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B. D. Bianchi — Prolegômenos a uma teoria Psicoterapêutica Materialista Histórico-Dialética

Subtema: teoria

Bruno Bianchi
Psicologia MHD
Published in
25 min readJan 16, 2024

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Nos últimos anos, temos nos deparado com um crescimento significativo da atuação de psicólogos que se orientam pela psicologia materialista histórico-dialética (PMHD)[1] nas áreas da saúde, especialmente no campo da psicoterapia. É fato que, quando as primeiras ideias de L. S. Vigotski, A. R. Luria e A. N. Leontiev chegam ao Brasil, o interesse maior se deu nas áreas da Psicologia Social e na Psicologia Escolar, devido ao grande foco dado por esses autores — especialmente por L. S. Vigotski — às questões do ensino, da aprendizagem, do desenvolvimento, etc.

Sem nos delongarmos sobre a chegada desses autores (e de outros, como D. B. Elkonin, L. I. Bozhovich, V. V. Davidov, etc.), no que se consolidou enquanto Psicologia Histórico-Cultural, precisamos de antemão apontar para um fato importante. O interesses por esses autores veio “impulsionado” pelo chamado boom vigotskiano ocorrido nos países do norte global a partir da década de 1960 — muito propulsionada pela participação internacional dos grupos de A. N. Leontiev e A. R. Luria em Congressos de Psicologia e, consequentemente, a tradução de suas obras para diferentes idiomas (DAFERMOS, 2015). Dentre deles, destaca-se as primeiras traduções de L. S. Vigotski, A. R. Luria e A. N. Leontiev para a língua inglesa e, consequentemente, as primeiras traduções para o Brasil no final da década de 1970 e início da década de 1980. O desenvolvimento próprio da Psicologia Soviética no Brasil é tema de estudo de uma série de autores (ASBAHR, 2023; ISHIBASHI e MARTINS, 2019; PRESTES e TUNES, 2012), e foge do escopo deste escrito abordar as especificidades com que estes autores foram abordados no Brasil.

Como mencionado anteriormente, a vinda destes autores (especialmente de L. S. Vigotski) se deu de forma mais vinculada ao campo da educação e do desenvolvimento, o que forjou uma imagem parcial de que as elaborações do autor se resumiam aos processos de ensino e aprendizagem, de desenvolvimento do psiquismo, etc. Evidentemente que esta foi uma esfera de atuação de grande interesse de L. S. Vigotski. No entanto, o autor também se dedicou a uma série de outras questões, e para além do campo da educação, também atuou no campo da saúde, da clínica, seja com quadros neurológicos, com crianças com necessidades especiais (através da Defectologia), ou casos de psicologia patológica. Contraditoriamente, estes escritos parecem despertar menos interesse; mesmo os escritos sobre defectologia — que trazem contribuições interessantes e um potencial de desenvolvimento na clínica da PMHD — acabam restringindo o escopo interventivo à esfera da educação especial.

Por outro lado, se manifesta uma tendência a “transpor” os conceitos desenvolvidos por L. S. Vigotski no campo da educação e da instrução para a prática clínica, muitas vezes sem as devidas mediações. Um conceito, entendido de forma materialista-dialética, manifesta uma determinada relação prática com a realidade, generalizada em uma palavra. Ninguém discordaria que a prática clínica ou psicoterapêutica é bastante distinta da prática educativa, com objetivos, métodos, intervenções e técnicas próprias. São “ramos” da psicologia geral — interligados geneticamente, porém distintos. Claro que o trabalho psicoterapêutico possui uma dimensão educativa; assim como o trabalho educativo possui uma dimensão “terapêutica”, e ambos promovem em certa medida o desenvolvimento do psiquismo e da personalidade como um todo.

No entanto, se transportamos conceitos como zona de desenvolvimento proximal, crises do desenvolvimento, etc., ou mesmo conceitos mais amplos como funções psicológicas superiores e situação social de desenvolvimento, para a prática psicoterapêutica, devemos fazê-lo com as devidas precauções. Da mesma forma, devemos compreender qual lugar que estes conceitos ocupam dentro de um trabalho psicoterapêutico. Um sistema conceitual não é um esquema rígido e imóvel, mas dinâmico, que produz novas relações possíveis com a realidade, mas que não é a realidade em si; ou seja, o sistema conceitual deve servir como modo de compreensão e intervenção sobre a realidade, mas não é algo que deve ser “aplicado” à realidade; pelo contrário, deve ser “encontrado” nela, “extraído” dos fenômenos da realidade. Assim, em relações particulares, os conceitos gerais tomarão formas particulares porque existem conjuntos de determinações específicos que atuam sobre essas relações particulares.

