Uma história de gratidão e saudade

Chapecó recebeu os colombianos como heróis, e transformou uma partida de futebol em marco de reconstrução e amizade dos povos

Puntero Izquierdo
Puntero Izquierdo
18 min readApr 10, 2017

--

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo Fotografia

por Luís Felipe dos Santos (texto) e Ramiro Furquim (fotos)

“Eu desejo, mais do que qualquer outro, ver formar-se na América a maior nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas do que pela liberdade e glória”.

A frase foi publicada por Simón Bolívar na Carta da Jamaica, de 1815. O sonho do comandante militar era de unir todos os povos originários contra o domínio espanhol, e o documento serviu como base para a criação do Estado da Grã-Colombia, que correspondia ao território atual da Colômbia e da Venezuela. No seu sonho, Bolívar excluiu pela língua EUA, Haiti e Brasil — este último também porque não havia declarado sua independência. Na época, o Brasil era parte do reino de Portugal e Algarves, e a família real se encontrava no Rio de Janeiro.

A utopia de Bolívar deu pinceladas à realidade dos primeiros dias de abril de 2017, quando foram recebidos em Chapecó os colombianos do Atlético Nacional de Medellín. Em outro contexto, poderia se dizer que a cidade catarinense de pouco mais de 200 mil habitantes foi “invadida” pelos paisas — porém, a sua recepção foi com a glória e a liberdade que previu o libertador do passado. Na chegada, a delegação do Atlético Nacional foi recebida no aeroporto, com bandeiras colombianas e gritos de “vamos Nacional”. Os outdoors na entrada da cidade falavam em “receber um irmão com carinho”, e ao chegar em Chapecó, no Boteco do Galo, a três quadras da Arena Condá, dava para ouvir uma cumbia sendo tocada ao vivo, enquanto os moradores locais acompanhavam com palmas, risadas e um churrasco.

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo Fotografia

Janga e Elenir

O Puntero Izquierdo conheceu Janga em 2015, quando da cobertura da partida entre Chapecoense x River Plate pela Copa Sul-Americana. Na ocasião, Janga nos contou toda a sua história no clube: começou como jogador, foi o primeiro campeão da história e hoje vende cachorro quente dentro do estádio. Desde a entrevista, a vida de Janga mudou para melhor: ele inaugurou o Janga Food Truck no centro da Chapecó, onde vende os mesmos lanches que o tornaram famoso na Arena Condá na noite da cidade. O ‘food truck’ é uma Kombi, que foi presenteada pelo clube.

Janga recebeu a notícia da queda do avião da Chapecoense às 6h30, quando sua filha, que mora em Florianópolis, ligou para avisar do que havia ocorrido. O então presidente da Chapecoense, Sandro Palaoro, pediu no sábado anterior para que Janga levasse seu food truck para o Centro de Treinamento, para a Copa Verde e Branca, um torneio das categorias de base do clube. Na disputa, Palaoro confidenciou a Janga que tinha dois sonhos: um fora realizado naquele dia, com a disputa de um torneio de crianças e adolescentes, que unisse a comunidade de Chapecó; o outro era vencer a Copa Sul-Americana. Ele não viu seu sonho ser cumprido.

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

“Nós viemos para o estádio. Começou a vir gente…eu passei 13 dias só vindo aqui, sem ir com a minha Kombi para a avenida”

“Foi em honra a eles que nós juntamos as forças e viemos trabalhar. Era isso que eles queriam”

Como personagem do passado e do presente da Chape, Jandir Moreira dos Santos tornou-se conhecido de toda a imprensa nacional após a tragédia. Na sua página, aparecem fotos com Galvão Bueno e Tino Marcos, celebridades do jornalismo esportivo da Globo. Suas reações, entretanto, são desapaixonadas; ele valoriza, sobretudo, a dedicação dos atuais atletas e a capacidade da Chapecoense de sair das cinzas.

Elenir ainda sente falta daqueles que partiram.

“Muitas caras novas, projetos diferentes…fica um vazio. Tu olha aqui, não entram os nossos amigos da imprensa. Os outros amigos, que faziam parte da diretoria, que foram só junto, não escuta mais as vozes, aquele abraço, aquele beijo, ‘faz o meu aí’, sabe…”

E como os jogadores novos estão lidando com tudo isso? “Eles estão lidando muito bem. Tanto que são líderes do campeonato, fazendo uma baita campanha. Para quem não tinha nada?”, afirma Janga.

