Torneio de contos de futebol — Mario Benedetti: GRUPO E [encerrado]

Puntero Izquierdo
Puntero Izquierdo

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Resultado: Royal Pari (Time de Índio?) vence o grupo com 34,1% dos votos e está classificado à segunda fase. Votação atualizada e final no fim da página. Reforçamos para autores e autoras manterem o anonimato até o fim do torneio, mesmo que o texto tenha sido eliminado

Hora do Grupo E. Metade dos times da segunda fase já estão definidos, e a disputa da segunda parte da tabela promete. Em campo, Rubio Ñu, La Tebaida, Mar de Fondo, Royal Pari e Magallanes.

A votação do Grupo E fica aberta até quinta, 21 de maio, às 23h59. Leia os cinco textos e vote no campeão do grupo em enquete ao fim desta página (você precisará logar numa conta Google — também somos vítimas das grandes corporações). Somente o primeiro colocado da chave avança para a segunda fase.

O Grupo F está marcado para sexta-feira, 22 de maio. Regulamento e tabela completa aqui. Bom jogo!

ATENÇÃO: Reforçamos aos autores e autoras que não identifiquem (muito menos republiquem) seus textos nem seus grupos até o final da Copa.

Nota: nenhum conto sofreu qualquer tipo de edição por parte da equipe do Puntero Izquierdo.

O gol de placa de Elzita no Maracanã

{ Conto retirado a pedido do autor. }

Eu não marco toca

Contexto: do dia que sofri uma falta escrota em um jogo misto.

Santa Marina, Sábado dos tempos que ainda se acordava cedo pra correr atrás de bola. //

Já no campinho e não sabia muito bem qual era a do adversário, pra ser sincera, só sabia que eles tinham um nome daqueles meio fanfarrões.

Como de costume, ao caçar o par do meu meião comecei a jogar algumas palavras fora com a colega de gênero. Nos trocamos antes deles pra ter o vestiário só pra gente. Juntamos todos e entramos no “gramado”, quem visitou a estrutura da várzea paulistana deve conhecer bem essas aspas.

Jogo murcho, falta pra nós.

No trote pra área deles senti a mão indevida da cintura. Eita porra.

Apenas viro, reviro e continuo minha corridinha, como se nada.

Mas não pude deixar de ouvir, no rastro do pique o sussurro de “vou te contratar pra jogar comigo”.

Desaforo, penso.

E não levo para casa, mas se você vem perto eu vou lá

Bola que segue, mais pra frente do jogo e pra trás no campo, ouço a mesma voz sugerindo ‘você devia buscar mais a bola, aparecer mais pro jogo’.

Eu sei, penso. Caralho, que cara chato…respondi grosseira.

E se você fecha o olho

Chuva de ofensas. AH É PORQUÊ VOCÊ NÃO DEVIA NEM ESTAR AQUI. Soltou espumando pela boca.

E a menina dança

Sobrou uma bola à meia distância entre eu e o macho-men. Corri como se nunca, nem olhei pra trás, erro. Senti o baque nas costas e chão. Não seria difícil me derrubar pra um cara daquele tamanho.

Senti vermelho dentro de mim. Terra nas costas, grama na coxa. E um cisco no meu olho.

Até o sol raiar

Até o sol raiar

Com os olhos ainda zonzos me viro pra cima tentando achar o corpo. Nada.

Um campo grande

Sol, chão, sol, chão. E no meio só a poeira da terra batida com minha própria queda. Esperei baixar e ainda nada. Cadê o porra?!.

11 cá, 10 lá; e o juiz confuso.

‘Não expulsei’, explicou-se.

CADê O MANO!, levantei esbravejando.

E seus colegas vieram pra cima de mim como se a culpada do sumiço fosse eu mesma.

Para explicação que ninguém tinha, foi surgindo no meio de tudo um botão. E dentro de mim um enjoo crescente.

O meu coração é igual

Aqueles que têm dedo continuam a apontar pra mim, procuro letras na cabeça pra explicar o que nem havia tido tempo de entender quando pinga do meu cisco uma gota no chão.

Cresce mato e não para de crescer. Visivelmente não há mais ninguém ali que me marque. Só mato e o mato canta:

Eu viro toca Eu viro moita
Eu viro toca Eu viro moita

O jogo é finalizado por ordens do céu que adianta a escuridão e diz que cinza ficará enquanto a moita houver de ser regada.

Quando anoitece no campo-santo é estrelado de cruzes que atestam o firmamento.

E a menina dança.

Humaitá

A duas quadras Estação Farrapos do Trem, em Porto Alegre, na Avenida A. J. Renner, existe o Mercado do Feitosa. Figura carismática e benquista no bairro Humaitá, o pequeno comerciante possuía duas paixões públicas e notórias: futebol e Campari com água tônica e uma rodela de laranja.