Por exemplo, o conceito de zona de desenvolvimento proximal diz respeito a uma análise investigativa do desenvolvimento cognitivo do indivíduo, que avalia suas capacidades mentais na resolução de problemas específicos, e sua capacidade de resolução com o auxílio de outros sujeitos — professores, colegas, pais, etc. (VIGOTSKI, 2021). Seria errôneo compreender a ZDP como um aspecto geral da personalidade, já que os processos afetivos e volitivos não se desenvolvem segundo as mesmas linhas, mesmas dinâmicas, etc., que os processos cognitivos. Da mesma forma, o grau de desenvolvimento cognitivo de um indivíduo não necessariamente caracteriza, como em um espelho, o grau de seu desenvolvimento emocional ou volitivo. Ignorar a particularidades de cada um desses componentes do psiquismo e submeter os aspectos volitivos e afetivos à ditadura da cognição, incorre no perigo de um intelectualismo ou cognitivismo da PMHD (fato não tão incomum dentre leituras de L. S. Vigotski).

Centralizar essas categorias também incorre em outra problemática: a ideia de que a psicoterapia seria simplesmente um processo instrutivo, um treino de habilidades. Evidente que há um espaço da intervenção psicoterapêutica que possa assumir um caráter mais diretivo, mais instrutivo, porém de forma alguma se caracteriza como o núcleo psicoterapêutico.

Cabe ressaltar que, no campo clínico, autoras como Bluma V. Zeigarnik (1979) e Susanna Ia. Rubinstein (1999) utilizam o conceito de ZDP. No entanto, a investigação experimental patopsicológica não pode ser caracterizada como um processo fundamentalmente terapêutico, apesar de se tratar de uma atuação clínica. Além disso, quando as autoras abordam a relação entre o patopsicólogo e o paciente durante o experimento, em diversas situações se coloca uma relação de instrução, em que as intervenções do patopsicólogo se dão no sentido de auxílio na resolução de tarefas experimentais específicas (ZEIGARNIK, 1986/2016). Portanto, uma atividade que se encontra muito mais próxima do processo de instrução e aprendizagem das obras de L. S. Vigotski e, entendo, com um uso muito mais coerente da ideia de ZDP.

Assim, se há espaço para essas categorias supracitadas — assim como outras, de L. S. Vigotski ou de outro autor — é importante uma avaliação de qual é esse espaço, se central ou periférico. Da mesma forma, deve-se avaliar quais são então os conceitos e categorias centrais para a prática psicoterapêutica.

O que vai determinar a relação que se dá entre o sistema teórico e a prática é, antes de tudo, a especificidade da prática, qual o objeto que o psicólogo atua sobre, quais são os objetivos. Nessa relação e dessa investigação surgem não apenas quais conceitos e categorias ocupariam um espaço central da intervenção, mas também qual a metódica específica da psicoterapia, isto é, qual a forma específica de realização de um conjunto de métodos e técnicas na obtenção das informações relevantes e na intervenção que leve aos objetivos estabelecidos.

Evidentemente, não é possível estabelecer de antemão quais os objetivos específicos do processo psicoterapêutico. Se considerarmos como princípio ineliminável do processo terapêutico a singularidade de cada história de vida, de cada vivência, etc., estabelecer a priori quais os objetivos da psicoterapia seria justamente inverter a ordem dos fatores, e incutir no sujeito e no nosso objeto algo que possa ser alheio a ele. No entanto, se desconsiderarmos qualquer possibilidade de generalização, se tomamos a singularidade como o único nível de determinação da investigação psicológica, então encerra-se qualquer possibilidade de construção teórica e de uma prática consistente no campo da psicologia e da psicoterapia. Como aponta S. L. Rubinstein (1972, p. 62)

O princípio da individualização da investigação deve ser um princípio primordial da nossa metodologia. Não obstante, a missão da investigação psicológica teórica não consiste na descrição exacta de cada indivíduo no seu género único, mas em passar do indivíduo ao geral, do casual ao necessário, dos fenómenos ao essencial. Para a investigação teórico-psicológica, o estudo dos casos individuais não é, por isso, nenhum campo ou objecto especial, mas sim um meio para alcançar o conhecimento. Através do estudo de tais casos, com as suas possibilidades de variação, a investigação psicológica deve alcançar a sua verdadeira finalidade, ou seja, o estabelecimento de leis cada vez mais gerais e mais essenciais. Na nossa psicologia deve ser fundamental o princípio da individualização da investigação e a descoberta das leis reais, e isso em vincado contraste com todas as concepções para as quais o essencial é o estabelecimento de valores tipo e trabalhar com métodos estatísticos.

É, portanto, uma tarefa urgente o estabelecimento consciente dessa generalização dos motivos e objetivos da psicoterapia, que podem ou não estarem presentes nos casos singulares. A generalização, embora se construa como uma abstração da multiplicidade de singularidades, não é um corpo fechado, imutável, mas dinâmico, que se reconstrói e se reformula à medida em que a prática revele novas relações e camadas de complexidade dessa multiplicidade de singularidades.

