Internet: Expressão da Individualidade ou Reprodução da Massificação?

Letícia Kling
PULPLACE
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3 min readSep 21, 2017

Um problema já apresentado por vários cientistas é que com o acesso quase infinito que temos aos mais variados tipos de informação, acabamos estagnados numa zona de conforto onde a preguiça e a falta de interesse tornam-se uma barreira contra a busca pelo o desconhecido. O que seria a solução contra o problema da manipulação [a internet] acaba transformando-se num engenho onde o indivíduo deixa-se cair numa manipulação estipulada por sí mesmo.

A indústria cultural, como abordada posteriormente pelos integrantes da Escola de Frankfurt, massacra qualquer outro tipo de cultura e entretenimento que não o de massa. Sejamos sinceros, a massificação da sociedade sempre foi vantajosa para as instituições, o próprio pensamento hegeliano, inspirador do comunismo, defende o abrir mão da Individualidade em prol da revolução.

O consumo de entretenimento se faz quase que inconscientemente, a todo momentos nos é empurrado goela à baixo o consumo de produções de baixa qualidade. Todas as músicas soam iguais, as novelas propõe poucas reflexões, e quando existem são superficiais, livros e museus estão quase fora de cogitação; quando entro no Facebook por exemplo (mídia social mais popular) o que vejo é uma propagação dos padrões já estabelecidos independentemente de internet: como se vestir, se portar, o que consumir, o que é descolado ou não.

Mas com posso julgar essas pessoas por essa manipulação se elas não têm base para consumir outro tipo de coisa? É evidente que uma pessoa que trabalha o dia inteiro não tem como chegar em casa e ficar estudando ciência política, ou consumir uma forma de cultura erudita, além de existir uma incapacidade financeira de consumir a “alta cultura” e pensamentos filosóficos e políticos, existe também a incapacidade de entendimento de tais conteúdos, é necessário uma base de estudo antes de enfrentar longas teses e diferentes tipos de arte. O sistema trabalha de tal maneira que impossibilita o acesso a algo diferente do que ele lhe impõe.

Por um lado eu e diversas outras pessoas acham na internet uma maneira de expressar sua individualidade, entrar em contato com coisas diferentes que acabam lhe atraindo e se transformam num interesse que se encaixa na sua personalidade, escrever esse texto é uma maneira de me expressar, ouvir uma banda que jamais tocaria na televisão, ver um filme pouco conhecido, entrar em contato com pessoas diferentes de culturas diferentes, tudo isso contribui para a evolução do meu senso crítico e expansão do meu conhecimento, acabo me tornar um elemento diferenciado do resto de uma massa que nem deve saber que a plataforma medium existe, que não deve saber quem é Hegel ou Escola de Frankfurt. Mas novamente, não me cabe culpar essas pessoas, muito menos as que se sentem honestamente desinteressadas pelos tópicos que eu me interesso, o intuito aqui não é me colocar como melhor ou pior, todos temos a mesma capacidade mas usamos ela de maneiras diferentes.

Em suma, concluo que o problema não está inteiramente nas pessoas, mas na máquina da indústria cultural, essa sim é a responsável pela manipulação das pessoas em benefício das instituições, não é o que aconteceria no caso de massificação em prol de uma revolução, pois no primeiro caso o povo é insconscientemente conduzido a certas práticas e comportamento; chegamos num grau de degradação que o que foge do apresentado pela indústria cultural é classificado como chato, desinteressante, as pessoas por vezes escolhem não consumir coisas diferentes por já se acomodarem como menos inteligente ou capazes. Nos dão uma “pseudo-liberdade” de expressar nossa personalidade mas nos repreendem com padrões.

O quê representa essa liberdade? Nada além de escravidão e suicídio! […] pois lhe conferiram direitos, mas ainda não lhe indicaram os meios de satisfazer as suas necessidades. Só vivem para invejar uns aos outros, para a sensualidade e a ostentação. — Os Irmãos Karamazov, Dostoiévski.

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Letícia Kling
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