Dentro da loja era possível observar várias pequenas referências ao seu esporte favorito. Em meio aos cartazes da dupla Gre-nal, era possível ver uma flâmula vermelha com o nome do time em azul: Grêmio Esportivo Renner. Fundado em 1931 por funcionários da fábrica A.J. Renner, o time chegou ao seu apogeu no ano de 1954, quando foi campeão citadino e gaúcho (os próximos 44 estaduais seriam vencidos por Grêmio ou Inter).

A equipe foi extinta em 1957 em função das dívidas da empresa, mas Feitosa nunca deixou de torcer. Como é possível torcer por um time que sequer existe? E pior: por um time que Feitosa jamais viu jogar?

Ele nasceu cinco anos depois da extinção da equipe, mas nasceu e cresceu em meio a um templo rennerista: seus pais eram trabalhadores da Renner entre os anos 1940 e 1950, e acompanharam de muito perto a ascensão e queda da equipe da Zona Norte da capital. Seu pai jurava que trabalhou com o atacante Breno Mello e lhe forneceu valiosos conselhos sobre o posicionamento dentro da área; sua mãe havia trabalhado no setor de vendas da loja com o meia da equipe, Ênio Andrade. “O setor de discos, onde trabalhava, estava sempre muito bem organizado, não me admira que fosse tão bom de bola”, dizia ela. “Era o maestro do meio-campo, é claro que trabalhava com música”, complementava o velho.

Apesar de trabalharem na mesma empresa, seus pais estavam alocados em setores e estabelecimentos diferentes, e foi somente no velho Tiradentes, campo do Renner, que puderam se conhecer. E logo no jogo que garantiu o título de 1954: um embasbacante 9 a 2 no Juventude. O estádio, onde hoje se encontra o prédio do Denarc, fica a 3 minutos a pé do mercado de Feitosa, que é também a sua moradia, herdada dos já falecidos pais.

Tanto o jogo quanto o time e o título compunham de forma determinante o “mito fundador” da família Feitosa. O menino nasceu e rapidamente se inteirou da história, viu fotos, leu notícias e se viu como um “deles”. E assim também é com o bairro, de onde nunca saíram. Os nomes, os espaços, as referências… tudo fazia alusão ao time, à fábrica e a vida que Feitosa e os seus sempre levaram por ali.

Nos tempos de escola, Feitosa chamava a atenção pela preferência clubística. Não que odiasse os gigantes da capital, ele simplesmente não se importava: “às vezes até simpatizo com algum, depende de quem estiver melhor no momento. Daí eu torço pelo outro.”

Feitosa sabia que tinha um marcador de diferença muito peculiar em um momento da vida em que todos querem se provar singulares: “tem gente que escuta Yes. Eu torço pra um time que não existe mais.”

“Torço”, no presente. O pertencimento não é passado. O Renner ainda é o amalgama de toda sua identidade e herança familiar. É claro que ver o time seria maravilhoso, mas Feitosa considerava um pequeno preço a pagar para ser quem era.

A devoção ao Renner e a simpatia do atendimento conquistava a freguesia, transformando clientes em amigos. Além dos adereços, seu mercado sempre tinha uma TV ligada em alguma partida, e não era incomum que os clientes consumissem alguns dos produtos ali mesmo, sentados em cadeiras de praia para assistir a algum jogo. O mercado, teoricamente, fechava às 19h, mas em noite de futebol só fechava depois do apito final. Depois das 17h, Feitosa se presenteava com seu drink favorito:

- Amargo como a vida e vermelho como o Renner. E a laranja é um BOM lateral-direito: não é que seja essencial, mas é muito melhor quando tem.

Em 2004, quando completava 50 anos das conquistas renneristas, Feitosa fez uma festa de rua na frente da sua casa/mercado. Trouxe alguns adereços que nunca expusera em sua loja, que junto com o churrasquinho, a cerveja e as lembranças tomaram conta daquele domingo. A emoção foi ainda maior quando o próprio Breno Mello, então com 72 anos, apareceu para a celebração. Que dia.

Desse momento em diante, pilhado pelos seus vizinhos, foi sendo gestada uma ideia bastante ousada: a criação de uma escolinha de futebol para a meninada do bairro, afastado demais dos principais clubes da cidade. O nome, é claro, seria Renner.

A “Comissão Renner” foi formada no final de 2006: Romeu, seu primo mais novo e único funcionário do mercado; Ofélia, namorada dos tempos da juventude e costureira; e Sandoval, seu vizinho e vendedor de carros – além do próprio Feitosa. De início foram compradas bolas de futebol e jogos de coletes, onde Ofélia bordou o nome do time e dos doadores. Por seis meses a comissão alugou uma quadra de grama sintética na rua Lauro Müller, para testar a adesão do pessoal. E a meninada começou a chegar. Por amor à causa e a emoção de ver o Renner renascendo, Feitosa bancou esses seis meses na base da permuta: passou a fornecer bebidas e desconto no mercado para pagar a quadra.

