Pipoca da Ivete: As memórias póstumas de Boninho

paula
PseudoResenhas
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7 min readJul 26, 2022

Apesar de possuir em seu currículo programas de grande calibre como Zig Zag Arena, Simples Assim, É de Casa, entre outros ausentes do imaginário popular, Boninho sofre com boatos de demissão oriundos da insatisfação da Rede Globo para com os baixos números de audiência e a repercussão negativa de suas últimas produções, o que deixa um largo sorriso na cara das concorrentes.

Mas Boni Jr. ainda não se dá por vencido e tenta emplacar o derradeiro hit antes de bater na porta da Record implorando para dirigir a próxima temporada de Canta Comigo Teen.

A Pipoca da Ivete já começa com uma vinheta duvidosa, onde um coral de três pessoas entoam ‘pipoca’ e barulhos de mastigação complementam a trilha num fundo colorido e com uma fonte que não combina muito com a proposta apresentada.

Nisso, uma surra de cenas mostrando um futuro próximo pipocam na tela do espectador para que ele decida se realmente quer continuar assistindo, mesmo que a obra não prometa muita coisa.

Enquanto a tortada na cara comia solta nos estúdios do SBT, rolava o reboot do Tamanho Família no Projac. Duas famílias entram no palco e prometem duelar entre si. Estas se autodenominam Papais à Bordo — composta por um casal que se conheceu no Tinder — e Tempestade.

Unboxing das comprinhas na 25 de Março

No primeiro quadro, o objetivo é que Ivete ou Tadeu Schimdt adivinhem uma palavra qualquer através das dicas das famílias enquanto todos trajam perucas de R$ 1,99. Apesar das muitas comemorações e gritos de guerra dos times rivais, o jogo não empolga fora do palco. Os intermináveis 15 minutos de prova são suficientes para desgastar o público. Mas tudo bem, pois o quadro seguinte vem cheio de gincanas novas e super divertidas de… adivinhações. Dessa vez, a tal palavra secreta deve ser descoberta pelos globais através de barulhos e onomatopeias que os participantes fazem do outro lado do palco. E, novamente, a diversão fica apenas da TV para dentro.

Ivete apresenta e participa de todas as provas, além de cantarolar suas próprias músicas com frequência para ver se elas sobem nos charts.

O palco com mais poluição visual que a Times Square

O maior destaque até então é a crise de meia idade que Veveta aparenta estar passando. Nossa cinquentona tenta ser engraçada a qualquer custo através do desgastadíssimo humor de internet e fazendo dancinhas a cada minuto para ver se fisga a atenção do público do Tiktok.

O terceiro quadro chega com uma surpresa: Outro jogo de adivinhação, mas dessa vez as famílias — que já estão fazendo hora extra no palco— precisam adivinhar através de dicas quais são os famosos unicamente globais que aparecem no telão.

As suspeitas de que os anônimos, na verdade, sejam atores contratados surgem nesse momento. Para cada famoso que aparece, nossos participantes citam as novelas em que eles atuaram, o atual cônjuge e os 4 dígitos finais de seus CPFs. Um momento chave para a suspeita é quando descrevem a Fernanda Lima como apresentadora do Amor e Sexo, um programa que nem a própria deve lembrar que fez.

Cenário reciclado das comédias Multishow

Enquanto o placar está sendo menos consultado que a enciclopédia Barsa em pleno 2022, Ivete anuncia que a família com menos pontos será enxotada e os vencedores disputarão uma prova sem adversários. Nisso, os ganhadores partem para mais um jogo de adivinhação de palavras divertidíssimo e inovador, recebem migalhas de Pix e vazam, mas não antes da nossa dama do Multishow perguntar se eles se divertiram, no que a família responde ‘siiiim’ em uníssono.

Com apenas meia horinha de programa, a obra dá indícios de que está acabando e o martírio também. Porém, nossa mascarada ameaça muito mais diversão no próximo bloco. Com apenas 15 segundos de intervalo e sem chance para o espectador descansar, a pipocagem continua.

Com a intenção de preencher o vazio que o The Voice deixou em ninguém, a apresentadora chega com o Iveteokê, que nada mais é do que um cara vestido de televisão perdendo a dignidade nas ruas mais populosas do país e juntando gente para desafinar cantando Evidências ou coisa do tipo.

Não bastasse, Ivete ainda chama duas das pessoas que arranharam a voz na rua para cantar novamente, dessa vez em seu palco. Depois das apresentações, nossa musa democrática decide a ganhadora e rapidamente se livra de ambas.

E quem aguenta a Globo enfiando gente fantasiada em todos os programas vespertinos?

Enquanto metade do programa conta com nossa ex-Banda Eva tentando emplacar as piadas menos risíveis da história da televisão, na outra metade os convidados agradecem muito pela chance honrosa de aparecer nessa grande estreia.

