É o Amor: O documentário da família Camargo que não alimenta nem os fãs

paula
PseudoResenhas
Published in
5 min readDec 15, 2021

Diz a lenda que amontoaram-se todas as celebridades do Brasil em uma sala estreita e uma voz perguntou ‘quem aí não tem um documentário?’, centenas de mãos se estenderam no ar movimentando-se em desespero para serem notadas, sendo uma delas pertencente a Zezé di Camargo. Luciano, porém, se manteve imóvel. Neste dia nasceu É O Amor, documentário da Netflix sobre Zezé di Camargo e sua filhota Wanessa, enquanto Luciano se jogou na carreira gospel e proibiu o uso de sua imagem na obra.

Uma pequena apresentação dos assuntos a serem abordados recebem o espectador no início de sua jornada e empolgam: Traição, sequestro, o assédio da mídia e os desentendimentos familiares que embalam os dias dos Camargo embrulhados em cinco episódios de meia hora cada, convencendo o espectador de que está frente à maior obra documental desde o filme da Gretchen.

Priorizando a quantidade de informações, o doc começa com um momento emocional entre Zezé e Wanessa que a edição logo passa a faca e já introduz os personagens secundários, estes tendo como função preencher os buracos da trama, que são muitos. Dentre este seleto grupo, temos a atual namorada de Zezé e a participante do último De Férias com o Ex, Day Camargo.

Algumas picuinhas de família quase que roteirizadas tomam conta: Zezé, em meio a uma brincadeira de mímica avisa que precisa meter o pé e Wanessa quebra o clima descontraído relembrando que ele nunca foi um pai presente. Em outra cena, após Zezé dar um cavalo de pau a bordo de sua lancha, Wanessa continua o exposed do papi e confessa que sempre teve medo dele trair sua mãe, Zilu Godoi. Quando pequena, ouvia brigas recorrentes do casal que sempre tinham por motivo a (falta de) fidelidade de Zezé.

Zilu aparece nos minutos finais do episódio para segurar a audiência e desabafa: Me mataram todos os dias. Todo dia saía na mídia ‘Zilu passa mal’, ‘Zilu é internada’, ‘Zilu está morta’.

Zezé e a atual namorada — pivô da separação com Zilu — dramatizam para comover o espectador e o sertanejo afirma que ambos foram considerados os maiores bandidos do Brasil na época em que ele assumiu a amante. Após o choro, a namorada de Zezé corre para preparar o jantar e revela que o casal faz uma dieta especial para ajudar na saúde do esperma do boy. Em seguida, anuncia que o futuro maridão é vasectomizado e conta dos planos de terem um filho por fertilização in vitro.

Entre o vai-e-vem de conversas profundas que começam do nada para fermentar a produção, a avó de Wanessa relembra ter tido um sonho no qual a neta era sequestrada. Tempos depois, o irmão de Zezé, Welington Camargo, foi vítima da profecia. Após 93 dias de cativeiro e muita cobertura midiática, os Camargo pagaram 300 mil no resgate e o irmão foi libertado.

Pulando de um galho para o outro, o doc rapidamente finaliza o assunto antes de explorar o necessário para permitir que a produção seja vista como documentário e não matéria do Fantástico.

O terceiro episódio começa com a clássica cena onde o protagonista da obra não roteirizada expulsa a equipe de câmeras para efeitos dramáticos. Zezé fecha a porta na cara de nossos guerreiros enquanto eles gravam frações de acontecimentos.

Zezé fechando a porta do camarim de Wanessa e dispersando a equipe

Após uma cena onde o marido de Wanessa detalha sua rotina apenas para encher linguiça, Cleo Pires chega para bombar o doc e o tópico da conversa entre ela e Wanessa é a autoafirmação que precisam fazer constantemente para resistirem às acusações de nepotismo. Mais um corte nos leva para um consultório onde as condições do útero da atual de Zezé estão sendo discutidas.

Wanessa chega com um joguinho da discórdia para botar ainda mais água no feijão e fazer o episódio render a meia hora necessária. Retira de uma lata um pedaço de papel escrito ‘quem é a pessoa que você mais gosta nessa roda?’ e um figurante responde enquanto o espectador puxa um ronco.

O clímax do episodio é a indicação ao Framboesa de Ouro que Zezé conquista ao ligar no zoom para Zilu, que está curtindo muito em Orlando. Ambos proclamam discursos sem nexo algum e Zezé, com suas muitas frases de efeito, consegue sobreviver à conversa.

Zezé sofrendo muito antes de ligar para a ex e fazer o gancho do próximo episódio

Na metade final de qualquer trama é obrigatório um casamento. Sabendo disso, a atual de Zezé coloca seu cachorro para trazer uma aliança e força o homem a fazer o pedido. Após o momento romântico, o paizão retorna para a mesa onde a família está reunida e o tal anel causa futricagem entre os irmãos. Nenhum deles aprova a ideia do papi casar novamente, especialmente devido a seu péssimo histórico matrimonial.

Para incrementar a farofada, Paula Fernandes chega de jatinho e canta a mais famosa do programa Ídolos. Após o momento de descontração, aproveita os minutos finais para fazer uma pergunta bombástica e deixar que Zezé responda apenas no episódio seguinte.

O episódio final começa com Zezé cantarolando cheio de melancolia — ‘me diz como é que está ai em Nova York /aqui a frente fria talvez vá pro norte’ — e retorna para o tópico levantado por Paula Fernandes sobre seu problema vocal. Em questão de segundos o mistério é solucionado e o assunto morre.

Wanessa chama compositoras para fazer uma música sobre a relação dela com o pai e uma delas afirma que compor é energia e vibe, apesar da letra dar uma descascada em Zezé. Ao apresentar a canção ao papito, este se vê novamente tentando de todas as formas dar uma lacrimejada, mas acaba tendo que esconder o rosto para fingir melhor.

Emmy Internacional

Nisso, o famoso Papatinho entra em cena, fala de si próprio na terceira pessoa e mostra aos nossos protagonistas a versão trap de É O Amor para fisgar as novas gerações. Wanessa e Zezé adoram e correm para a regravar o clássico, agora em ritmo dançante.

Em uma dimensão completamente paralela de onde começou a obra, tudo se encontra em perfeita harmonia nos minutos finais. Alguns globais, acreditando estar nas gravações do especial de ano novo, chegam para entoar a única música de Zezé, É O Amor, porém o clima de união e esperança é cortado pelo letreiro informando que a inseminação não deu certo e os créditos sobem após o anticlímax.

Se o documentário cumpre algum papel, este seria de render mais um cancelamento a Zezé di Camargo pelas traições e ausência que teve na vida dos filhos, além de fomentar ainda mais os boatos de que a dupla com Luciano está na corda bamba. No mais, não acrescenta nada que os tabloides dos anos 2000 já não tivessem noticiado.

--

--