“A torcida está junto com esse time. Apoiando mais que apoiava antes. Eles precisam mais que os outros. A Chapecoense voltou mais forte que era antes. Tinha 8 mil sócios, e olha quantos têm agora? E dentro do campo, também. Claro, precisa reforçar o time para o Brasileiro, mas voltamos mais fortes”.

Janga e Elenir afirmam que não procuraram ajuda psicológica após a tragédia. “Nós temos que ter noção que o sofrimento não é eterno. A vida tem que continuar, igual ao time. Não é porque aconteceu que não vamos mais jogar bola.”

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

“E temos que continuar o trabalho que eles começaram. Eles querem que o clube ande, continue. Ter caminhado até agora não foi fácil. Eu sei o que passei quando jogava aí.”

“A gente chorou, espezinhou, soluçou. Engasga ainda. Só que eles eram tão guerreiros que não iriam querer que a gente ficasse choramingando. O lance é trabalho, trabalho, trabalho”.

“Vamos competir igual aos outros. Se cair, caiu, é porque não tivemos méritos para ficar na Série A. A diretoria não aceita diferente”

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo Fotografia

O inconsciente coletivo

Após a tragédia que vitimou 71 pessoas, o Atlético Nacional concedeu à Chapecoense o título da Copa Sul-Americana de 2016. Não só: fez uma grande homenagem às vítimas da tragédia, lotando o estádio Atanasio Girardot com um canto que ficou na história do futebol: “Que se escutem, em todo o continente, sempre recordaremos a campeã Chapecoense”. O carinho dos colombianos fez com que a Federação Catarinense de Futebol homenageasse ao clube de Medellín com o seu distintivo na taça Atlético Nacional, correspondente ao primeiro turno do campeonato local.

Aquela homenagem, porém, não seria o bastante. O verde de Antioquia e o de Santa Catarina iriam se encontrar pela Recopa Sul-Americana em 2017. A Conmebol, como de praxe, marcou a data da competição em cima da hora: foi uma semana entre o anúncio da confederação e o início do jogo. Nesta semana, a Chape organizou uma recepção com honras no Aeroporto, uma fan fest com shows de bandas locais, uma caminhada que terminou com abraço à Arena Condá, providenciou um cerimonial e um telão pendurado por guindastes.

“Foi um inconsciente coletivo. Parecia que toda a cidade sabia o que deveria fazer quando eles chegaram”, afirmou a jornalista e blogueira do ESPN FC Letícia Sechini, torcedora da Chapecoense.

“Nós sabíamos que qualquer homenagem que faríamos não pagaria tudo que eles fizeram por nós, mas ainda assim nós precisávamos agradecer”.

Letícia assinou os textos de um livro chamado Inesquecível FC, que dissecou jogos históricos do clube entre 1977 e 2013, comemorando a volta do Verdão do Oeste à Série A do Campeonato Brasileiro. Hoje, ela está fazendo um trabalho de conclusão de curso sobre a história do seu clube do coração.

Muita coisa mudou desde 2013. O clube permaneceu na Série A, conseguiu a classificação para a Sul-Americana — duas vezes — enfrentou um campeão da América (River Plate) e eliminou outro (San Lorenzo). Chegou à final que nunca disputou. Venceu o título, reconstruiu uma equipe, uma diretoria e um projeto de trabalho.

Fotos: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

A recepção

Além da festa na chegada ao aeroporto, o clima de amizade entre os torcedores da Chapecoense e do Atlético Nacional estendeu-se aos dois dias seguintes. A Barra da Chape ensaiou com músicos da banda da torcida Los Del Sur na segunda-feira. Alguns dos integrantes da barra almoçavam em um restaurante de Chapecó quando os encontramos. Eram de Medellín e Pereira.

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

“Somos uns 300 por aqui. Poderíamos ser mais, mas a decisão foi muito em cima da hora”, afirmou Gustavo, o mais velho da turma. “Nós acompanhamos o Nacional onde vai, mas nunca tivemos uma recepção como esta. “É uma demonstração de fraternidade, amizade, e tudo que o futebol pode trazer de melhor”, declarou.

