Agosto — Iluminação ou loucura

Lyz Beltrame
Psicopompus de Luxo
6 min readJul 29, 2023

No tarô de Aleister Crowley, o tarô de Toth, cada carta tem um nome, até os arcanos menores. E o 10 de Espadas se chama Ruína. Vou me referir aos conceitos do 10 de Espadas ao longo do texto simplesmente como: Ruína®

Tem coisas que não são inteligíveis. Mas a gente tenta. Como todos os outros órgãos da percepção e da vitalidade o cérebro não pára de produzir pensamentos, conexões, associações e quer porque quer achar lógica no que não é feito de lógica.

As sensações, os sentimentos, a fé e a gnose; Bem como o karma e o dharma, a maneira como a vida se impõe sobre as nossas decisões e a maneira como a força maior do fluxo das coisas deforma as nossas perspectivas para poderem se dar: são material do insondável.

O 10 de Espadas, processo final da mente, A Ruína Do Intelecto representa o esforço da mente em compreender o incompreensível; e claro, sua derrocada!

Ruína ou Satori

1:06:43 — “O método Rinzai, no entanto, foca em colocar o intelecto para resolver problemas sem resolução lógica. (…) O objetivo é induzir a um certo tipo de catástrofe intelectual: um pulo que eleva o indivíduo para além do domínio das palavras e da razão à uma experiência inexplicável — o Satori. O Zen (…) não é um método meditativo progressivo de iluminação (…). Como um raio que dá um curto circuito no intelecto e não existe mais a barreira entre a realidade e quem a experiencia.”

Quando confrontados com experiências, sinestesias, gozos, paixões, gnoses inexplicáveis em que a mente não tem acesso passamos por uma espécie de catástrofe: tudo deixa de ser como era e a percepção se abre.

Iluminação ou loucura.

Aquilo que não pode ser explicado nos maravilha ou nos assusta. As grandes paixões, desejos e o fluxo do dharma (a sensação absoluta de presença por estar exatamente onde se quer estar) nos atrai e nos repele.

É que esses sentimentos imensos nos expõem e arriscam a nossa sanidade. Esses Grandes Objetivos que tocam o exercício da vocação, as relações mais intensas que nos despem, a catarse da fé e da gnose: são paixões que nos fazem refém de nós mesmos, têm um certo domínio sobre nós.

É que essas sensações arriscam a nossa sanidade, racionalidade e são poucas as pessoas que tankam ser rasgadas ao meio e andar por aí pelo avesso em carne viva.

Fugimos > Recorremos ao intelecto > O intelecto não dá conta > O insondável nos engole > Ruína®

Agosto é feito exatamente do material que nos arrebata

959/2323/1414/19/10 vem no ciclo do 09 (dias 09, 19 e 29)

O 5 é justamente o valor que vai tratar de todo sensorial que nos arrebata e nos movimenta. Tudo parece um banho de soda cáustica e feito sob medida pra nos arder.

Acontece que como a repetição vem circundada pelo 9— que é valor de finalização, transformação, iluminação, do insondável, do inexplicável e ao mesmo tempo das ambições, utopias e da unicidade monista em que não só entramos em contato com a divindade mas somos a divindade — essas sensações estarão nos confrontando com isso!

Se os prazeres que buscamos são ciclos viciosos vazios ou nos arrebatam em direção à unicidade. Seja aí a prática mágica ou a sexualidade que nos lançam à outros patamares. Aqui o sexo que nos conecta profundamente, o Tantra que nos mescla até a sexualidade enquanto práxis política.

A sexualidade em todos seus aspectos, até a maneira como lidamos com nossos objetos de desejo e nessa configuração:

Porquê fugimos ou como encaramos quando o sensorial é tão arrebatador que não há vocabulário neste mundo que explique

É mês de guia 6 portanto podemos estar rememorando essas sensações e as revivendo, as colocando em perspectiva ou levantando os padrões e formações afetivas. Ou profundamente apaixonados e isso tocando nas nossas emoções mais complexas.

Caso é que essa sequência nos exige encarar o ilógico, o absurdo, o insondável, o inexplicável. E quer que a nossa atenção esteja nessas relações, práticas e atividades que nos enlouquecem — não tem como fugir.

