A Vida Depois do Tombo: A morte e o renascimento midiático
Depois que a Globo decidiu orbitar ao redor do Big Brother Brasil, vieram produções como a Casa Kalimann, a nova temporada do No Limite e o documentário da Karol Conka após sua passagem pelo programa.
De início rumamos sozinhos ao sermos apresentados a uma enxurrada de tweets ressaltando a burrice do usuário, que se utiliza de 60 hashtags e menciona o alvo ao apedrejá-lo na Internet, para que o próprio encontre o comentário e produza um material inteiro em cima de seus 140 caracteres.
A Vida Depois do Tombo começa de fato quando nossa protagonista entra em cena em uma sala escura com uma única luz suspensa para efeitos dramáticos — e com os barulhinhos de salto alto adicionados na pós produção. Telões se acendem ao seu redor e suas falas no BBB preenchem o ambiente.
A interação humano-máquina nos apresenta o Julgamento Final em tempos modernos.
As mesmas imagens de aglomeração em bares e rojões estourando em comemoração a eliminação de Conka são passadas em três episódios diferentes para evidenciar o desemprego que assola o país.
Muito se engana quem pensa que a Globo teve a ideia de fazer o documentário recentemente. As gravações começaram alguns dias após a eliminação, quando Conka recebe a Supernanny na porta de sua casa, que acompanha e analisa a rotina da família, além de colher depoimentos.
Nossa protagonista se abre nos primeiros minutos da presença da babá. Conta que tomou passiflora e não consegue mais dormir sozinha após o programa.
“As pessoas acham que pra gente se arrepender a gente tem que aparecer definhando na frente das câmeras, chorando, implorando, usando uma roupa muito simples, aparecer toda feia pra daí convencer o povo de que, sim, eu estou arrependida”, afirma.
As cenas domésticas se intercalam com as do estúdio claustrofóbico para gerar o dinamismo necessário e interligar todas as linhas temporais apresentadas.
Após vasculharmos o passado de sua carreira e a recém aventura televisionada de Conka, partimos para o presente. Começa o drama pós BBB: ir de van do Rio até São Paulo para evitar a burocracia do aeroporto e eventuais xingos de espectadores desocupados. Karol confessa que não parou nem para esvaziar a bexiga no meio da estrada e, ao chegar no prédio avisa “vou subir antes que alguém jogue um ovo em mim”.
A saga de ir ao mercado torna-se tragicômica. Conka informa que ficará no mais completo silêncio para não ser reconhecida e, segundos depois, ao citar todos os sabores de chiclete no caixa, é pega no flagra.
Os episódios 2 e 3 focam na trajetória pessoal e profissional da rapper. O documentário vai e volta, sempre retomando a pauta do reality, inclusive trazendo algumas picuinhas do programa que não interessam a mais ninguém no momento.
O espectador entra em estado de choque quando um pessoal entra no apartamento sem máscara e apenas passam álcool na sola do sapato, sem sequer lavar as mãos.
Chegamos no último episódio, este sobre reconstrução — aceitar o passado e seguir em frente. A participação de Lucas era certa até os minutos finais, quando é anunciada sua desistência, apesar disso, ele aparece em vídeo. O único reencontro cara a cara foi com a ex-BBB Lumena.
O documentário chega ao fim por onde começou. “Eu preciso fazer arte dessa dor”. O telão se apaga, Karol se levanta e vai embora enquanto a narração continua “a verdade é que a Karol Conka salvou a Karoline e agora chegou a hora da Karoline salvar a Karol Conka”. É revelado que a rapper está trabalhando em sua carreira, compondo e gravando músicas que a ajudem nesse processo de renascimento. A obra termina num tom beirando o otimismo, na medida do possível.