O Humaitá não se destaca pelo poder aquisitivo de seus moradores. Dessa forma, não seria a mensalidade dos alunos que pagaria as contas… Comprados os materiais esportivos, a equipe passou a buscar um campo para alugar e reformar, pedindo patrocínio para os estabelecimentos da região. A mensalidade simbólica deveria pagar água e luz; o patrocínio – placas em volta do campo – pagaria o aluguel e desafogaria o mercado do Feitosa; Romeu, que chegou a ser profissional pelo São José, seria o treinador da equipe, e Feitosa seguiria pagando seu salário normalmente e liberando o primo para treinar o pessoal nos dias de escolinha.

Parecia que tudo estava se azeitando, faltava apenas encontrar o local para ser o “novo Tiradentes”. Havia uma praça muito próxima ao mercado que poderia muito bem comportar a nova cancha. O projeto previa o cercamento gradeado de um espaço que conteria as dimensões do campo, dois vestiários, espaço com churrasqueira e dois lances de arquibancada móvel, que acomodaria cerca de 500 pessoas. Perfeito: o ponto aberto em um parque chamaria a atenção dos patrocinadores e de novos jovens afim de jogar bola. Agora só faltavam dois detalhes: gente disposta a pagar pela reforma e a prefeitura disposta a ceder.

Sandoval conseguiu quase todo o dinheiro com a revenda em que trabalhava em troca de uma três placas grandes de propaganda ao redor do campo. Feitosa preferiu não perguntar se o chefe do seu vizinho estava ciente. O restante foi conseguido a Gráfica Farrapos, que pediu o direito de colocar sua logo marca em todos os materiais de divulgação do time (ingressos, cartazes, etc.).

No final de 2007 a prefeitura finalmente aceitou conceder o espaço, com uma condição: quando não houvesse treinos, ficaria aberto para a comunidade mediante agendamento e pagamento via Secretaria de Esportes, Turismo e Lazer. O termo de cessão teria 12 meses, sendo que 6 deles seriam necessários para as obras. Feitosa e sua equipe tentaram expandir o tempo de cessão, mas a justificativa era sempre a mesma: em 2009 entraria uma nova gestão, e não seria de bom tom fazer compromissos que outras pessoas deveriam honrar. Melhor que nada, negócio feito.

Após cerca de 7 meses de obra, finalmente o “Novo Tiradentes” tinha sua inauguração marcada para o dia 12 de julho, um sábado. Ao longo de toda a manhã haveria torneio de exibição da escolinha, que encerraria ao meio-dia com um galeto. Para dar o pontapé inicial da nova cancha, não havia discussão: Breno Mello foi convidado e prontamente aceitou.

Feitosa passou aquela gélida semana de julho sem caber em si mesmo. Havia quatro anos que estava envolvido nesse projeto. Sentiu-se emocionado e desejava muito que os pais ainda fossem vivos para ver o renascimento do Renner. Apesar da empolgação, sabia que a batalha seria muito difícil: na melhor das hipóteses, se o time desse certo e começasse a se destacar, começaria o assédio de outros clubes. Era um desafio tremendo querer reviver uma história baseada na solidariedade e no pertencimento – laboral, comunitário – em tempos de globalização, mercado e Lei Bosman. Lei Bosman? “Já estou pensando nesses meninos na Ucrânia?”. Mas valia a pena tentar desafiar aquela estrutura. O futebol ainda permite esse tipo de utopia, e isso era o bastante para encher os corações dos novos renneristas de esperanças.

Porém, na sexta-feira, dia 11, um desses corações parou de bater. Às vésperas da inauguração do Novo Tiradentes, Breno Mello faleceu em seu apartamento em Porto Alegre, vítima de um ataque cardíaco. Feitosa ficou desnorteado. Não era um homem muito religioso, mas encarou aquilo como um Péssimo sinal.

No sábado, na Av. Padre Leopoldo Brentano, 110, o Novo Renner inaugurava sua casa. Apesar da tristeza, Feitosa não conseguia não sentir orgulho do que havia conquistado. Havia até uniformes idênticos aos de 54 para a criançada jogar bola.

Os treinos ocorriam de segunda a sexta, com jovens de 6 a 14 anos e inclusive um time feminino. Pelos próximos 4 meses aquela foi a casa do Renner. Certo dia, uma pessoa chegou ao mercado do Feitosa com uma camisa pirata do time, sinal supremo da popularização. De olhos marejados, Feitosa abonava a conta do cliente.

Em novembro, sabendo que a administração municipal havia sido reeleita, Feitosa iniciou as tratativas para renovar a concessão. Para sua surpresa, o mesmo pessoal que havia sido tão receptivo há cerca de um ano, agora desconversava. No dia 17 de dezembro de 2008, os boatos que circulavam por toda parte enfim se concretizaram: o Grêmio assinara um contrato com uma grande construtora para um novo Estádio, ali mesmo no Humaitá. Quando foi ver o endereço em que se ergueria aquela edificação, Feitosa não pôde acreditar: Av. Padre Leopoldo Brentano, 110. Era o Novo Tiradentes.