Dasha Yukhimiuyk

Ou entramos em contato com elas e aceitamos que Destino, Dharma, Karma, Vocação, Sexualidade, Propósito quê seja está no campo do render-se, aceitar e sentir ou percebemos uma profunda falta de sentido na vida que levamos.

E isso vai doer!

Até aqui tudo parece muito romântico, mas na verdade tudo é muito ardido.

A segunda metade dessa sequência 2323/1414/19 vem no ciclo do 05 (dias 05, 15 e 25) além do ciclo dos dias 09

Essas são repetições que tratam dos planejamentos de uma vida que esteja melhor alinhada com o que queremos ser e viver. Ok, beleza — mas o que queremos ser e viver está sendo posto em xeque há meses e agora na perspectiva dessas paixões que nos arrastam para transcender o quê quer que seja: o quê caralhos eu vou planejar pra minha vida?!

Novamente: estamos tocando sensações que estão nos puxando contra uma lógica (social, econômica, psicológica) que diz que deveríamos fazer outra coisa mas simplesmente não conseguimos!

E aí esses valores vão nos deixar um tanto pessimistas e derrotistas na tentativa de traçar uma direção concreta pra uma vida que não compreendemos.

Não é sobre compreender. É sobre render-se.

Lá no dia 22 vemos essa sequência de um jeito um pouco diferente numa configuração perigosa: 4114/525/1616/68

Valor de mudança de casa ou imóvel (um sentimento geral de impossibilidade de ser a si ou viver esses arrebatamentos onde se está ou como se está) o 68 fecha uma linha que trata de falência, perda e viuvez.

São valores que não estão dispostos a esperar a gente racionalizar as coisas pra entender e decidir

As separações em Agosto são impostas, violentas, derradeiras. Ao todo são sete dias durante o mês com valores de morte com potencial violento. Dias 11, 12, 13, 15, 16, 22 e 27 tratando com 1521 e 1516 que falam de acidentes que podem não ser tão acidentes assim… 525 fala da morte do nosso conge.

Novamente: sendo mês de guia 6 poderemos estar lidando com o histórico da nossa família e outros traumas que nos formaram.

Dasha Yukhimiuk

Não bastasse as coisas nos sendo arrancadas à força no ciclo do 02 (dias 02, 12 e 22 e dia 17 também) vemos o intragável 575/1212 que são mudanças que nos acontecem contra a nossa vontade. Estando prontos ou não.

Mas ao redor dessa situação temos os valores do Karma, da ancestralidade e do Destino nos apertando: dias 18, 19, 27 e 29 trazem variações do 78 em termos das responsabilidades encarnatórias que assumimos. O guia 6 do mês deixa isso mais intenso.

É na mesma época que teremos as velhas conhecidas sequências de mudar as coisas; 1818 e 1918 dias 19, 21 e 29. Pouco em comparação ao que já vimos por aí, mas Agosto está com uma metralhadora contra a nossa espadinha.

Não é mais sobre como encarar as transições da vida, as Torres já caíram: ou já limpamos a passagem ou teremos que passar por entre os cacos.

E as coisas vão nos acontecer sem aviso, vão explodir na nossa mão, como bombinhas que nem sabíamos que estavam armadas ou bombas muito grandes que assistimos explodir em câmera lenta por não saber desarmar.

Enquanto isso o ciclo do 04 (dias 04, 14 e 24) traz o 923 que vai demonstrar exatamente do quê as nossas amizades são feitas. A coisa fica mais séria dia 16 com o 925 que exige lealdade dessas relações e… bem, nem todas têm isso a oferecer.

Não bastasse tudo isso o somático e vulnerável 24 vem praticamente todos os dias (seria mais fácil citar as exceções) e tudo isso nos atinge emocionalmente e se imprime no corpo e na saúde.

Vamos precisar das nossas relações de maior fé, familiaridade e segurança pra conseguirmos lidar com a quantidade de coisa rolando e processar esses sentimentos pra podermos buscar essas paixões ilógicas mas que dão todo sentido à nossa vida enquanto assistimos o colapso de tudo que estamos teimosamente segurando.

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Lyz Beltrame
Psicopompus de Luxo

Cartomante, numeróloga e oráculo das estrelas. Designer, ourives e desenhista wannabe.