A sistematização desses objetivos de forma ampla e completa só pode se dar pelo estudo histórico da terapêutica, enquanto uma prática anterior à própria delimitação da ciência psicológica e que foi exercida por diferentes profissões ou figurais sociais na sociedade. Evidente que a prática psicoterapêutica (enquanto uma “cura da psique”) antecede a própria psicologia, e foi fundamentada por diferentes saberes, discursos, ferramentas, etc. A nossa tarefa não é “recriar do zero” uma prática psicoterapêutica, mas compreender o funcionamento e as leis gerais dessa prática a partir do materialismo histórico-dialético — entendendo que esse sistema filosófico possui as melhores possibilidades de compreensão da realidade.

Assim, deixo a seguir alguns questionamentos que devem ser respondidos coletivamente, através do estudo, através da nossa prática e da construção conjunta de uma teoria psicoterapêutica geral. São questões gerais que não esgotam o tema, mas que também são impossíveis de serem desconsideradas:

1. Qual necessidade busca satisfazer? Quais são seus objetivos?

2. Quais são os casos ou situações em que a psicoterapia pode ser uma intervenção benéfica ou necessária?

3. No que consiste a psicoterapia? Quais são suas práticas, seus modos de ação?

4. Quais são os princípios e diretrizes éticas que orientam a prática?

5. Como se avalio sua eficácia e seu sucesso?

6. Quais são os conceitos e categorias fundamentais da psicologia geral?

7. Quais são os conceitos e categorias específicas da psicoterapia?

A resposta a essas questões dificilmente poderá ser dada de forma final e completa. Primeiro porque se trata de questões amplas, com uma multiplicidade de possibilidades e que, no entanto, devem ser integradas a um todo coerente. Em segundo lugar, porque a psicoterapia — e a psicologia como um todo — é uma prática inserida dentro de totalidades maiores: o campo da saúde, das ciências humanas, das relações de produção, etc. Assim, a resposta a essas questões requer uma reflexão da prática psicológica e psicoterapêutica enquanto determinada histórica e socialmente, possuindo inclusive objetivos e práticas internamente contraditórias. Na busca pela resposta a essas questões, nem tudo deve ser mantido ou preservado, e muitas vezes as afirmativas resultam ser mais uma barreira ao avanço da ciência do que uma contribuição pra prática.

Não me proponho a responder tais questões de forma integral aqui; tal trabalho será objeto de elaboração posterior em outros escritos. No entanto, gostaria de apontar algumas diretrizes iniciais — e incompletas — acerca de apenas algumas das questões supracitadas. Ao longo da exposição, determinadas categorias e conceitos serão mencionados, porém não desenvolvidos nesse momento.

Sobre as necessidades e objetivos da psicoterapia

Se levarmos em consideração a própria palavra “psicoterapia”, não podemos evadir da função curativa que essa prática exerceu e exerce nos diferentes sistemas teóricos e culturais. A psicoterapia busca satisfazer uma necessidade individual ou coletiva de cura, que pode se dar de diferentes modos e diferentes objetivos.

A cura pode se dar através do alívio do sofrimento, através de mudanças mais essenciais e profundas do sujeito ou da relação dele com seu meio. Ela pode ter como objetivo a restauração ou construção da autonomia do sujeito, ou sua adaptação às relações estabelecidas, a sua reinserção em espaços previamente ocupados.

Não é incomum entre os teóricos da Psicologia Histórico-Cultural a afirmação de que o processo psicoterapêutico visa a produção de uma conscientização cada vez maior pelo sujeito da sua atividade, das suas relações e de si mesmo. Evidentemente que a tomada de consciência constitui um momento essencial do processo psicoterapêutico, mas não é um fim em si mesmo — importa não só a consciência que o sujeito possui das suas relações e ações, mas como essa nova consciência leva a mudanças efetivas por sua parte.

Um objetivo mais amplo, que entendo ser comum à ampla variedade de demandas que levam as pessoas a uma intervenção psicoterapêutica, é o estabelecimento da qualidade de sujeito [Subjekt] dos indivíduos. Tal qualidade se encontra presente no centro da teoria de S. L. Rubinstein, e diz respeito à capacidade de agência, de autodeterminação e autoatualização (MIRONENKO, 2019). Essa definição periga cair no idealismo, se compreende-se essa autodeterminação e autoatualização enquanto uma qualidade que “desenraiza” o sujeito das determinações históricas e sociais. Não se trata de negar ou desconsiderar as determinações sociais que “incidem” sobre o sujeito, mas de determinar quais as possibilidades de ação e de autodeterminação do sujeito real e efetivo, inserido nestas relações, do seu papel ativo e consciente enquanto um sujeito transformador e criador de si mesmo e do seu meio.

Quais são as situações em que a psicoterapia pode ser uma intervenção benéfica?

Considerar a psicoterapia enquanto uma prática curativa deve levar em conta algumas precauções. Isso porque uma intervenção terapêutica leva em consideração determinadas concepções de saúde e patologia que são determinadas historicamente e que produziram não uma cura aos sujeitos, mas muitas vezes seu aprisionamento ou silenciamento. Assim, embora não possamos renunciar a uma noção de saúde, não podemos também cair na armadilha de uma prática puramente adaptativa e anuladora das subjetividades, ou na ideia de que qualquer desvio da norma estabelecida necessariamente requer uma intervenção terapêutica.

