Veterano em fotografia fala do mercado publicitário atual

José Luiz Pinotti narra um pouco de sua jornada e comenta sobre o poder da informação

Felipe Caetano
PubliPlus (college project)
5 min readNov 25, 2018

--

José Luiz Pinotti nos recebeu de braços abertos e com muita empolgação para a entrevista. Já era tarde da noite e seu turno na faculdade estava terminando. Mesmo assim, ele não se importou de passar de seu tempo para conversar conosco.

Gostaria de ouvir essa entrevista na íntegra? Clique aqui ou vá até o final da página para ouvi-la.

A conversa foi longa e passou por várias áreas, como a história de Pinotti, o mercado publicitário, a era da fotografia analógica (e a sua transição para a era digital), bloqueios criativos e a era da informação.

Confira os momentos mais importantes de nossa entrevista:

Pinotti começou nos contando como entrou na área da fotografia e no mercado publicitário. Ele nos contou que, em 1985, também trabalhou em uma rádio em sua cidade natal, porém, para Pinotti, “a imagem faltava”.

O professor sabia que queria trabalhar com a comunicação, por isso prestou para o curso de Publicidade e Propaganda, em 1984. Depois, juntou-se ao seu primo, que já estava no meio da fotografia. Assim, ele descobriu que “queria trabalhar com imagem”. Apenas de observar o trabalho da equipe, Pinotti foi aprendendo.

Isso se deu até 1986, quando Pinotti começou a trabalhar no estúdio de TV e Fotografia da UNIMEP, sua antiga faculdade. Nessa época, ele começou a fazer diversos cursos paralelos relacionados a roteiro e fotografia — tudo isso enquanto trabalhava aos finais de semana na antiga empresa com seu primo.

Porém, apenas em meados dos anos 1990, Pinotti começou a dar aula no curso de Rádio e TV, enquanto trabalhava simultaneamente em uma produtora de TV.

Agora, Pinotti trabalha quase exclusivamente na área de professor, porém diz que nunca vai deixar a “atividade de freelancer”.

Depois disso, perguntamos para ele como foi a transição da tecnologia analógica para a tecnologia digital.

Para ele a principal diferença é “o elemento surpresa”.

“Você tinha que dominar a técnica; fotografar na confiança de que você acertou”, disse se referindo sobre a revelação do filme. Concluiu dizendo que “havia uma preocupação maior na hora do disparo”.

Pinotti também seguiu dizendo que havia um número menor de câmeras disponíveis no mercado, o que fazia com que o equipamento tivesse uma vida útil maior.

“A evolução acontecia de uma forma muito mais lenta”.

O professor também acabou dando a sua opinião sobre termos “amador” e “profissional”.

“Profissional é o fotografo, o equipamento é só uma ferramenta”.

Ele concluiu o assunto de “analógico e digital” dizendo que a maior facilidade com o digital é a pós-produção e a transferência de arquivos.

“Essa dinâmica, profissionalmente, ficou muito melhor”.

Porém não deixou de ressaltar o mercado de fotógrafos questionáveis em qualidade.

Comentei “é o famoso mercado do ‘eu tenho um sobrinho que faz.” O professor riu e acrescentou “exatamente! ‘Tenho um sobrinho que ótimo!’.” Ele então concluiu dizendo da importância de um ensino mais aprofundado:

“A faculdade não proporciona ao aluno uma formação completa, mas ela te dá um referencial que vai nortear seu trabalho, que proporciona o uso correto das ferramentas”.

Após o momento de descontração, decidimos levar a conversa para outro tópico. Perguntamos qual diferença Pinotti via em si mesmo, no âmbito profissional, quando ele começou e hoje em dia.

“Houve uma mudança em todos os aspectos”, Pinotti comentou, se referindo a facilidade que hoje existe. Ele destacou a eficiência que hoje ele tem para produzir em maior quantidade, maior velocidade, sem perder a qualidade.

E qual o processo por trás da sua produção?”, eu o questionei me referindo ao processo criativo por trás das fotografias. Pinotti respondeu com grandes dicas para todo criativo:

“Informação é imprescindível para qualquer processo criativo”.

Para Pinotti, independente de trabalho de criação, existem alguns pilares para a produção de uma boa peça. Pinotti disse que a chave é o conhecimento:

“Levantar o máximo de informações possíveis sobre o mercado, produto, concorrente, universo de público-alvo […] Não adianta fazer uma peça ‘toda diferente’ para um público que não vai entender”.

Ele então seguiu a citar um de seus clientes, uma grande empresa do agronegócio. Pinotti nos disse que sempre que ia fazer um trabalho para eles, sempre havia um profissional da área o acompanhando:

“Tinham detalhes que, ou não poderiam aparecer ou precisavam ser destacados […] Usamos o nosso lado técnico — conhecimento de enquadramento, posicionamento, iluminação — e dessa outra mão-de-obra que contém a informação, para que os elementos sejam produzidos em harmonia”.

Continuamos no tópico da criação, porém partimos para a grande dificuldade dos novos criativos: os bloqueios (ou barreiras) criativos. Assim, como no último questionamento, o professor disse que, para qualquer produção, a técnica deve se nortear na informação, e vice-versa.

Nós então o questionamos sobre qual futuro Pinotti via para a publicidade. Ele usou os exemplos da evolução das câmeras, que se deu em um período muito curto de tempo. Para Pinotti chega a ser quase impossível dar uma previsão meramente assertiva para o futuro: “Fazer previsão é quase uma heresia”, brincou o professor. Porém, se mostrou otimista no avanço da tecnologia e em relação a acessibilidade.

Chegando ao final da entrevista, perguntamos qual seria seu principal recado para os novos publicitários:

“O que eu percebo nas novas gerações é falta de conteúdo. […] É essa base de conteúdo que faz a diferença em seu produto final”.

“(O nosso público-alvo) não precisa saber porquê ele está sendo convencidos, somos nós que precisamos saber convencê-los. Para isso precisamos de informação”. O professor ressaltou a importância dos materiais mais densos e teóricos, como livros e “a diversidade de leituras”

Terminamos a entrevista a tempo da faculdade, e do laboratório onde estávamos, se fecharem completamente. Ao final, Pinotti se mostrou satisfeito com o andamento da entrevista, assim como nós, que fomos “iluminados” (no sentido iluminista da palavra) com a sabedoria de um profissional experiente da área.

Algumas fotos que Pinotti nos enviou.

Para ouvir a entrevista na íntegra clique aqui, ou aperte Play ou “Ouvir no Navegador” logo abaixo. Se gostou deixe um comentário e não deixe de compartilhar!

--

--

Felipe Caetano
PubliPlus (college project)

Designer who helps big and small brands to search and solve their problems, with smart design, branding and awesome visuals. Currently working @ Snap-on.