“Às vezes o futebol fica tão transtornado por episódios de violência, de guerra, que perde o sentido de ser um jogo, uma diversão”, afirma Andrés Gallego, o Gallegol, da Rádio Mi Atlético Nacional, oficial do clube.

“Como o que está acontecendo aqui, eu nunca vi nada igual. Estou há 26 anos no jornalismo, 22 deles narrando jogos de futebol, mas é a minha primeira experiência com algo assim. É uma amizade bonita entre os povos de Medellín e Chapecó. O futebol une as comunidades”

Foto: Luís Felipe dos Santos

Andrés leva na camiseta uma placa luminosa com a inscrição “Mi Atletico Nacional”, girando como um letreiro de ônibus. Segundo ele, as homenagens feitas à Chapecoense no ano passado são uma característica do povo de Antioquia, Estado onde fica Medellín.

“Nós somos muito receptivos com os estrangeiros, desde sempre. Quando vimos aquilo tudo que aconteceu, nos tocou muito, porque poderia ser qualquer um de nós. O mínimo que poderíamos fazer era entregar o título à Chapecoense, como uma forma de dar a mão, mostrar solidariedade a todo o povo de Chapecó. Qualquer coisa que poderíamos fazer seria pouco. Essa atitude faz parte da população antioqueña, da gente de Medellín. Imagino que muitos fariam a mesma coisa no nosso lugar. Queremos manter essa bonita relação entre os chapecoenses e os paisas”, declarou Andrés.

“É importante esse recado para os poucos que ainda se agridem por questões do futebol. No lugar de desunião e violência, precisamos de paz e convivência”

Andrés está confiante que Reinaldo Rueda seguirá fazendo um bom trabalho no comando do clube paisa. “O time está bem, no âmbito futebolístico. Tivemos algumas saídas, mas mantivemos um time base, e acreditamos que para as competições que estão por vir o plantel tem capacidade e talento para chegar em todos os torneios. Reinaldo Rueda é um excelente técnico, estrategista, analisa muito bem as partidas. Temos muito a agradecer a ele pelo excelente trabalho que vem fazendo. Ele recebeu propostas de outros clubes e de seleções, mas esperamos que ele fique por mais tempo”.

Além disso, ele acredita que existem pelo menos quatro jogadores da base com condições de fazer um bom trabalho no time principal. “Rueda olhou muito para a base, e pegou muitos jovens talentosos. Temos Felipe Aguilar, Mateus Uribe, Juan Pablo Nieto. Qualquer jogador que subir terá oportunidades, pois saem jogadores a cada semestre, e ainda assim o Atlético Nacional consegue manter uma base e ser o maior time da Colômbia”

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

O show

Um telão segurado por guindastes e 20 pequenas telas laterais ocupavam a Arena Condá, além do telão principal, que fica localizado atrás da barra. Esse telão não faz parte do ambiente natural do estádio: estava ali apenas para a festa, o chamado “Show da Gratidão”.

Chegamos à Arena Condá no momento em que os ensaios começaram. Estudantes locais carregavam bandeiras da Chape e do Atlético Nacional de Medellín — fora isso, não parecia nada muito impressionante. Até começar, de fato, o espetáculo.

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

Um texto emotivo cobria imagens de gols históricos da Chapecoense. Em nenhum momento o texto falou de morte, desgraça, tragédia ou sofrimento: era um texto positivo, vendo tudo pelo lado brilhante da vida. Depois desse texto, fogos anunciaram os discursos de quatro pessoas, entre eles os prefeitos de Chapecó e Medellín. O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, esteve presente e foi saudado timidamente pelo público.

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

Ambos agradeceram o carinho das suas respectivas cidades e torcedores. Depois, entrou em campo uma cápsula do tempo, que guardará as mensagens de carinho de chapecoenses e paisas por 43 anos — momento em que ela será reaberta. Então, começou o momento mais emocionante do dia: Alan Ruschel, Follmann, Neto e Rafael Henzel, sobreviventes da tragédia, entraram em campo. Todos agradeceram o carinho, lembraram dos colegas, e Neto disse:

“Não espere um avião cair para dizer eu te amo para alguém”.

