A Vida Depois do Tombo: A morte e o renascimento midiático

paula
PseudoResenhas
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4 min readMay 1, 2021

Depois que a Globo decidiu orbitar ao redor do Big Brother Brasil, vieram produções como a Casa Kalimann, a nova temporada do No Limite e o documentário da Karol Conka após sua passagem pelo programa.

Tweet dizendo “alguém dá um soco na cara dessa mulher, não suporto ver essa psicopata.”
“Molier”, um termo utilizado pela última vez em 1826

De início rumamos sozinhos ao sermos apresentados a uma enxurrada de tweets ressaltando a burrice do usuário, que se utiliza de 60 hashtags e menciona o alvo ao apedrejá-lo na Internet, para que o próprio encontre o comentário e produza um material inteiro em cima de seus 140 caracteres.

A Vida Depois do Tombo começa de fato quando nossa protagonista entra em cena em uma sala escura com uma única luz suspensa para efeitos dramáticos — e com os barulhinhos de salto alto adicionados na pós produção. Telões se acendem ao seu redor e suas falas no BBB preenchem o ambiente.

Karol Conka de costas em meio ao estúdio parcialmente iluminado
Cloc cloc cloc

A interação humano-máquina nos apresenta o Julgamento Final em tempos modernos.

Karol lendo os dizeres no telão “você teve a maior rejeição da história do BBB em todo o mundo.”
O óbvio é dito algumas vezes para situar o mais perdido dos espectadores

As mesmas imagens de aglomeração em bares e rojões estourando em comemoração a eliminação de Conka são passadas em três episódios diferentes para evidenciar o desemprego que assola o país.

Muito se engana quem pensa que a Globo teve a ideia de fazer o documentário recentemente. As gravações começaram alguns dias após a eliminação, quando Conka recebe a Supernanny na porta de sua casa, que acompanha e analisa a rotina da família, além de colher depoimentos.

Conka abrindo a porta do hotel para receber a entrevistadora enquanto traja roupa monocromática
Esbanjando simpatia enquanto caracterizada de Orange Is The New Black

Nossa protagonista se abre nos primeiros minutos da presença da babá. Conta que tomou passiflora e não consegue mais dormir sozinha após o programa.

“As pessoas acham que pra gente se arrepender a gente tem que aparecer definhando na frente das câmeras, chorando, implorando, usando uma roupa muito simples, aparecer toda feia pra daí convencer o povo de que, sim, eu estou arrependida”, afirma.

As cenas domésticas se intercalam com as do estúdio claustrofóbico para gerar o dinamismo necessário e interligar todas as linhas temporais apresentadas.

Após vasculharmos o passado de sua carreira e a recém aventura televisionada de Conka, partimos para o presente. Começa o drama pós BBB: ir de van do Rio até São Paulo para evitar a burocracia do aeroporto e eventuais xingos de espectadores desocupados. Karol confessa que não parou nem para esvaziar a bexiga no meio da estrada e, ao chegar no prédio avisa “vou subir antes que alguém jogue um ovo em mim”.

Karol e a família saindo do hotel para voltarem para casa e os dizeres na tela “com medo de ser hostilizada pelo público, Karol saiu pelo subsolo do hotel.”

A saga de ir ao mercado torna-se tragicômica. Conka informa que ficará no mais completo silêncio para não ser reconhecida e, segundos depois, ao citar todos os sabores de chiclete no caixa, é pega no flagra.

Conka no mercado dando depoimento para a câmera: “e eu nem conversei com ela pra ela não reconhecer a minha voz.”
A atendente perguntando “você é a Karol, né?”

Os episódios 2 e 3 focam na trajetória pessoal e profissional da rapper. O documentário vai e volta, sempre retomando a pauta do reality, inclusive trazendo algumas picuinhas do programa que não interessam a mais ninguém no momento.

Mais uma pergunta no telão: “Karol, você admite que inventou que Carla estava a fim do Bil?”

O espectador entra em estado de choque quando um pessoal entra no apartamento sem máscara e apenas passam álcool na sola do sapato, sem sequer lavar as mãos.

Sprayzada de álcool na sola do sapato
O protocolo ‘Amor de Mãe’ aplicado com sucesso

Chegamos no último episódio, este sobre reconstrução — aceitar o passado e seguir em frente. A participação de Lucas era certa até os minutos finais, quando é anunciada sua desistência, apesar disso, ele aparece em vídeo. O único reencontro cara a cara foi com a ex-BBB Lumena.

Conka novamente no estúdio parcialmente escuro após os telões se apagarem

O documentário chega ao fim por onde começou. “Eu preciso fazer arte dessa dor”. O telão se apaga, Karol se levanta e vai embora enquanto a narração continua “a verdade é que a Karol Conka salvou a Karoline e agora chegou a hora da Karoline salvar a Karol Conka”. É revelado que a rapper está trabalhando em sua carreira, compondo e gravando músicas que a ajudem nesse processo de renascimento. A obra termina num tom beirando o otimismo, na medida do possível.

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