Após um merchan do Criança Esperança, Ivete volta com a enigmática frase ‘‘domingo é o dia perfeito para a gente se jogar no sofá’’ em uma clara homenagem ao falecido Se Joga.

E para se jogar no tal sofá, alguns globais entram no palco ao som de, obviamente, uma música da Ivete — que ela canta por cima da gravação durante um minuto inteiro para provar que aqui não tem playback — e, enfim, partem para conversas sobre a vida e o além.

Jairvete desenterra Amor de Mãe e fala de Cara e Coragem como se a novela nem tivesse estreado ainda, comprovando que a pipoca velha e bolorenta estaria engavetada há pelo menos 3 meses.

Paola Oliveira aproveita para falar sobre sua personagem na sonífera novela dos dublês e explica que encarna uma mulher comum, daquelas que pulam de prédios e batem o carro para conseguir pagar os boletos ao final do mês [?]. Após ouvir a palavra boleto, Ivete se engatilha e rapidamente precisa fazer uma piada sobre fofoca, faltando apenas o vocábulo litrão para a santíssima trindade ficar completa.

Nossa isentona comprova estar antenada nas tendências da juventude ao convocar uma desconhecida da plateia com os dizeres “você botou esse cropped e veio, né?”. Um outro desconhecido também é chamado para completar o time dos famosos em mais uma disputa de adivinhação.

Dessa vez o quadro Alô, Ivete faz a nossa apresentadora falar o próprio nome mais vezes do que o limite aceitável. Entre algumas adivinhações, os anônimos entram mudos, saem calados e vazam do palco aos mandos da General Mourete.

Não se sabe quem ganhou e quem perdeu, e quando menos se espera, Ivete já está montada no carro da Xuxa com os famosos entuchados dentro para responderem ‘qual animal você seria’, entre outras perguntas hit das entrevistas do LinkedIn. Após questões que mudam os rumos do entretenimento nacional, Veveta distribui as fatídicas plaquinhas de sim e não para os passageiros e faz a seguinte pergunta “quem aí já ficou dois dias sem tomar banho?”, uma pergunta que não pode ser respondida com nenhum dos tais advérbios, mas o português se faz ser entendido e tudo acaba bem.

Durante a carona fictícia, nossa rainha do Uber responde as próprias perguntas e, por vezes, interrompe as respostas dos convidados para fingir que o carro está tombando para o lado, além de fazer com que eles cantem sua música Carro Velho.

CGI melhor que os da Marvel

Mais um quadro chega e com ele a esperança de que seja o último. O inovador Desafio do Biscoito recicla a brincadeira da quarta série de colocar uma Trakinas na testa e fazer ela chegar na boca sem usar as mãos. Ninguém ganha e ninguém perde, diferente do espectador, que perde em todos os momentos. Já o vencedor de todas as disputas, por unanimidade, é o ego da Ivete.

O único lanche oferecido aos convidados em um programa que tem nome de comida

Finalmente o último quadro chega, junto com ácaros e fungos. O Vale a Pena Rir de Novo propõe encenações de uma famosa cena de Tieta, mas tem um porém: O objetivo é encontrar bolinhas escondidas no cenário enquanto se contracena com Ivete. Nossa futura protagonista da novela das nove não está nem aí para o jogo e quer apenas brilhar na interpretação, e, portanto, entrega as bolinhas de mão beijada para uma das participantes. No final alguém ganha, mas o público não se lembra mais quem foi.

Veveta montando seu portfólio de atriz

As competições acabam mas o programa infelizmente não. Após mais um intervalo comercial, chega a hora de ver a pontuação final das duplas, distribuir nada além de um abraço para os ganhadores e ameaçar o espectador avisando que semana que vem tem mais.

Ainda rola um momento da nossa musa tentando chorar ao relembrar sua carreira, e cenas dos próximos capítulos aterrorizam com gincanas roubadas da emissora ao lado, porém menos carismáticas.

Ivete retorna ao palco para cantar novamente, agora na companhia de Diogo Nogueira, e juntos entoam ‘erga essa cabeça / mete o pé e vai na fé’, mas tudo o que o espectador ouve é a marcha fúnebre embalando o último ato da carreira de Boninho, antes do diretor sumir do mapa rumo a emissoras com IDH mais baixo.

Após essa jornada de 1h20, pode-se concluir que a Pipoca da Ivete nada mais é do que uma fertilização In Vitro de todos os últimos fracassos de Boninho, gerando um Frankenstein de quadros que não empolgam. Por fim, o milho da pipoca não estourou e grudou no fundo da panela, precisando ser retirado das prateleiras por ordem do Procon e da Anvisa.

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