Futebol: isso ainda vai ser grande em Cuba

Puntero Izquierdo
Puntero Izquierdo
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5 min readJun 23, 2015

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Em ensaio fotográfico, a paixão dos cubanos pelo futebol, um esporte que ainda será grande
no país do baseball.

POR GABRIEL UCHIDA
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@fototorcida

Quando um cubano diz “jogar bola”, diferentemente dos brasileiros, ele se refere ao baseball, historicamente o esporte nacional. Porém, o que rola nas esquinas, camisas e bares do país é Barcelona, Real Madrid, Cristiano Ronaldo e Neymar. É visível nas ruas cubanas que o futebol é mais popular que o baseball. “Foi feito um estudo entre jovens de até 25 anos e 89,1% preferem o futebol”, conta Dariem Diaz, técnico do La Habana, time da capital.

A história de Dariem é um exemplo dessa nova paixão dos cubanos. Quando o conheci, no começo de 2014, ele disse em perfeito português “Eu sou brasileiro… de coração”. O técnico é tão fanático que seus filhos chamam Romário, em homenagem ao “baixinho”, e Thiago, por conta de Thiago Silva. “Eu não sou brasileiro, mas tenho orgulho do pentacampeonato e sofro quando o Brasil perde”. O técnico ainda completa, “gosto do futebol de vocês pela ginga, pelo samba, isso me lembra o jeito cubano, o ritmo na cintura”.

Mas apesar de todo o entusiamo em relação ao esporte, no estádio da capital a história é diferente. Mesmo com ingressos custando apenas um peso cubano, o equivalente a 14 centavos de real, o público é sempre baixíssimo. Em três partidas que acompanhei no estádio Pedro Marrero, em Havana, nenhuma tinha mais do que sessenta torcedores, sendo que muitos ali eram amigos e familiares de jogadores. Por vezes, os atletas contundidos ou não escalados também estão na arquibancada, onde não há divisórias ou setores especiais.

A cena seria impossível no Brasil: um atacante chega mancando e com uma bengala, o fã pergunta o que aconteceu e o atleta pára, mostra o pé, explica tudo e depois se senta ali perto para ver a bola rolando.

Se a torcida não comparece em peso no estádio, tampouco a imprensa dá muita atenção ao campeonato local. Em uma partida disputada entre La Habana e Sancti Spiritus às 15h30 de uma quarta-feira, apenas uma rádio fazia a cobertura do evento. No gramado não havia equipe de televisão, fotógrafos e nem mesmo gandulas — os próprios jogadores tinham que buscar a bola chutada para longe.

O jornalista Osmany Torres, que há nove anos cobre futebol no país, pontua: “Não há divulgação das partidas, não existe assessoria para publicar o calendário de jogos, não existe interesse nem dos meios de comunicação nem das pessoas, que preferem assistir o Barcelona do sofá de casa”. De fato, é comum ver jogos da Champions League na programação local, porém, o mesmo não acontece com o torneio nacional. “Quando vem alguma televisão aqui, é apenas uma câmera filmando da arquibancada, a qualidade de imagem é ruim”, diz Osmany.

Para os jogadores o cenário também não é dos melhores. Em um pós-jogo, atletas e comissão técnica se reúnem à beira do gramado. A ordem é: “lavem suas camisas, descansem e cheguem no horário amanhã a noite”. Eles iriam enfrentar uma viagem de 20 horas de ônibus para uma partida fora de casa.

Para o volante Ariel Martín, do Sancti Spiritus, o pior mesmo são os gramados dos país. “Todos são ruins, só me sinto melhor jogando no exterior”, diz ele. Ariel está na seleção nacional e por isso também pode comprar suas chuteiras em viagens internacionais, já que as equipes locais são proibidas pelo governo de receber patrocínio ou apoio de empresas, mesmo que cubanas.

Garotos batem bola em uma rua do centro de Havana.
Um arco improvisado.
O baseball é o tradicional esporte de Cuba, mas nas ruas é mais comum ver as crianças jogando futebol.
Em qualquer hora do dia é possível encontrar jovens correndo atrás de uma bola no centro da capital cubana.
“Real Madrid campeón, Barça maricón”: alguém em Cuba se preocupa com a rivalidade espanhola.
Ao contrário dos jogos locais, a televisão cubana exibe frequentemente os jogos da Champions League.
Barcelona e Real Madrid são os clubes mais populares nas ruas de Havana.
Partida de futebol em Cuba. Após o jogo, todos — torcedores, jogadores e comissão técnica — saem pelo mesmo portão.
Nada de setor VIP, placar eletrônico ou telão moderno em Havana. A arenização ainda não chegou por lá.
Principal arquibancada do estádio Pedro Marrero, onde é extremamente raro encontrar torcedores visitantes.
Público baixo, nenhuma confusão e baixo nível técnico de jogo contribuem para o sono do oficial.
La Habana x Vila Clara. Os uniformes são tão simples que muitos deles nem brasão do time tem.
Setor de cadeiras do estádio Pedro Marrero, em Havana.
Em Havana é mais fácil encontrar uma camisa do Brasil do que uma camisa de um time local — este tipo de material nem é vendido nas lojas.
Não existe lanchonete no estádio Pedro Marrero, apenas um carrinho improvisado que percorre a arquibancada. A pipoca gourmet vai ter que esperar.
No intervalo da partida, todos os jogadores do time visititante vão para a ambulância - mas apenas para aproveitar a sombra
Os poucos policiais no estádio não tem muito trabalho, visto que nem revista é feita na entrada.
Pelo menos a dancinha na comemoração já chegou em Cuba.
A área reservada à imprensa é apenas uma mesa, algumas cadeiras e uma fita separando um espaço no meio da arquibancada.
Logo após o final da partida, o campo continua aberto e crianças brincam sem problemas no gramado.
Jogador Ariel Martín, volante do Sancti Spíritus.
Não há zona mista ou coletiva pós-jogo. Tampouco tantos jornalistas cobrindo as partidas.
Jogador do La Habana após partida contra Sancti Spíritus. Marcas de batalha.
Conversa pós-jogo dos atletas do La Habana ainda no gramado do estádio.
Arquibancada lateral do estádio Pedro Marrero em Havana.

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