Feitosa tombou. Primeiro andou de um lado para o outro pensando em tudo o que poderia fazer até concluir: não poderia fazer nada. A comunidade ficou dividida: alguns gremistas ficaram devastados com o final da Era Olímpico, mas muitos ficaram empolgados pela chegada do seu time de coração ao seu bairro; entre os colorados, havia os risonhos por acharem o plano ruim e os irritados por morarem ao lado do rival. O que Feitosa e o Renner uniram, agora se esvaía.

Muito antes do início das obras e do desmantelamento do Novo Tiradentes, já era possível ver as pessoas se mudando do Humaitá, cedendo aos muitos zeros do mercado imobiliário. Certo dia, um moço entrou no Mercado do Feitosa e perguntou se poderia falar com o “dono do empreendimento”, e antes mesmo de continuar, Feitosa o interrompeu dizendo “não vendo”.

- Por quê?
- Porque esse é o marcado do Feitosa, e o Feitosa é o do Humaitá. Ponto final. Além do mais, se eu for embora, eu duvido que alguém pendure aquela placa ali. - apontou.

Incrédulo, o moço leu uma placa com o logo da Gráfica Farrapos com os seguintes dizeres: “O primeiro clube campeão gaúcho do Humaitá dá às boas-vindas ao segundo”.

Time de Índio?

Foi o Índio que me apresentou a minha primeira dose de buchudinha pura, “sem frescura” como disse na hora. Em Belém fazia o calor de sempre e ele simplesmente me passou a garrafa com um último dedo de cana, enquanto eu, meu tio e mais a torcida do Paysandu, todos putíssimos, principalmente com Dadinho, o primeiro quase-gol, descíamos a rampa do Mangueirão depois de mais uma derrota no Re-Pa. Ninguém sabia que seriam os últimos meses de vacas magras; tricampeonato do Remo, mais um ano de fila no parazão e, ainda assim, o melhor guardado para o fim do ano. Índio, ou Indião, foi como nos acostumamos a chamar o Cara-do-Índio-da-Tampa-da-Lata-do-Biscoito-Aimoré, abaetetubense de idade indefinida e apelido auto explicativo, pratista na charanga da terror bicolor.

Quando éramos apenas colegas de arquibancada, lá pelos meus onze anos, achava curioso quase todo mundo chamá-lo pelo “nome” completo, e o tio também, já com umas cerpas na cabeça, ficava admirado. “Égua, moleque, até o caboco terminar de chamar ele a Terror já cantou umas duas músicas” comentava, cuspindo gotículas de saliva etílica. Nos conhecemos ali, no concreto sagrado do Alacid Nunes, bem antes da reforma que o transformou em uma arena olímpica e que o rebatizou por outro nome que ninguém liga. Graças a Deus, ou não, o tio sempre fazia questão de ficar do lado da banda, mas não necessariamente junto com a organizada. Com o tempo, Índio até deixou eu tocar pratos. Eu me divertia, a maioria achava uma merda, mas ele falava sempre pro tio que “o moleque leva jeito”.

Apesar da mística do Mangueirão, sempre gostei mais quando os jogos eram na Curuzu. Claro que não pela (falta de) estrutura, e sim porque o clima era cem por cento Papão. Além da proximidade com o gramado, o churrasquinho era um pouco mais barato e tinha o Urubu Molhado, vendedor de bebidas com um isopor gigante, que sempre tinha uma mentira nova para contar, mais cabulosa do que a última, e ai de quem interrompesse ou mesmo mostrasse um resquício de olhar desconfiado. Como se essa farra não fosse o suficiente, ainda iam mais mulheres “per capita” do que em jogos grandes. Para um adolescente dos anos 90, o clichê futebol-mulher-cerveja representava tudo de melhor que a vida podia oferecer, e não tinha como se sentir mais vivo do que em um domingo de jogo na Curuzu.

Quase todas as minhas alegrias e angústias de ser bicolor tiveram sempre o tio e o Índio presentes. E ponha angústia nisso: apesar da série B em 91, vivemos para ver o penta paraense do Remo, essa “imundície” como diria minha mãe e minha finada vó. Em 98, quando finalmente quebramos a sequência, eu já estava no segundo ano de faculdade, vinha ganhando um troco a mais no estágio e dando aulas particulares, então a comemoração foi a altura. Meu tio, advogado, tinha audiência na segunda de manhã, em outra cidade, e não enxugou mais que do que cinco ou seis latinhas, mas eu e o Índio fomos ao Cavalo de Fogo, melhor casa de tolerância no bairro da Cremação. Já estava chamando urubu de meu louro quando eu disse para ele “escolher a mais gostosa, que eu acerto a conta”. Disse isso claramente me referindo a preta espetacular que tentava disfarçar o tédio no balcão, mas o sacana escolheu uma branquela que tinha o rosto de uma pintura renascentista qualquer, e que deu um sorriso amarelo enquanto tentava adivinhar adivinhar a idade do coroa. “Entre 60 e 110” deve ter sido o melhor palpite. Como eu só tinha dinheiro para aquela, esperei meu amigo tomando mais algumas enquanto me deliciava não só com a vista, mas com a fresca memória do três a um no Re-Pa. Mas, espera! Em quase dez anos de arquibancada, por que eu nunca vi o Indião usando uma camisa do papão, mesmo fazendo parte da charanga? Coisa de bêbado, deixa pra lá. Pouco menos de uma hora depois o velho sai pelo mesmo corredor que entrou, todo todo.

