A Casa Kalimann caindo aos pedaços
Em meio a programação caótica da Globo, surge um convite para visitar a nova filial brasileira da Disney: a casa de Rafa Kalimann — ou pelo menos é o que o nome sugere.
Ao entrar no ambiente, um set com pelo menos três câmeras, uma equipe de áudio, iluminação, sons falsos de plateia e uma decoração questionável te recebem. Não é a casa Kalimann, é mais uma farsa da indústria do entretenimento.
Nacionalmente conhecida pela participação no BBB 20, postagens de qualidade duvidosa no Instagram e algumas pontinhas em clipes sertanejos, Rafa Kalimann se tornou uma das únicas cinco pessoas no país a terem um contrato com a Rede Globo, portanto, teve que ser retirada da geladeira às pressas e produzir algo para justificar os cheques que vem recebendo há 12 meses.
De volta a suposta Casa, o programa começa prometendo ‘desafios malucos, onde o grande prêmio é dar risada e curtir’. Ao convidado é concedida uma medalha de participação metafórica, expressa pelos aplausos vindos do sistema de som após cada desafio cumprido.
A princípio, a falta de móveis assusta. Não tem nada além de um telão e uma saída de emergência. O orçamento foi gasto por completo com o adicional de insalubridade dos entrevistados.
Em determinado momento, Xuxa Kalimann toma o protagonismo. Sempre perguntando ao convidado ‘está preparado?’ e o induzindo a fingir entusiasmo. ‘Aqui nessa minha sala mágica eu tenho um botão que leva a gente para viver uma vida completamente diferente’, diz. Após apertar, encarna personas previamente designadas pela produção, enquanto o convidado terá que improvisar seus personagens.
O programa não passa de uma tentativa de montar um portfólio para a apresentadora, mostrando a versatilidade de sua atuação. Porém, já somos detentores de provas concretas de que Kalimann é a grande aposta da década. Vide abaixo:
Existe uma cláusula que rege a atração e esta diz que todo e qualquer momento em que o participante engata em um tópico minimamente interessante, ele deve ser cortado. Basta Kalimann apertar um botão em sua mesa e o assunto muda. Assim, não é possível extrair nenhuma informação completa, apenas fragmentos de algo maior que a Casa pode proporcionar.
Uma pontinha de esperança surge no espectador quando Rafa avisa que vai levar o convidado para um lugar especial. Canais lacrimais se preparam para trabalhar, flashbacks do quadro Visitando o Passado do Caldeirão do Huck vêm à tona, mas o que acontece na Casa Kalimann é melhor que isso.
É revelado mais um quadro limitado pelo baixo orçamento, contendo duas cadeiras, alguns marshmallows no chão e uma fonte de chocolate. Ambos os presentes comem o cenário pelos quatro segundos em que se é permitido fugir do script até a entrevista ser retomada por ordens da direção. É o momento de se falar sobre todas as nuances da vida até a próxima interrupção da apresentadora.
Ainda tentando arrancar qualquer emoção que seja para tirar o espectador de sua apatia, o convidado, privado de qualquer decisão própria, pega um violão escondido atrás do cenário e se vê contratualmente coagido a fazer uma música para o programa.
Entre alguns desafios concluídos com sucesso, intermináveis leituras de teleprompt e uma declaração de amor forçada sob música sem direitos autorais, chegamos ao desafio final: ganha quem fizer a melhor chupeta num Palio 1996 na beira da estrada.
A conexão do público para com a apresentadora é frágil e dura apenas enquanto ela se permite ser vulnerável ao compartilhar que gravou o quadro de bexiga cheia. Como uma brisa passageira, o programa chega ao final, mas não antes de movimentar massas de ar trazendo instabilidade e tempestades.