Futebol: isso ainda vai ser grande em Cuba
Em ensaio fotográfico, a paixão dos cubanos pelo futebol, um esporte que ainda será grande
no país do baseball.
POR GABRIEL UCHIDA
| @fototorcida
Quando um cubano diz “jogar bola”, diferentemente dos brasileiros, ele se refere ao baseball, historicamente o esporte nacional. Porém, o que rola nas esquinas, camisas e bares do país é Barcelona, Real Madrid, Cristiano Ronaldo e Neymar. É visível nas ruas cubanas que o futebol é mais popular que o baseball. “Foi feito um estudo entre jovens de até 25 anos e 89,1% preferem o futebol”, conta Dariem Diaz, técnico do La Habana, time da capital.
A história de Dariem é um exemplo dessa nova paixão dos cubanos. Quando o conheci, no começo de 2014, ele disse em perfeito português “Eu sou brasileiro… de coração”. O técnico é tão fanático que seus filhos chamam Romário, em homenagem ao “baixinho”, e Thiago, por conta de Thiago Silva. “Eu não sou brasileiro, mas tenho orgulho do pentacampeonato e sofro quando o Brasil perde”. O técnico ainda completa, “gosto do futebol de vocês pela ginga, pelo samba, isso me lembra o jeito cubano, o ritmo na cintura”.
Mas apesar de todo o entusiamo em relação ao esporte, no estádio da capital a história é diferente. Mesmo com ingressos custando apenas um peso cubano, o equivalente a 14 centavos de real, o público é sempre baixíssimo. Em três partidas que acompanhei no estádio Pedro Marrero, em Havana, nenhuma tinha mais do que sessenta torcedores, sendo que muitos ali eram amigos e familiares de jogadores. Por vezes, os atletas contundidos ou não escalados também estão na arquibancada, onde não há divisórias ou setores especiais.
A cena seria impossível no Brasil: um atacante chega mancando e com uma bengala, o fã pergunta o que aconteceu e o atleta pára, mostra o pé, explica tudo e depois se senta ali perto para ver a bola rolando.
Se a torcida não comparece em peso no estádio, tampouco a imprensa dá muita atenção ao campeonato local. Em uma partida disputada entre La Habana e Sancti Spiritus às 15h30 de uma quarta-feira, apenas uma rádio fazia a cobertura do evento. No gramado não havia equipe de televisão, fotógrafos e nem mesmo gandulas — os próprios jogadores tinham que buscar a bola chutada para longe.
O jornalista Osmany Torres, que há nove anos cobre futebol no país, pontua: “Não há divulgação das partidas, não existe assessoria para publicar o calendário de jogos, não existe interesse nem dos meios de comunicação nem das pessoas, que preferem assistir o Barcelona do sofá de casa”. De fato, é comum ver jogos da Champions League na programação local, porém, o mesmo não acontece com o torneio nacional. “Quando vem alguma televisão aqui, é apenas uma câmera filmando da arquibancada, a qualidade de imagem é ruim”, diz Osmany.
Para os jogadores o cenário também não é dos melhores. Em um pós-jogo, atletas e comissão técnica se reúnem à beira do gramado. A ordem é: “lavem suas camisas, descansem e cheguem no horário amanhã a noite”. Eles iriam enfrentar uma viagem de 20 horas de ônibus para uma partida fora de casa.
Para o volante Ariel Martín, do Sancti Spiritus, o pior mesmo são os gramados dos país. “Todos são ruins, só me sinto melhor jogando no exterior”, diz ele. Ariel está na seleção nacional e por isso também pode comprar suas chuteiras em viagens internacionais, já que as equipes locais são proibidas pelo governo de receber patrocínio ou apoio de empresas, mesmo que cubanas.