- Égua, filho, é muito pai d’égua ver toda aquela pentelheira preta numa pele bem branca. — Nas duas últimas palavras pronunciou o “b” como “p”.
- Mas Índio, tu não viste aquela gostosa no balcão? Ainda tá lá fingindo que bebe. Ninguém aqui compete com ela, velho. E aquela outra mulata também?
- É que eu to meio fodido da vista, filho, então prefiro uma pele mais pranca. — Explicou.

Meses depois compramos um óculos para o Índio, que agradeceu nos convidando para passar o Círio em sua casa. Sabíamos que uma vida inteira como vendedor de farinha no Ver-o-Peso não poderia proporcionar luxo nem pompa, mas foi reconfortante ver a dignidade com a qual o pequeno barraco de madeira estava arrumado. Morava sozinho e organização da casinha estava impecável. “Esse cara é um vencedor”, pensei. Esperamos o tucupi ferver sentados no sofá improvisado com um colchão velho e notei que no canto perto do rádio havia um amontoado de revistas Placar, a maioria dos anos 80 até o meados dos anos 90. Tinha também algumas Playboys perdidas, e foi garimpando informações de Placar velha com o noticiário da época que ligamos os pontos para quarta a noite.

O papão ia jogar contra o Londrina pela terceira fase da série B, na Curuzu. Comandados por Zeca Xavier, os paranaenses vinham de três empates, tendo chegado até ali aos trancos e barrancos. A torcida pedia a cabeça do treinador desde a primeira fase mas, bancado pela diretoria e por ter amizade com o presidente, Roni Calisto, Xavier respirava por aparelhos. Depois do último empate, porém, a coisa começou a desandar: o técnico vinha passando por “problemas pessoais” — um divórcio, descobrimos — e Roni já não o defendia publicamente. Era tudo que precisávamos para infernizar o banco dos visitantes na bombonera paraense. Quarta, às nove, eu, o tio, Índio e muitos outros parceiros da fiel bicolor estavam atrás do banco do Londrina, com aquela proximidade que só a Curuzu permite, em um uníssono “Ze-ca Xa-vi-eeer, até o Roni tá comendo a tua mulher!”, entre outras canções de amor. Ele ficou puto e foi expulso no começo do segundo tempo, depois de jogar uma garrafinha d’água em nossa direção e fazer “gestos obscenos”. Eu achava que “passar mal de rir” era só uma hipérbole até ver o Cara-de-Navio, conhecido de arquibancada, tendo que sentar, buscando algum ar entre tosse e lágrimas. Paysandu dois a zero, liderança temporária do grupo, e o nervosinho (ex) amigo do presidente caiu.

O novo século trouxe os melhores anos da história bicolor, mas também revelava cada vez mais os efeitos da idade sobre a saúde do nosso amigo. Sem nunca ter contribuído para a previdência, trabalharia até morrer ou morreria de tanto trabalhar, e o cansaço acumulado já não permitia que estivesse presente em tantos jogos quanto antes. Há quase dois anos tinha parado com os pratos, quando ia ao Mangueirão ou Curuzu não aguentava mais tantas latinhas e passou a torcer de forma contida. Minha admiração pelo velho só aumentava: não é todo idoso que que consegue acordar às três da manhã, seis dias por semana, para carregar sacos de farinha. Dizia que “o segredo para dormir bem por poucas horas é um copo de leite morno, banana amassada com aveia quaker — tem que ser quaker — e punheta. Eu duvido qualquer caboco ficar acordado depois disso, filho.” Ainda bem que não mexi naquelas playboys nas vezes que fui lá.