Assim, a consideração de quais situações podem ser beneficiadas por uma intervenção psicoterapêutica não é de menor importância. Pelo contrário, força a consideração do nosso campo de atuação enquanto limitado objetivamente e necessitado de complementos de outras áreas, visto que o ser humano é complexo, multideterminado por uma série de fatores de distintas ordens.

Uma consideração mais aprofundada requer uma avaliação crítica sobre os usos danosos da psicoterapia, os erros de avaliação do seu campo de intervenção, as práticas errôneas do passado e presente, etc. No entanto, podemos delimitar ao menos três tipos gerais de situação em que a prática psicoterapêutica tem a possibilidade (não a garantia) de produzir uma intervenção benéfica:

a) Quadros de desorganização do psiquismo: compreendido enquanto formas breves, temporárias, produtoras de sofrimento ou de perturbação temporária da atividade psicológica e das relações interpessoais.

b) Quadros de desagregação do psiquismo: entendido enquanto estados persistentes de perturbação da atividade psíquica, em que determinados processos ou sistemas se encontram desestruturados ou desintegrados, produzindo efeitos significativos tanto na organização psíquica do sujeito quanto nas suas relações interpessoais.

c) Alterações do desenvolvimento do psiquismo: compreendido como aquelas variações da “norma” do desenvolvimento do psiquismo, que requerem ações alternativas e compensatórias e que podem — pelas dificuldades de inclusão — produzir deficiências e sofrimentos subjetivos.

Estes três tipos gerais de situações são adaptadas das formas em que Vigotski (1924/2010) compreende o comportamento anormal. Sabemos das dificuldades e perigos de um estabelecimento rígido do normal e do anormal; mantemos assim a ideia vigotskiana de que a norma seria “um conceito puramente abstrato de certa grandeza média de casos e, na prática, não é encontrada em forma pura” (p. 379).

Quanto a demandas e objetivos do processo psicoterapêutico que podem fugir desses três tipos gerais, cabe também avaliar o quanto a demanda consciente ou verbalizada pelo sujeito corresponde às suas necessidades e conflitos reais; além, é claro, do próprio processo terapêutico produzir transformações na demanda original.

Algumas categorias e conceitos da psicologia geral

Como apontado acima, conceitos não são algo estanque, imóvel, que dentro de um sistema teórico ocupam o “mesmo lugar” indefinitivamente. Pelo contrário, em diferentes esferas e níveis da realidade, um mesmo conceito ou categoria pode ocupar um lugar mais central ou secundário. Aqui também, não será possível uma exposição detalhada de cada conceito elencado, trabalho que exigiria uma monografia dedicada.

Também fiz questão de buscar ser o mais geral possível, partindo dos autores mais fundamentais da PMHD. Evidente que outros autores mais contemporâneos desenvolveram conceitos e categorias próprias — que a seu tempo também devem ser avaliadas. Porém, como o intuito deste trabalho preliminar é de pensar e revisar os fundamentos para a elaboração de uma teoria psicoterapêutica, devemos nos concentrar menos em comentadores e “gerações posteriores” de autores e mais nos autores mais basilares e fundamentais.

Reforçamos aqui também que mais do que uma lista exaustiva ou completa, definitiva, busco com as colocações a seguir uma maior sistematização, carente de complementos.

a) Princípio do determinismo

O primeiro princípio ou lei geral que destacamos é o princípio do determinismo, elaborado por S. L. Rubinstein explicitamente nos anos 1950 (RUBINSTEIN, 1974). Segundo este, e em oposição ao determinismo mecânico típico, em que há uma relação direta entre estímulo e resposta, as “causas externas agem por meio de condições internas”, ou seja, “o efeito de qualquer causa depende não apenas da natureza do objeto que atua como causa sobre outro objeto, mas também da natureza desse segundo objeto” (RUBINSTEIN, 1957, p. 266).

Isso significa que um mesmo evento pode produzir efeitos distintos sobre objetos distintos, a depender das qualidades e características desses objetos. O que determina esse efeito não são apenas as propriedades do evento, das causas, mas também dos próprios objetos que “sofrem” seu efeito.

Tal princípio se encontra presente em toda variedade de casos, orgânicos, inorgânicos, e sociais. A nível psicológico, devemos compreender as “condições internas” de forma ampla: abarca o conjunto das condições e particularidades orgânicas, as particularidades das condições sociais que formam sua personalidade, sua história de vida, suas vivências significativas, seu sistema semântico, sua visão de mundo, etc. Evidentemente que nem todas as condições internas atuarão com a mesma qualidade em todos os momentos e eventos da vida. Deve-se compreender, na relação entre causas externas e condições internas as relações específicas que determinam o indivíduo.

b) vivência

A vivência [perejivanie] deve ocupar um lugar central dentro do sistema psicoterapêutico. Ela é a unidade de análise, embora isso não signifique que ela seja o objeto específico do trabalho psicoterapêutico.