Esse foi o momento em que as tímidas lágrimas de muitos dos presentes, que durante todo o tempo foram trocadas por sorrisos e palavras de incentivo, voltaram. Ao meu lado, uma repórter marejou seus olhos, enquanto na minha frente um casal se abraçou. Uma mãe que levou o filho com camisas brancas e a frase “não é apenas um jogo” levantou a criança e lhe deu um beijo. Era o “eu te amo”, só que agora. Ninguém ali queria esperar o avião cair.

Fotos: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

Duca Leindecker encerrou a homenagem com a música que parece ter sido escolhida como hino pelos torcedores de Chapecó: “Se alguém já lhe deu a mão e não pediu mais nada em troca, pense bem, é um dia especial”. Como o Atlético Nacional, que não pediu nada em troca do título da Sul-Americana, e ainda assim ganhou.

Jogadores da Chapecoense e do Atlético Nacional lembram a tragédia de Mocoa. Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

O jogo

No momento do apito inicial, os telões foram desligados, a percussão começou a bater, a charanga passou a tocar. Cornetas dos torcedores, divididas, faltas, disputas de bola. Um jogo absolutamente normal.

A Chapecoense apresentava vantagem numérica no meio campo, mas a qualidade técnica do Nacional prevaleceu na primeira metade do primeiro tempo. Logo, a equipe verdolaga — vestida de amarelo — começou a controlar o jogo, apostando em lançamentos e jogadas de velocidade pelas pontas.

Entretanto, a Chapecoense teve a primeira boa chance do jogo, com um chute aos 17 minutos. Isso aconteceu um minuto depois de uma BANDA DE CARNAVAL entrar no estádio, na arquibancada, distraindo as atenções da torcida por alguns minutos e fazendo a galera levantar para cantar.

O espírito da partida pôde ser revelado aos 19 minutos, quando um zagueiro da Chapecoense tocou com a mão na bola antes de carregar para o gol, o auxiliar deu a falta, ele pediu desculpas e saiu andando. Três minutos depois, Reinaldo faria o primeiro gol da partida, de pênalti.

Fotos: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

A Arena Condá estava inteiramente lotada — 19.005 pessoas. Até as escadarias estavam ocupadas. Ao nosso lado, perto das arquibancadas sociais, alguns familiares de vítimas lembravam seus entes queridos com camisetas e fotos deles. No corredor da Arena, crianças faziam a sua pracinha noturna tradicional — brincando de esconder, correndo com tênis de luzinhas, se divertindo enquanto o jogo rolava. Atrás do banco do Atlético Nacional, alguns pequenos fãs de Chapecó chamavam por Jhon Mosquera, que entrou aos 32 do segundo tempo.

As crianças não viram o belo gol de Macnelly Torres aos 13 minutos do segundo tempo, que foi aplaudido com força por todos os torcedores da Chapecoense presentes no estádio. Porém, ouviram a banda das sociais — que entrou em meio ao jogo com percussões e metais — tocar “Amigos Para Sempre” imediatamente após o gol.

O locutor anunciou a chegada dos 26 minutos do segundo tempo — o minuto 71, no qual a torcida lembra das 71 vítimas do acidente. Nesse momento, começou um fortíssimo “Vamo vamo Chape”, que fez todo o estádio ficar de pé. Essa energia culminou no segundo gol do verdão do Oeste, anotado por Luiz Otávio, de cabeça, após cobrança de escanteio.

Fotos: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

“Não tenho dúvida que as dificuldades que nós encontramos hoje foi o último campeão da Libertadores. Foi um time que teve 68% de posse de bola. O mais importante hoje seria a Chape ser cirúrgica, aproveitar os momentos que teria, e tentar surpreender o Atlético Nacional.”, afirmou o técnico Vágner Mancini após a partida.

“Estamos muito felizes, porque vencemos um adversário muito forte da América do Sul, mas sabemos que o jogo na Colômbia será mais difícil”

Reinaldo Rueda, técnico do Atlético Nacional, endossou a ideia de um “jogo especial”. “Este jogo tinha conotação especial, em razão da parte emotiva. Já jogamos outras competições, mas sabemos que chegaria um rival grande, inclusive que se reestruturou rapidamente”, afirmou.