No ano do bi brasileiro, se tinha alguma coisa que dava mais medo do que jogar contra o papão era um tal de Aedes aegypti, e a dengue não perdoou nem o Índio: foi hemorrágica. O tio pagou todo o tratamento no hospital Guardalupe, mas a idade por si só já incluía nosso velho amigo em um grupo de altíssimo risco, condenado. Foram algumas noites ruins, e outras horríveis; o que me confortava, nas últimas horas, além do fato de eu ser o único presente, era a resignação do sacana. Quando ele estava consciente buscava demonstrar a paz de sempre, mesmo com toda preocupação estampada na minha cara:

- Índio, não vou perguntar como tu estás porque eu tô aqui, mas tem alguma coisa faltando ou tem alguma coisa te incomodando?
- Exceto pela tua presença, tá tudo certo.
- Finalmente tu estás descansando, hein, velho. — Sem força para gargalhar, ele sorria com os olhos. Aproveitou a descontração para um último desabafo.
- Filho, sou remista.
- O que? Índio, o que?
- Eu sou remista.
- Isso não é possível, não pode ser verdade, Índio. Ou tu estás chapado de remédio ou explicas essa porra aqui e agora. — Ele continuava rindo com os olhos, mas minhas mãos tremiam.
- Sempre fui Remo. Em 47 já eram sete anos de fila e o Remo foi pra final com o Paysandu. Égua, filho, eu tinha certeza que ia acabar o jejum e deu Paysandu. Fui direto em uma Mãe de Santo que me falou que eu ia ser pé frio pelo resto da vida. Me disse que nem ela nem ninguém conseguia desamarrar. Continuei indo no Baenão e nada, o jejum só aumentava. Em 49 parei de ir e o Remo saiu da fila depois de nove anos. Aceitei a sentença como se fosse um dom, então passei a frequentar a Curuzu, entrei na banda da terror e continuei só tareando. Mas fui ficando velho e meus poderes foram acabando, lá por 80 e pouco. Foi quando eu conheci tu e teu tio. Prova de que meus poderes acabaram foi 91. Eu ia parar de ir pro campo, mas a companhia tava muito pai d’égua, animal. Talvez eu tenha virado um pouco bicolor, mas sou mais remista. Agora que eu tô levando o farelo eu te devia essa explicação.

Lembro de me perguntar um milhão de coisas ao mesmo tempo, mas a principal era como é que ele lembrava todas essas datas quinze minutos antes de “levar o farelo”? Suspirou e fechou os olhos; não foi na hora mas ele estava pronto. Entre um rebuliço de sentimentos, levantei e chamei a enfermeira. Não consegui falar nada além de “morreu”. Sai dali rememorando todos os nossos momentos e, maldito Aedes, por poucas semanas o Índio não viu o bi, por dois anos não viu o bicola na libertadores! Acho que ouvi num samba, que da vida ninguém sai vivo, e para o Índio com certeza foram uns 230 anos bem vividos, ou pelo menos os últimos quinze.

Chego em casa, abro uma buchudinha in memoriam, ligo a televisão e a desgraçada passa Remo e Fortaleza! Leão contra leão! A imundície nem tinha todos os jogos transmitidos e mesmo assim a assombração me pegou na hora! Meu pai, que nem era muito de bola, dizia que “jogo bom tem que ter muito gol ou muita porrada” e em circunstâncias normais eu torceria pelo segundo. Em respeito ao finado, tentei pelo menos assistir sem me irritar nem torcer para que cada um tivesse cinco expulsos. Haja cana! Passamos mais tempo vendo jogos e falando do papão do que fazendo qualquer outra coisa, mas e o cara me desarma falando que e remista logo antes de morrer? Que Deus o tenha… filho da puta!

O atacante iluminado

Uma mesa de aspecto envelhecido está agarrada à vitrine do Café Madrid, local escondido na lateral da Estação de trem da Plaza Constitución. Ocupando a única cadeira sob ela posicionada está Antonio Espino, 27 anos, centroavante reserva do San Lorenzo, um homem corpulento, alto, traços rudes disfarçados por um traje social elegante. Nascido na pacata cidade de San Justo, Antonio mastiga sem muito interesse um alfajor santafecino, que por alguns instantes o fez relembrar os sabores da província de onde saiu para fazer a vida. Seus olhos inquietos se esforçam para acompanhar o movimento dos pedestres em frente à vitrine do Café, mas na verdade estes nada vêem. Estão nublados. Aparentando um rosto de expressão aflita, seus lábios denunciavam um certo nervosimo e suas mãos tremiam ao manusear um bilhete de cor azul. Respirava um ar pesado e por vezes arfava, o que ia contra as aparências de sua robusta constituição física.

Quando Don Manuel Oberti entrou no recinto, os olhos de Espino momentaneamente se desanuviaram enquanto sua boca esboçava um leve sorriso ao antigo professor emérito de Literatura Grega da Universidade de La Plata. Don Oberti, que nunca escondeu seu fascínio pela obra de Borges, trazia consigo junto à mão direita um livro de capa dura, datado de 1949, chamado O Aleph. Tentando demonstrar leveza, o professor de cabelos prateados e face enrugada se aproxima da mesa de Espino e diz:

- Um gol como aquele um atacante nunca pode perder- afirmou enquanto puxava uma cadeira junto à mesa.
- O senhor assistiu ao jogo aquele dia?
- Sim. Estava na tribuna naquele domingo. Sou sócio do Racing desde 1954 e estive naquela final de Libertadores em 67. Fui um dos que invadiu o campo para comemorar com os jogadores.