A vivência é compreendida por S. L. Rubinstein (1972) enquanto uma unidade contraditória. Ela é, em primeiro lugar, uma unidade contraditória entre subjetividade e objetividade. A vivência é sempre vivência de alguém — sua primeira característica é o fato de pertencer a um indivíduo real, cujas vivências só podem ser dadas de forma direta, única, irrepetível. A vivência também é vivência de algo — de um objeto independente do sujeito e oposto a ele. Não existe vivência pura, que se dá e explica apenas internamente: toda vivência é a correlação da subjetividade e da objetividade.

Em segundo lugar, a vivência é uma unidade contraditória entre o imediato e o mediado. Ela é imediata porque ela é o que se dá agora, nesse instante, é o confronto direto do sujeito com a realidade que vivencia. Não é possível “re-vivenciar” o passado, muito menos vivenciar o futuro. Por outro lado, a vivência é mediada porque toda vivência é confrontada com um certo saber, um certo conhecimento sobre a realidade. Esse saber pode se dar na forma de experiência passada, adquirida na história de vida do sujeito, mas também como experiência popular, cultural, e como conhecimento científico. Há níveis distintos de conhecimento que atuam e mediam a minha vivência, transformando-a significativamente.

Em terceiro lugar, a vivência é sempre a unidade contraditória entre a consciência e a não-consciência. É impossível uma vivência que se dá puramente na esfera do inconsciente ou da não-consciência, tal fato destruiria a própria concepção de vivência enquanto algo que eu vivo, que eu sinto, que eu percebo, que eu de alguma forma realizo e que se torna um evento marcante na minha história de vida. Ainda que de forma parcial, não refletida ou espontânea, toda vivência possui um grau de consciência e conscientização sobre a realidade, sobre os efeitos que determinado evento tem sobre mim, etc. Por outro lado, nenhuma vivência pode ser completamente conscientizada. Justamente pela complexidade e dinamicidade da própria realidade, pelas múltiplas determinações que atuam em diversos níveis sobre os fenômenos, é impossível ter consciência de tudo o que afeta o sujeito. Além disso, diversas tendências dinâmicas atuam sobre o sujeito, o que pode dificultar ou facilitar o seu processo de tomada de consciência, ou que determinam sua conduta, sua visão de mundo, etc.

c) Componentes psíquicos

Segundo diversos autores da PMHD (L. S. Vigotski, S. L. Rubinstein, V. N. Miasischev, B. G. Ananiev, etc.), todo fato psíquico é composto por três componentes distintos e unidos: cognitivo, afetivo, volitivo. Todo fato, toda atividade, todo processo, que se dá na esfera psicológica deve ser considerado a partir da relação entre esses três componentes. Toda ideia racional que nos surge traz em si um “colorido” afetivo e uma intenção, uma direcionalidade. Todo ato possui uma vontade por trás e um porquê semântico e emocional.

Se pudéssemos excluir um desses componentes ou priorizar um deles em detrimento dos outros, a conduta humana se tornaria muito menos complexa e muito mais compreensível a um vislumbre rápido. Se colocamos a centralidade na cognição, no conhecimento, etc., não compreendemos por que tantos atos desumanos são exercidos de forma “racional”. Da mesma forma, se a cognição fosse suficiente, se conhecer, saber, etc., por si só levasse a decisões e ações coerentes e produtoras de bem-estar, então a tomada de consciência seria o fim em si mesmo da grande maioria dos processos terapêuticos ou educacionais.

No entanto, sabemos que por trás de um pensamento não há outro pensamento e, nas palavras de L. S. Vigotski (1934/2009, p. 16), “quem separou desde o início o pensamento do afeto fechou definitivamente para si mesmo o caminho para a explicação das causas do próprio pensamento”, e devemos evitar o perigo de uma concepção intelectualista do psiquismo. Desconsiderar a volição e a emoção significa fechar parcialmente o acesso ao conhecimento verdadeiro sobre o sujeito. Por outro lado, ver no ser humano alguém que é mobilizado apenas pelos afetos, pelos desejos, pelas necessidades, “pelo estômago”, e não “pela cabeça”, periga cair em um irracionalismo e fecha qualquer possibilidade de desenvolvimento pleno do indivíduo, o coloca sempre como prisioneiro da sociabilidade.

d) Funções e processos psicológicos

O conceito de função e/ou processo psicológico é já bastante conhecido devido à disseminação da Teoria Histórico-Cultural de L. S. Vigotski. Aqui, creio ser importante também avaliar qual o papel que esta ocupa numa atuação psicoterapêutica.

