Escreva com o coração.

Anderson Milhomem
Community Lotus
Published in
2 min readNov 24, 2021
Photo by Aaron Burden

Não lembro a última vez que enviei uma carta e muito menos a última que recebi. Lembro apenas que adorava ir até uma agência do Correios enviar qualquer coisa, um pedido de um curso para o Instituto Universal Brasileiro, um desenho para Maurício de Sousa ou uma simples carta para meu pai quando viajávamos sem ele. E mais prazeroso que enviar era receber uma cartinha deixada por aquele velho carteiro já conhecido da vizinhança.

Alguém aí, com menos de 20 anos, tem ideia do que estou falando? Você aí, da geração da digitação, sabe o que é datilografia? Não, não consulte o gugôu. Me diga mais: tirando a fatura do cartão de crédito, as encomendas do Netshoes ou Privalia, você recebeu alguma correspondência nos últimos anos de alguém? Daquele amigo ou parente que não vê há tempos e que mora em algum lugar remoto do planeta? Ou mesmo daqueles que estão um pouco mais próximos? E enviou alguma? Nem precisa responder, já sei a resposta.

Pois bem, semana passada me deparei com uma notícia incrível. A Fundação Hélio Augusto de Souza, de São José dos Campos, propôs aos alunos que escrevessem uma carta para aquelas pessoas que eles mais amavam. Essa simples ideia, porém genial, surgiu da professora de informática Juliana Cunha Sampaio. “Toda carta deve ser escrita com o coração”, disse ela aos alunos.

Que tal? Por que não fazemos o mesmo? Papel e caneta à mão. Largue mouse e teclado por alguns dias e escreva uma cartinha para a sua avó, por exemplo. Tenho certeza que ela irá adorar e que sua atitude será o assunto do próximo chá com as amigas. Tem coisa melhor que escrever para quem amamos e sentimos saudade? E tem coisa mais deliciosa –e brega — que escrever cartinha de amor? Palavras derretidas em papel almaço? Quem nunca morreu de amores lendo os garranchos da(o) amada(o)?

Sei que alguns dirão que dá trabalho, que não tem tempo para, além de escrever, envelopar, levar a uma agência do Correios, colocar o selo, blábláblá… Ora bolas, o prazer está aí. Você, que já lambeu um envelope para fechá-lo, vai me dar razão. Qual a graça de digitar um texto rápido, cheio de abreviações, sem alma, clicar em “enviar” e esperar sentado uma resposta? Mais frio que isso só desejando feliz aniversário pelo Facebook.

Mãos à obra. Só não se esqueça da lição da professora Juliana.

— — —

Anderson Milhomem, 51 anos, brasileiro, é um diretor de arte que ama escrever, que é fascinado por livros, que enxerga design em tudo e que acredita que seu amado Vila Nova F. C. será um dos gigantes do futebol mundial um dia — ninguém é perfeito.

--

--

Anderson Milhomem
Community Lotus

Deus não é brasileiro, eu sim. Sou pai, já plantei algumas árvores. Não escrevi meu livro. Quero mesmo é saber pra que serve o TikTok. O livro que espere.