Punho Cineclube #3: Ancestralidade, memória e maternidades

laryssa andrade
PUNHO
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3 min readJun 21, 2023

Um texto sobre os filmes alagoanos exibidos na terceira sessão do Punho Cineclube.

Tempos diferentes, lugares diferentes e sentimentos iguais. Quem esteve na sessão de número três do Punho Cineclube presenciou a interlocução entre os filmes criados por alagoanas. Mas, o que eles têm em comum?

Still do documentário “O Lugar que Somos” (2021, dir. Laryssa Andrade)

O primeiro semestre de 2023 foi marcado pelo início do Punho Cineclube, uma iniciativa do Punho Coletivo, realizada com recursos do Fundo de Desenvolvimento de Ações Culturais (FDAC) – VI Prêmio Pedro da Rocha, da Secult Alagoas e com o apoio do Centro Cultural Arte Pajuçara.

Desde seu início, em 2019, as atividades do coletivo buscam difundir e fortalecer o trabalho realizado por mulheres que trabalham com a Fotografia, Audiovisual e outras formas artísticas da Imagem em Alagoas.

A partir da organização do cineclube isso foi além, ampliando não só a visibilidade de produções realizadas por mulheres, como também trazendo para perto debates sobre obras locais e a interlocução destas com outras espalhadas pelo Brasil (e pelo mundo).

Fotografia: Laryssa Andrade / Punho Coletivo

Entre outros temas, os filmes da terceira sessão nos permitiram refletir sobre memória, ancestralidade e maternidades. Eu diria mais. Vimos o afeto ali. Não pouco, mas o suficiente, um afago. Mãos que trabalharam (e trabalham) guiadas a um sustento próprio e dos seus. Seja auxiliando mulheres a parir, costurando roupas há gerações ou trabalhando em feiras movimentadas da cidade, os filmes trazidos falam sobre mulheres e os seus caminhos.

No caso de Parteiras (2018), com roteiro e direção de Arilene de Castro, encontramos idosas residentes no interior de Alagoas. Em vinte minutos da obra, os relatos se misturam com um presente distinto ao da época contada. Se hoje as salas de hospitais e equipes fazem parte do relato dos partos de mulheres, para a memória antiga das parteiras alagoanas, as equipes eram formadas pela mãe, o filho em seu ventre, uma mulher para auxiliar o parto e, bem, as orações cheias de esperança para trazer uma criança ao mundo. E trouxeram várias.

Perto desse lugar, fomos para outros lugares. Ver O Lugar que Somos (2021) ocupando um cinema e falar desse sentimento familiar, tão pessoal e, ao mesmo tempo, vasto, foi uma das coisas mais bonitas que o cinema me proporcionou. Eu não estava apenas enquanto roteirista e diretora ali. Eu fui a filha, a neta, a sobrinha; a integrante de um coletivo, a mulher com uma câmera na mão e outros sentimentos pulsantes. Mas, acima de tudo, feliz por ver esse movimento todo acontecer.

Em Feirinha (2019), esse sentimento é expandido. O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Maysa Reis, que assina a direção do filme, tem em sua produção uma equipe formada apenas por mulheres. Com fotografia de Renata Baracho, fomos levadas para a feirinha do bairro do Jacintinho, em Maceió. Os sons de um cotidiano vivo, os barulhos de carros, ônibus, pessoas que caminham, não nos afastaram daqueles testemunhos, aqueles que vem de dentro, dos quais só o nosso coração pode falar. As histórias das trabalhadoras nos convidam a imaginar as condições de vida que elas enfrentam, como também em suas casas, e suas perspectivas de futuro.

Futuro que gosto de imaginar assim: uma sala de cinema pronta para receber um cinema feito por nós, por elas, com elas e para elas, para nós.

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laryssa andrade
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fotógrafa que escreve cotidianos e outras memórias.