Em primeiro lugar, cabe ressaltar que devemos evitar o funcionalismo criticado por G. Politzer (2022) há cem anos, mas que ainda se mantém presente: estuda-se e busca-se atuar sobre processos e funções isoladas, e não sobre um sujeito concreto. Não atuamos “sobre a atenção” ou “no pensamento”, mas no indivíduo como um todo, no sujeito que possui determinado processo de atenção ou de pensamento. Como reforça S. L. Rubinstein, devemos sempre considerar o processo psicológico como processo de um sujeito concreto e que realiza uma atividade concreta (RUBINSTEIN, 1974).

Um segundo ponto que destaco é justamente a consideração da função psicológica como atividade e como processo. Para S. L. Rubinstein (1974), focaliza-se a função psicológica como atividade quando a avaliamos e estudamos em relação à atividade do sujeito, aos motivos e fins da atividade (por exemplo, qual é o objetivo de determinado processo de pensamento), a quais necessidades busca atender, etc. Centraliza-se o estudo da função psicológica como processo quando focalizamos sua processualidade, ou seja, quando buscamos compreender quais as operações realizadas, qual a dinâmica, qual o produto do processo, etc. Por exemplo, o pensamento, como processo, ocorre a partir de determinadas operações (generalização, análise, síntese), podendo ser mais lento ou acelerado, busca solucionar determinado problema vital, e desemboca em determinados produtos (ideias, conceitos, planos de ação, etc.). Cabe ressaltar que a função psicológica ocorre ao mesmo tempo como atividade e como processo; não se tratam de dois processos distintos e separados, mas sempre unidos. A diferenciação é abstrata, trata-se de níveis de análises distintos, mas de um mesmo fenômeno concreto.

e) Individualidade, Personalidade, Sujeito

Podemos distinguir o ser humano em diferentes níveis de complexidade e desenvolvimento. Seguimos aqui a linha de distinção da psicologia soviética, especificamente de S. L. Rubinstein e B. G. Ananiev, segundo a qual o ser humano pode ser diferenciado enquanto uma individualidade, uma personalidade e um sujeito.

Um indivíduo (uma individualidade) é a primeira diferenciação do ser humano singular em relação aos outros seres humanos. Segundo B. G. Ananiev (MIROKENKO, 2019), existe uma série de variabilidades que se dão nesse nível, tais como características de idade, tipologias individuais de natureza orgânica, a dinâmica particular das funções psicofisiológicas, a estrutura das necessidades orgânicas, etc. Tais características não são imutáveis, tanto na história da humanidade, quanto na ontogênese, e se revelam com maior clareza nos primeiros meses e anos do desenvolvimento ontogenético.

Uma pessoa (uma personalidade), segundo tais autores, passa a se desenvolver na história de vida da pessoa a partir dos papéis e lugares que ela ocupa dentro da sociabilidade, as características sociais, econômicas, jurídicas, políticas, familiares, etc. É com base nessas posições que começam a se desenvolver determinados valores, ideais, interesses, sua visão de mundo, etc. A síntese desse desenvolvimento é o caráter da pessoa e a sua orientação fundamental.

Um sujeito (uma subjetividade) se define pela sua capacidade de agência, de autodeterminação e autoatualização. Tem como propriedades fundamentais e pressupostos a consciência e a atividade. Para nos desenvolvermos enquanto uma individualidade e uma personalidade, nem sempre essas características acima se encontram no centro: me torno um indivíduo e uma personalidade pela minha trajetória de vida, quer eu esteja consciente do que me constitui enquanto pessoa, quer eu desempenhe um papel conscientemente ativo na minha construção enquanto “eu”. Quando falamos de um sujeito, necessariamente devemos levar em consideração a sua capacidade de autodesenvolvimento, sua agência na tomada de decisão, de escolher aquilo que lhe é mais significativo, que consolida as tendências do seu desenvolvimento que se encontram mais de acordo com seu “eu”, que produz um grau maior de autonomia e poder de decisão. Nesse sentido, diferentemente do ser humano enquanto individualidade e enquanto personalidade, a qualidade de sujeito não é dada simplesmente pela trajetória de vida, mas é algo desenvolvido, passível de ser adquirido ou não, em graus diferenciados, a partir das condições de vida que lhe são dadas, do desenvolvimento da sua consciência e autoconsciência, do desenvolvimento da sua volição, das suas emoções e da sua cognição.

f) Atividade, Ação, Ato

A atividade constitui um elemento central de alguns dos principais sistemas psicológicos soviéticos — especificamente de S. L. Rubinstein (1972) e A. N. Leontiev (2021). Não cabe aqui explicitar a distinção e desacordo entre esses autores, mas sua consideração é imprescindível em qualquer sistema teórico que se baseie no materialismo histórico-dialético.

Diferentemente do reflexo e da reação — que são manifestações diretas do ser humano, muitas vezes involuntária e inconsciente — a atividade é uma manifestação mais complexa, mediada e rica do indivíduo, que permite como um “acesso” ao seu psiquismo. O estudo da atividade, para S. L. Rubinstein (1934/2021), permitiria superar tanto a observação direta do comportamento quanto a introspecção — ambas as concepções compreendendo a consciência enquanto um fenômeno inacessível ao estudo científico.

