Os Primeiros Jogos da Série Mana Nos Lembram Que Ninguém Nos Deve Um Final Feliz

Nadia Oxford — 22 de Março de 2016

Gabriel Thomé
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5 min readJan 19, 2018

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O texto a seguir é uma tradução não oficial de “The Early Mana Games Remind Us We’re Not Owed a Happy Ending”, originalmente escrito por Nadia Oxford. Para ler o texto original clique aqui

No mês passado eu comprei o Adventures of Mana do iOS, e acabei ele bem rápido. Eu me diverti muito, apesar de entender o porquê de alguém se sentir receoso de experimentá-lo. Afinal de contas, é um jogo com bastante ação e que você joga numa tela de toque. É uma coisa que leva tempo pra se acostumar, e por mais que eu tenha o privilégio de ter anos de experiência nisso (escrevo para sites de celular desde 2009), outras pessoas têm seus motivos para não se interessar.

Eu consigo entender. Digo, eu simplesmente não consigo me acostumar ao teclado e mouse. Eu tentei. Falhei na maioria das vezes. Não rola. Então eu não vou implicar com alguém que não joga Adventures of Mana por causa da sua interface touchscreen.

Eu meio que gostaria que mais pessoas o dessem uma chance, porém. No Japão, o jogo também está disponível no Vita. Na América do Norte… éééééé… Não.

Adventures of Mana é um remake do Final Fantasy Adventure de 1991 para o Game Boy. Final Fantasy Adventure é, por sua vez, o antecessor de Secret of Mana, um dos meus jogos favoritos de todo os tempos. Como já era esperado, os dois jogos têm muito em comum, incluindo grandes árvores sagradas, grandes espadas sagradas, uns outros trecos sagrados e grandes problemas afligindo esses objetos.

“É, pode até ser impressionante, mas o do meu ex era tipo–”

Ambos os jogos também apresentam finais lastimáveis, e eu percebi o quão importante isso é.

Atualmente, aventuras que sacodem nossas emoções como se fossem um chocalho barato são a norma. Digo, é aceitável admitir que depois de tantos meses, a His Theme do Undertale ainda me faz querer espremer a minha cabeça contra o teclado chorando em prantos? Não porque a música é divina (ela é), mas por causa dos eventos que a acompanham?

E a parte engraçada é que, os acontecimentos mais emocionantes que cercam Undertale são ponderadamente retidados de RPGs antigos. Earthbound. Illusion of Gaia. Phantasy Star. Secret of Mana. Final Fantasy Adventure.

Na verdade, a interminável sucessão de homenagens que Undertale faz é um belo lembrete de como os RPGs têm nos contado histórias comoventes desde sempre. Mas eu acho que nós não percebemos direito até a era 16 bits (praqueles que cresceram com jogos de consoles e não de PC), e é por isso que quero destacar o final de Final Fantasy Adventure.

[Spoilers!! Obviamente!!]

Final Fantasy Adventure e Secret of Mana compartilham duas outras características: Ambos contém mulheres que viram árvores fodonas que protegem o equilíbrio do mudo, e essas árvores acabam sendo bombardeadas pelo cara do mal. No encerramento do Adventure, a Mana Tree é escorraçada durante a batalha final com Julius Vandole, o ilusionista disfarçado. Fuji, a mulher que Sumo, o personagem principal, ficou de resgatar pra início de conversa, vira árvore no lugar de sua mãe.

(A propósito, não suporto que nos designs de personagens originais do Final Fantasy Adventure / Seiken Densetsu ninguém tem nariz com exceção do Julius. Ela manteve seu inalador. Acho que em troca disso ele perdeu a boca.)

“Mas Sr. Vandole — como vai assumir controle do mundo se você–” ah, deixa pra lá.

Então quando Fuji vira a árvore, Sumo perde uma namorada em potencial. Os dois se despedem e Sumo vai embora desajeitadamente.

Não é um final inédito. Definitivamente não é gradual: Fuji faz um monte de nada no Adventure além de ser pego e ter a mente dominada. Mas eu admiro o escritor do jogo ter batido o pé numa época de princesas resgatadas e reinos restaurados para dizer “Quer saber? Esquece toda essa doçura. Vai ter amargura até não dar mais.”

E mesmo Sumo e Fuji tecnicamente não tendo muitas oportunidades de se aproximar em Final Fantasy Adventure — ou em Adventures of Mana — eu digo “Cacete.” toda vez que assisto os finais dos jogos. Você meio que presume que os dois vão se dar bem no final, mas aí a Mamãe vai e dá à filha a escolha cretina entre amor verdadeiro e salvar o mundo.

Pior ainda, o chocobo companheiro do Sumo (que te segue durante a maior parte do jogo) encontra uma amiguinha. Ele fica acoado até que Sumo dá um empurrãozinho nos dois e vai embora.

Não. Nããããããããão.

Secret of Mana ainda piora ao te separar do seu Sprite companheiro no desfecho da sua aventura. Destruir o furioso Mana Beast é uma necessidade, já que ele está prestes a se enfiar no cu da Terra e explodir, mas matar o grandão também quer dizer que a Mana não será restaurada ao seu equilíbrio ideal de imediato — o que significa que criaturas mágicas como o Sprite terão de lamentar.

E deixa eu te falar uma coisa, quando você tem 14 anos e não é bom em jogos, o Mana Beast é uma luta da porra já que sua recompensa é basicalmente “Ops, o personagem que você gostava morreu LOL.”

Eu nem sei quem decidiu que os Mana deviam ter finais lastimáveis, mas cá estamos nós. Final Fantasy Adventure possivelmente nos deu nosso primeiro “Final Ruim!” tirado da bunda só pra fazer-nos terminar o jogo no modo difícil pra liberar o final “verdadeiro”.

E porra, aqueles sprites cor de repolho com suas testas prensadas e armas impraticavelmente enormes me emocionaram. Suponho que a lição de moral “A vida é ruim, lide com isso” é válida não importa se você a aprende com uma tragédia pessoal, uma ida ao parque de diversões arruinada pela chuva, ou um homenzinho com um coraçãozinho partido numa telinha de Game Boy.

NÃO. NÃO, ENTENDI.

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Gabriel Thomé
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Game Designer de papel e caneta, às vezes de mouse e teclado também.