Guia prático para lidar com alguém que chora — 5 passos

Mariana Farinas
Psicologia mastigadinha
5 min readJul 2, 2018

O choro é um insight íntimo e redentor. Lidar com alguém que chora é só estar ao lado para tornar o caminho mais fácil.

Quanto mais seguros nos sentimos, mais fácil vem o choro. Se você estiver tenso, isso poderá inibir as lágirmas de alguém, pois essa tensão irá transparecer nos seus gestos, tom de voz e expressão.

Chorar é algo que fazemos quando estamos seguros E parte do que dá a sensação de segurança à uma pessoa é deixá-la confortável de acordo com as necessidades dela. Todos nós já choramos gostoso na vida, mas diante da sensação de responsabilidade que pode nos acometer ao veremos alguém chorar, esquecemos de algo que já fizermos centenas de vezes. Não conseguimos evocar na lembrança as imagens dos bons choros que tivemos e das vezes em que fomos bem tratados enquanto chorávamos. Se este é seu caso, segue um guia prático com 5 passos para lidar com alguém que chora.

1. Abra espaço, não tumultue

Chorar um choro bom, do começo ao fim, exige dedicação ao ato de chorar. E para nos dedicarmos à algo, é necessário um ambiente que não demande de nós atenção para outras coisas. Não dá pra ir ao banheiro e fazer lanche ao mesmo tempo, não dá pra pegar no sono e discutir as contas da casa. Para chorar, nossa atenção está voltada para uma imagem ou narrativa — seja do momento, seja de uma lembrança — que nos comove. Está voltada para as pulsações descontroladas do nosso diafragma e para as águas que começam a se misturar nos olhos, nariz e boca. Fazer perguntas, demanda da pessoa atenção para respondê-las. Interpretações, demandam atenção para entendê-las. Dizer que vai ficar tudo bem, demanda se perguntar o que isso tem a ver com o que se está sentido, porque o que se está sentindo só é o que é. Demanda também paciência com quem disse, pois uma boa intenção tem que ser respeitada. Muito ajuda quem não atrapalha, então esteja à disposição para o que ela precisar. Para dar uma caixa de lenços, apoiar no seu ombro, pegae uma água ou só para ser alguém que saiba que algo muito importante está acontecendo com ela.

2. Chorar é aliviar-se, não transforme isso em um problema

O choro é um processo auto-regulatório de transição de uma situação em que estamos mais alertas — na função de observar o ambienete e agir — para um estado mais sossegado, em que podemos descansar. Ao dizer a pessoa “não precisa chorar” ou perguntar “porque você está chorando” você está se colocando na situação como alguém que intenta impedir que o choro ocorra ou alguém que precisa de uma boa justificativa para acompanhar o choro alheio. É como querer ajudar alguém que está enjoado dizendo à ela que ela não precisa vomitar ou insistir em saber, enquanto ele corre pro vaso sanitário, o que ele comeu. O fato de você ficar desconsfortável diante do choro alheio — a maioria das pessoas fica — é um problema com o qual a pessoa que você quer apoiar não tem que lidar, respire fundo e facilite o momento para ela como for possível.

3. Lembre-se que ninguém chora para sempre

Algo que ajuda a estar tranquilo diante de alguém que chora é lembrar que ninguém chora pra sempre. Existe o choro desesperado, que resulta em cansaço e desconcerto, não em um bem estar. Mas em circunstâncias normais o choro se inicia, vai se desenrolando e termina com uns solucinhos que vão se esparçando até virarem suspiros. Nestes choros “normais”, é só acompanhar e observar o desenrolar do choro. Mas em casos exepcionais, quando o choro pode virar uma aflição, é realmente exigida uma intervenção maior para dar a contenção que for possível à pessoa que chora — como quando seguramos um bebê que estava desesperado estabanando seus bracinhos e pernas para que ele se acalme. Com um adulto, caso ele permita, você pode segura-lo de maneira firme e calorosa nos ombros ou abraçá-lo. Uma voz mais firme e diretiva pode funcionar para chama-lo de volta do desespero. Convide-o a respirar, levantar e dar alguns passos.

4. Sua presença é suficiente e ajuda a dar contexto

Chorar de verdade na frente de alguém é uma demonstração de confiança, é como dizer “que bom que você está aqui, agora finalmente me sinto seguro”. A sua presença é suficiente para essa pessoa se sentir segura por uma série de questões pertinentes à relação de vocês, à história dela, à sua postura. É possível que ela intua em você uma capacidade de se comover e ao mesmo tempo permanecer sereno. A sua presença porém, não é o que a faz chorar, é apenas uma ocasião em que há permissão para que ela chore — se não fosse pela sua presença, seria por outro caminho. Você facilita, apoia, dá contexto, mas o choro não é seu.

5. Quando o choro acabar, pode perguntar

Se você tiver intimidade ou achar que vale a pena, faça perguntas que ajudem na compreensão do que a ajudou a chorar. Perguntou “o que você sentiu” pode levar à respostas vagas ou descrições de sensações corporais. Prefira, por exemplo “O que te ajudou a chorar?”. Esta pergunta é boa porque tira a ideia de que o choro tem uma causa — de que existe algo único que a fez chorar — e permite que a pessoa reflita sobre o que deu segurança à ela naquele momento, o que a tocou. Uma outra pergunta é “O que você estava pensando quando começou a chorar?”, que pode ajudá-la a ficar mais dona da narrativa interna ou a imagem que a comoveu e do sentimento que havia naquele momento, mesmo que ela não consiga nomeá-lo.

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