Pela atividade, conhecemos o sujeito, suas necessidades, seus motivos, seus fins. Isso porque o sujeito não precisa estar (e geralmente não está) consciente dos motivos pelos quais age, ou possui uma consciência parcial, limitada, distorcida, etc. Assim, pelo estudo da sua atividade, pelo estudo das suas ações, podemos acessar uma esfera do psiquismo que se encontra inacessível tanto à observação direta quanto à introspecção.

Se a atividade e a ação são momentos fundamentais da manifestação externa da subjetividade individual, o ato [postupok] é o seu elemento interno fundamental. O ato, para S. L. Rubinstein (1972), é a unidade do comportamento, assim como a ação é a unidade da atividade. Um ato não é o mesmo que qualquer ação, mas aquela “ação em que o significado principal é a relação consciente do ser humano a outras pessoas, ao geral, às normas da moral social”. Assim, diferentemente de uma ação simples, um ato expressa uma relação volitiva do sujeito com a realidade, uma tomada de posição, uma escolha entre alternativas, uma solução para um drama ou um conflito, etc.

g) Relação

A relação [otnoshenia] se coloca como um conceito central na teoria de V. N. Miasischev (2003), mas é considerada como fundamental também em outros sistemas teóricos da PMHD. Toda relação representa uma conexão psicológica consciente, seletiva, com diversos aspectos da realidade objetiva, e que se expressa em ações, reações e vivências. Estabelecemos relações com diversos elementos da realidade externa, não apenas com pessoas ou seres vivos. Nos relacionamos com objetos, com atividades, com ideias, valores, etc. Toda relação possui dentro de si uma série de elementos psicológicos fundamentais — uma necessidade, um componente afetivo, etc.

Cada relação possui uma série de características essenciais que organizam a atividade do sujeito (regulam sua conduta) e permitem uma reflexão correta da realidade. O autor destaca entre essas características a integridade, a consciência, a seletividade e a atividade.

Para V. N. Miasischev, a personalidade se constituiria enquanto um sistema de relações, um sistema eu-outro, em que as relações que o sujeito estabelece com o mundo se organizariam em níveis hierárquicos distintos, estando no centro a relação do sujeito consigo próprio. Quanto mais “próximo” do “eu” se encontram as relações, mais afetado o sujeito será por perturbações, conflitos, rompimentos, etc. Assim, na sua concepção psicoterapêutica, para V. N. Miasischev o adoecimento psíquico seria resultado de uma perturbação nas relações do sujeito, naquelas relações que são mais centrais, mais significativas. Uma outra possibilidade seria a perturbação do sistema em si, o que produziria reverberações em todas as relações individuais que o sujeito estabelece com a realidade.

O processo psicoterapêutico, para ele, se daria no sentido de uma reestruturação desse sistema eu-outro perturbado, na correção daquelas relações que se encontram perturbadas ou distorcidas e na reconstrução mais harmoniosa desse sistema (ISURINA, KARPOVA e ZHURAVLEV, 2021).

h) Diálogo

O diálogo, e de forma mais abrangente a interação ou a comunicação, é um componente central no processo de socialização e individualização. A comunicação foi muito estudada pelas escolas da psicologia soviética, assim como pela teoria da linguagem de M. Bakhtin, e deve ocupar um lugar de destaque em uma teoria psicoterapêutica.

A ideia de dialogismo e de relação dialógica, embora não seja específica da psicologia, nos permite elaborar a forma como, na relação terapêutica, se considere a singularidade subjetiva tanto do psicólogo terapeuta quanto do paciente. Trata-se de uma posição ativa de construção do diálogo, de uma lógica construída sobre a multiplicidade de vozes e que produzirá mudanças no enunciado do sujeito.

i) Visão de Mundo ou sistema semântico.

A visão de mundo, ou cosmovisão (no original alemão Weltanschauung) constitui um componente amplo e geral, porém fundamental da psicologia e especificamente aqui, do processo psicoterapêutico. Ela pode ser entendida como esse conjunto de crenças, valores, impressões, etc., que não atuam necessariamente de forma consciente, mas ordenam e organizam a forma como o sujeito irá compreender, significar, valorar, os eventos e atos de sua vida e daqueles ao seu redor.

Essa visão de mundo pode ser composta por significados e valores coerentes, mas muitas vezes se estrutura de forma contraditória: o sujeito entra em contato, ao longo da sua trajetória de vida, com uma série de valores contraditórios, com visões de mundo distintas, com motivos diversos, que inconscientemente organiza em um todo único. Assim, sua conduta pode ser orientada por valores e por uma visão de mundo que lhe é alheia, mas que se apresenta como um imperativo, e que pode produzir níveis evidentes de sofrimento psíquico.

Assim, conseguir desvelar a visão de mundo (valores, crenças, etc.), que estruturam e organizam de forma hierarquizada sua atividade, pode produzir mudanças importantes para o processo psicoterapêutico e a produção da saúde psíquica.

j) Temporalidade

A temporalidade e a trajetória de vida não são conceitos ainda muito difundidos dentro da PMHD no Brasil, mas mesmo de forma indireta acaba se revelando em análises e na própria prática psicoterapêutica.