Antonio olhava para o eminente professor com um olhar desconfiado. Jamais imaginara que um homem de letras pudesse gostar de futebol. Na sua cidade nenhum professor gostava do esporte, tirando claro o professor Miguez e suas saudosas aulas de Educação Física. Deixando de lado esse pensamento ligeiro, Espino hesita em abrir a boca, balbucia algo desconexo e, sem forças, deixa escorrer pela garganta a frase que desde aquele fatídico jogo o persegue:

-Eu vi a luz naquele dia -Disse, taxativo, como que para liberar um peso da alma
- Vejo você com muita angústia — Retrucou Don Oberti enquanto lia e decifrava o rosto fechado e pesaroso do ainda jovem atacante.- O juiz ajudou bastante o Racing aquele dia, tenho que confessar- emendou Don Oberti com o intuito de aliviar a tensão que vestia aquela mesa.
-Quem? O juiz Daneri? — perguntou um distraído Espino, tão preso aos seus pensamentos que mal reparou no olhar inquisitivo do professor.
Sim, Alfredo Daneri. Mas esse mal é de família, seu avô também era juiz e apitava partidas para complementar sua parca renda de bibliotecário. Eu o conheci.
-O senhor o conheceu?
-Com certeza. O sobrenome dessa família nunca saiu do meu radar
-Professor, o que o senhor quer dizer com isso?
-Nada de mais — garantiu Don Manuel, que relembrou na mente sua procura implacável desde 1966 pelo endereço da família Daneri. — Assim que entrei no café vi que você segurava um bilhete azul e o olhava fixamente. Ele tem a ver com a nossa história?

Antonio Espino assentiu com a cabeça, e a seguir entregou ao professor aquele papel retangular de textura engordurada e formato retangular. Ao dirigir seus olhos para o conteúdo do bilhete, Don Oberti se retesou na cadeira e suas mãos se atrapalharam na mesa, derrubando o cardápio. Espino reparou que as pupilas do professor se dilataram e que sua respiração havia se tornado curta. Antonio perguntou:

-O senhor tá bem?

Balbuciando, Don Oberti parecia incrédulo ao rever a frase que o transtornara subitamente. Se ajeitando na cadeira, o professor pigarreou, olhou rapidamente o fluxo de pedestres para além da vitrine e em seguida firmou sua atenção no vazio.

-Não é possível! Beatriz Viterbo morreu em 1929. Ela sequer existe de verdade, é um personagem de ficção. Tá aqui no livro.- O professor desconfiava severamente de suas próprias palavras, embora não o confessasse.

Oberti releu o que havia no pedaço de papel, refazendo mentalmente todos os passos da investigação que lhe tirava dias e noites de sono desde a década de 60. No papel estava escrito:

-Venha me ver às 18h do próximo domingo no porão da casa verde da Rua Garay. Assinado: Beatriz Viterbo”

Vendo que o mistério em torno do papel parecia ganhar contornos inquietantes, Espino agregou:

-Foi a minha vizinha Dona Milagros que recebeu o bilhete. Disse que quem entregou era uma senhora alta, frágil e ligeiramente inclinada.

Berti sentiu um arrepio percorrer sua pele e um sentimento indefinido e asfixiante penetrar-lhe os ossos.

-Essa é a descrição exata de Beatriz- asseverou Don Manuel enquanto abria a página específica do livro com a qual pudesse demonstrar razão em suas palavras.
-Don Oberti, eu passo noites tentando entender o que aconteceu. Eu já não consigo dormir.
-Tem coisas que fogem à explicação natural do universo. Eu mesmo custo a entender muitas coisas, e levo anos pensando na vida.
-Professor, foi aquela luz que me impediu de fazer o gol, desabafou Antonio Espino, 27 anos, centroavante do San Lorenzo, xingado e apupado na rua todos os dias desde que errou uma cabeçada facílima no minuto 37 do segundo tempo, no clássico contra o Racing Club.
-Essa luz é o Aleph — sentenciou Manuel Oberti

Buenos Aires, 30 de abril de 1981

Quando o ônibus que trazia a equipe do San Larenzo para o estádio de Parque Patricios adentrou na rua Miravé, Antonio Espino pressentiu que o dia não iria ser bom. Nuvens negras pareciam caminhar em direção ao campo, numa curiosa associação com a fase nada boa do time. O San Lorenzo via seus torcedores e a imprensa questionarem o time e o futebol apresentado. Entre os contestados estava Antonio Espino, contratado do Central Córdoba no verão anterior para ser o suplente do irregular atacante Perazzo, que estava no elenco sem contar com o total respaldo da direção. Antonio era contestado sim, mas não exatamente por motivos técnicos. De compleição robusta e peito sempre estufado, o atacante santafecino costumava não aceitar bem as críticas e correções dos colegas no vestiário, muito menos dos torcedores na rua. Cheio de si, Espino emanava um ar arrogante e sempre confiante, o que na verdade não condizia com a natureza de sua pessoa. A verdade é que Espino nunca fora um grande jogador, e sabia disso, acreditando que sua postura orgulhosa disfarçaria seu desempenho apenas mediano. Quando jogava no Central Córdoba, seus gols se deviam muito mais à genialidade dos passes enluvados do grande Trinche Carlovich que de sua habilidade de encarar os zagueiros e estufar a rede. Trinche costumava deixar Espino sempre livre na cara do gol, e Antonio cansou de fazer gols fáceis, que se amontoaram nas estatísticas dos campeonatos e levaram os dirigentes do San Lorenzo a pegar um trem para a província, com o intuito de ver o prodígio. A fase do clube não era boa, o time jogava em estádios emprestados e nessa exata noite de 30 de abril de 1981 estava jogando na cancha do maior rival, o que todos no clube achavam de mau augúrio.

