. Mas precisava construir esse pano de fundo pra explicar minha tese.
Avançando no tempo a gente chega no meu “2009” mencionado anteriormente. Foi quando deu a tilt mesmo de tanto pensar no rolê da humanidade relacionado ao desenvolvimento profissional.
No dia 5 de janeiro mais especificamente, eu decidi que nunca mais, à partir daquele dia, eu apenas executaria sem questionar ou refletir. Nunca mais mesmo.
Basicamente eu decidi que queria ser um artista, em qualquer coisa que eu fizesse dali em diante. Eu iria sempre entregar a minha arte, e não uma tarefa que me pediram pra executar.
“Nem vem me delegar a parte executora, e ficar com todo o processo criativo, porque eu não vou aceitar.” Foi essa literalmente a frase que eu disse pro espelho, que naquele momento representava todos os chefes com quem eu tinha trabalhado até então (só pra constar, eu estou no “lerê” desde 1994).
Obviamente que o mundo ao redor não se transformou como num passe de mágica, instantaneamente após eu ter tomado minha decisão, afinal isso só acontece em novela e em filme do Netflix. A vida real é bem mais louca. Mas com certeza eu me transformei, e quer saber, naquele momento já era o suficiente. De verdade, era só disso que eu precisava. Mudar. Tomar uma decisão firme. E ir abraçado com ela até o fim.
Foi aí por exemplo que me liguei que era importante “o que as pessoas queriam fazer com aquilo que elas me pediam” — o lance do desejo por trás do pedido — e à partir dessa compreensão clara, empática, eu fui ganhando clareza sobre a importância de divergir, explorar possibilidades, propor valor percebido, ao invés de simplesmente atender ao pedido, sem reflexão.
Daí você fala “ah, fácil pra você né Giaffredo, sua profissão te permite ser criativo…” Permite hoje! Quem disse que foi sempre assim? Eu trabalhava em controladoria galera, pensa num rolê pragmático! Produtividade pra mim era sinônimo de execução, repetição, obediência e robotização. Quanto mais, e mais rápido, melhor. Nossa, como era chato viver assim mano!
Agora pensa comigo, tem ou não tem como transformar o seu trabalho na sua arte, seja ele qual for? Exemplos cotidianos aqui pra gente refletir (sem ficarmos presos ao óbvio tipo “design da cozinha do McDonalds”, ou “Uber”, etc.), pensa na galera do Starbucks que escreve os nossos nomes errados nos copinhos, só pra entrar na pilha da zoeira junto com a gente e criar um buzz pesado em torno da marca? Ou então os garis do YouTube que ensinaram geral a descartar vidro? Ou os atendentes de telemarketing que usam computação cognitiva como apoio pra respostas mais assertivas de primeira? Só pra citar alguns tá, com certeza vocês já viram milhares de outros exemplos, inclusive relacionados ao trabalho que vocês mesmos executam hoje em dia.
Enfim, posso dizer com certeza que no dia 5 de janeiro de 2009 eu parei de trabalhar, e comecei a fazer minha arte dentro de uma empresa que, junto comigo, aprendeu que nesse modelo eu entrego o que tenho de melhor pra entregar. Obviamente isso começou a fazer diferença pra quem recebia o fruto do meu trabalho, e eventualmente chamou a atenção. Daí as oportunidades vão surgindo, a gente abraça algumas, rejeita outras, sempre em função da decisão de nunca mais ter que trabalhar. Legal hein? E ultra possível, em qualquer tipo de trabalho, profissão, ou empresa — independentemente do tamanho, da indústria… inovação é fazer o novo, e inovação de si mesmo também é inovar.
Não vou dizer pra você que é super fácil o processo, mas também me recuso a dizer que exista uma profissão em que um movimento desses seja impossível.
O que quero dizer é que, no final do dia, só o exercício de pensar em como transformar o que quer que você faça, na sua arte, vai te fazer uma pessoa melhor, maior, e mais incrível ainda do que você já é.
E aí, bora?
Rodrigo Giaffredo
Co-fundador da Super-Humanos Consultoria, a empresa criada pra fazer do Brasil a maior escola de agentes da transformação digital do mundo! Conhece alguém que se interessaria por algo assim? Indique a gente!
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