O elemento da temporalidade diz respeito à percepção do tempo pelo sujeito e que se manifesta também de forma hierarquizada no seu discurso e no seu foco. Assim, não é incomum que durante o processo psicoterapêutico um maior foco seja dado a questões do passado, presente e futuro. A consideração pela temporalidade é fundamental pois demonstra que psicologicamente, o tempo se apresenta de forma não-linear — em muitas situações o passado ou o futuro se “presentificam”, organizam os atos de forma muito mais consistente do que a situação presente, podendo produzir distorções, avaliações erronias ou parciais, etc.

k) cotidiano e modo de vida

O cotidiano é considerado por autores da filosofia marxista (como György Lukács e Karel Kosik) como um elemento central para considerarmos a consciência espontânea. A vida cotidiana é a esfera do espontâneo, do pré-conceito, do imediato, do superficial, etc. (HELLER, 1970). Da vida cotidiana, se desdobram esferas não-cotidianas da atividade humana, como a arte, a ciência, a política, a filosofia, a religião, etc., que produzem uma reflexão mais aprofundada sobre a realidade, sobre o ser humano, e que influi novamente sobre a vida cotidiana, elevando-a a um nível superior de compreensão da realidade.

A psicoterapia pode ser compreendida nesse sentido como uma esfera não-cotidiana da reflexão consciente, que busca produzir um conhecimento acerca do cotidiano do sujeito, do seu modo de vida, das suas relações. Ela cria um espaço não-cotidiano de existência e reflexão e que influi em uma nova reflexão sobre a cotidianidade, produzindo transformações no agir diário do sujeito.

l) consciência e autoconsciência

Por último, destaco a consciência e a autoconsciência como conceitos gerais fundamentais para pensarmos a psicoterapia. Nas últimas páginas mencionei em diversos momentos acerca do processo de tomada de consciência, ou de novos conhecimentos formados a partir da psicoterapia. Aqui, busco destacar exatamente esse processo.

A tomada de consciência, ou a conscientização, diz respeito à capacidade do sujeito de formular um conhecimento acerca da realidade externa. A consciência é uma qualidade do psiquismo em relação a um objeto: “tenho consciência de”. Tomar consciência de algo significa compreender as relações e nexos internos essenciais que determinam determinado objeto ou fenômeno, significa conhecer algo de forma mais aprofundada (RUBINSTEIN, 1957/1963).

Nesse sentido, a autoconsciência é o conhecimento formado acerca de si mesmo. Significa compreender as relações, eventos, atos, que determinam a constituição do “eu”. Significa contextualizar a existência do “eu” no conjunto de eventos e ações e que qualificam o “eu” de determinadas formas, não em um sentido apenas contemplativo ou teorético, mas visando a construção de um outro “eu”, potencializada por esse novo conhecimento formado.

Conclusão

Esse artigo teve como proposta apresentar algumas categorias e conceitos gerais que avalio serem centrais para se pensar uma teoria psicoterapêutica orientada pela PMHD. Evidentemente, ele não esgota a questão, e mesmo os conceitos enunciados acima requerem maior aprofundamento e debate, inclusive para avaliar a coerência e consistência deles com uma teoria psicoterapêutica.

Além disso, cabe ressaltar que estas são categorias e conceitos gerais. Deve-se ainda avaliar dentro da teoria psicoterapêutica quais são os conceitos específicos essenciais para a prática, algo que não cabe nesse texto, mas que enumero para reflexão posterior: conceitos como a) diagnóstico; b) processo saúde-doença; c) catarse; d) insight; e) influência psicoterapêutica; f) psicocorreção; g) alívio, entre outros.

Reforço que esta se coloca apenas como uma tentativa de sistematizar algumas noções mais gerais da teoria psicoterapêutica. Essa só é possível a partir de dois pressupostos: o trabalho coletivo de sistematização dessas ideias, e o confrontamento com a prática efetiva. A sistematização exposta acima é resultado de ambos, e se coloca não como ponto final, mas como um “meio do caminho”, um ponto de checagem para se avaliar o caminho a ser seguido a partir daqui.

Referências

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NOTAS

[1] Por PMHD, entendo aquelas teorias e escolas que se orientam pelos pressupostos filosóficos e ético-políticos formulados pelos principais autores do materialismo histórico-dialético, tais como as escolas soviéticas (de L. S. Vigotski, A. N. Leontiev, S. L. Rubinstein, B. G. Ananiev, V. N. Miasischev), a Psicologia Crítica de K. Holzkamp, as escolas francesas de G. Politzer e L. Sève, a psicologia da libertação de I. Martin-Baró, entre outras.

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Bruno Bianchi
Psicologia MHD

Pai. Psicólogo e especialista em gestão pública. Tradutor e militante do PCB