Espino reparou no refletor aceso perto da tribuna Bonavena e percebeu algo no coração. Desde a manhã acordara se sentindo indisposto e sua cabeça doía. Tentando se concentrar no jogo que iria começar logo mais, Antonio amarra com força o cadarço da chuteira, querendo infundir em si mesmo energia e confiança, espantando tudo de ruim que o cercava. Embora seus companheiros não lhe fossem simpáticos, lhe desejaram um bom dia e uma boa partida caso jogasse. Antonio começou no banco de suplentes, como lhe correspondia.

Aos 25 minutos do segundo tempo o treinador decide colocar Espino em campo. O desempenho de Perazzo era abaixo da crítica e o time precisava ganhar novo ânimo no comando do ataque. Espino entra e aos 32’ dá um chute com força porém sem precisão na meta racinguista. A defesa adversária parecia muito forte e bem colocada em todos os lances. Espino sabia que seria um jogo difícil.

Aos 36’ Quinteros intercepta um passe no meio de campo e o San Lorenzo parte em velocidade num contra-ataque que deixou desnorteado o sistema defensivo do Racing. Scotta recebe de Quinteros, e de costas para o gol faz uma tabela com Larrosa, que encontra livre na lateral direita Rinaldi. O volante improvisado na lateral ergue a cabeça e vê correndo livre, inteiramente desmarcado, Antonio Espino, que centra seu corpo em direção à grande àrea em desabalada carreira. A bola chega à medida, na direção exata tentada por Rinaldi. Ela passa por cima da cabeça do zagueiro Espíndola e parece rumar na direção da testa de Antonio Espino. Corria o minuto 37 da partida.

Espino subiu sozinho, livre para testar. Antes da bola chegar sorria de felicidade com a certeza do que viria. Porém, uma luz azulada e intensa saída de trás do gol da tribuna Bonavena invadiu sua retina. Enquanto estava no ar, uma estranha sensação ao mesmo tempo de tranquiidade e inquietação tomou seu corpo de assalto. O tempo parecia congelado e Espino sentia que flutuava em cima da grande área. Através da luz ele viu toda a dimensão física do espaço terrestre num único ponto, enxergando a totalidade da vida material e atômica do planeta através de todos os ângulos possíveis. O atacante de repente estava apavorado. Ao sentir uma força violenta batendo-lhe na testa, Espino caiu no chão e voltou a si. Quando recobrou a consciência viu que todo o estádio o vaiava. Havia perdido um gol feito.

Ao entrar no vestiário ao final da partida, Antonio Espino mal sabia onde enfiar a cara. Estava sem voz, atordoado e confuso. Scotta invadiu a visão do atacante e entrou de sola:

-O que aconteceu naquele lance, Louco?
-Foi a luz. Eu nunca vi algo parecido.
-Que luz? A do refletor? Conta outra, você errou porque tava nervoso.

Sem saber o que dizer, Antonio lançou um olhar perdido para o teto. Ao que parece ninguém viu a luz que o cegou. O treinador Lorenzo foi severo com ele:

- Se depender de você o San Lorenzo vai ser rebaixado. São 7 derrotas, 4 empates, 3 vitórias e temos um atacante que é desarmado pela luz do refletor.

Ao deixar o vestiário, Espino deparou-se com a figura do árbitro da partida. Alfredo Daneri, que levava na bolsa o recorte da página 3 do jornal La Nación de fevereiro de 1929, o qual contava a suspeita da morte de Beatriz Viterbo recaindo na figura de seu avô Carlos Daneri devido a uma luz misteriosa. Daneri cumprimenta Antonio Espino e, aproximando-se do ouvido do atacante, sussurra:

- Você ainda verá essa luz outras vezes.

Não era ficção. Beatriz Viterbo nascera no dia 30 de abril de 1901. Era a sócia 2.304 do Huracán. Os legistas afirmaram como causa mortis enfermidade em decorrência de radiação. Nada foi encontrado no porão da casa verde da Rua Garay, local da exposição à luz, e Carlos Daneri, principal suspeito do crime, foi inocentado.

Resultado final do Grupo E

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