SONHO: Mensagem do Inconsciente
A interpretação dos sonhos tem muitos lugares na cultura popular. A literatura está povoada por dicionários de sonhos que fazem afirmações do tipo “sonhar com uma cobra significa o presságio de uma traição”. Para a psicanálise, sonhar com uma cobra significa apenas o que isso significa no discurso associativo de quem sonha com a cobra.
A teoria de Freud defende que o conteúdo manifesto (a história normalmente absurda que é lembrada de um sonho) traz consigo também um conteúdo oculto e latente, cujo sentido ainda não está revelado. Esse sentido só pode ser identificado pelo sujeito que sonha e por mais ninguém, nem mesmo pelo seu analista.
Quanto mais disfarçado é o conteúdo manifesto, mais o sonho pode ser lembrado. Se o sonho foi pouco condensado e deslocado de seu conteúdo original, não será lembrado ao acordarmos, pois se tornará insuportável demais para o consciente. A criatividade e o repertório simbólico são, portanto, grandes aliados tanto para disfarçar o sonho durante o sono, quanto para nos ajudar a decifrá-lo uma vez que acordamos.
SONHOS DA QUARENTENA
A internet está em ebulição com artigos, posts e memes sobre a intensificação dos sonhos que estamos tendo durante a pandemia. Diversas instituições, cientistas e pesquisadores ao redor do mundo estão conduzindo estudos sobre os chamados “sonhos pandêmicos”, e a busca por “sonhos lúcidos” dobrou nas últimas semanas (Google Trends).
Por que estamos sonhando mais?
Ou ainda, por que estamos lembrando melhor dos sonhos?
Há muitas teorias ao redor do fenômeno, mas duas se destacam:
1) Uma alteração nos padrões do sono devido às mudanças na nossa rotina. Apesar dos altos níveis de insônia, estamos também com mais tempo para dormir e para acordar. O ritual de acordar ficou mais brando, pois não precisamos mais sair correndo de casa. Muitas pessoas estão inclusive abrindo mão do despertador, trazendo mais tempo e naturalidade para o estágio final do sono (REM), que é justamente o período em que mais sonhamos.
2) Estamos mais assustados e estressados. A surrealidade do que estamos vivendo está exigindo mais do nosso cérebro para processar essa nova vida. Relatos de pesquisas contam que isso vem se traduzindo em um aumento de sonhos com a morte ou mesmo com insetos e parasitas que entram em nosso corpo — de alguma forma, materializando um vírus que é invisível. Nossa mente está tentando dar conta do que está causando tanto medo e desconforto em nossas vidas.
A absorção dessas grandes mudanças em nossa vida acontece no sonho sem todo o racionalismo e a censura de quando estamos acordados. É um momento onde, de algum jeito, conseguimos fazer uma gestão catártica das emoções que estão sendo reprimidas ou recalcadas durante o dia. Se o sonho é uma janela para o inconsciente, alguma mensagem pode sair dali, desde que estejamos dispostos a escutá-la.