“Felicito a Chapecoense, que conseguiu montar um time competitivo muito rápido.”

Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

A polêmica

As homenagens não foram unanimidade entre as famílias dos atletas. A esposa do goleiro Danilo Padilha, por exemplo, mostrou incômodo com a festa em um post seu no Instagram. Nas suas palavras:

“Mas hoje não é dia de festa,fogos de artifício,de comemoração,isso dói pra gente que perdeu nossa metade naquela noite,que quem vivenciou de perto a dor de perder alguém naquela maneira,nunca mais irá esquecer.”

Post de Letícia Padilha no Instagram

O site GloboEsporte.com destacou um post de Matheus Saroli, filho de Caio Júnior, que tem severas críticas à “falta de ligação” dos atuais dirigentes da Chapecoense com o projeto interrompido bruscamente pela tragédia.

Hoje o clube é dirigido por pessoas que não tem ligação com as vítimas. A ligação deles é com o marketing, com a expansão, com o retorno, com a captação, e blá blá blá. Impressionante o quanto eles estão preocupados com a reconstrução do clube, que continua vivo, mas não em uma construção de uma imagem de todos os guerreiros que doaram a vida pelo clube. Pela construção de famílias sem pais para filhos pequenos e mãe desamparadas, de famílias sem seus filhos e irmãos queridos.”

Saroli falou mais sobre o tema na inauguração da Sala de Imprensa Caio Júnior, na Vila Capanema, estádio do Paraná Clube, na quarta-feira (5), um dia depois da Recopa. “O que eu falei foi a minha opinião. O foco do clube não foi o que, para mim, é primário, que são as famílias. Vou lutar pelo nome e pela memória de todos os que estavam naquele avião”, afirmou, em entrevista coletiva. Matheus também negou que a sua família esteja pedindo R$ 30 milhões de indenização à Chapecoense.

Esposas e familiares dos jogadores também postaram uma outra imagem no Instagram, reiterando o agradecimento aos colombianos, com uma bandeira do país sobre uma imagem do “Show da Gratidão”.

A Chapecoense decidiu não se manifestar sobre o tema. Segundo o assessor de imprensa do clube, Fernando Matos, as críticas foram levadas à diretoria no dia seguinte à festa, mas a posição oficial é não levar o assunto ao público.

Vágner Mancini, técnico da Chapecoense. Foto: Ramiro Furquim/Outro Ângulo

O futuro

A Chapecoense é líder absoluta do Campeonato Catarinense, com impressionantes 88,9% de aproveitamento. Tanto o técnico Vágner Mancini quanto os jogadores parecem bem realistas em relação ao que o clube pode alcançar — é tudo muito bonito, mas ao mesmo tempo complicadíssimo almejar os mesmos resultados alcançados antes de 2016. Para isso, dirigentes e comissão técnica contam com o apoio incondicional da torcida verde.

“A torcida tem sido maravilhosa. O time foi formado há pouco, e está pegando a cara da torcida, do time, da instituição. O estádio lotado torna-se o 12º jogador. É importante ver que está todo mundo focado na vitória. Às vezes, quando a torcida está com uma movimentação contrária, o jogador sente. Quando há uma movimentação de apoio, de jogar junto com o time, isso eleva o moral de todos e faz com que ele comece a se superar em cada jogada. Isso não representa apenas um ganho muito grande, mas também na disposição do atleta”, afirmou o técnico Vágner Mancini na entrevista coletiva.

“O estádio lotado, com tudo aquilo que aconteceu hoje, fez com que a gente sentisse uma orientação muito forte”

O time continua em busca de reforços. Victor Ramos, que estava sem clube graças à disputa judicial entre Inter e Vitória, foi contratado no dia 6 de abril. Na Libertadores, a Chapecoense tem uma partida decisiva contra o Nacional do Uruguai no dia 18 de abril, que pode colocar o time na zona de classificação antes dos dois compromissos fora de casa (contra o próprio Nacional e o Lanús, da Argentina).

Foto: Luís Felipe dos Santos

“A vida continua para todos nós. O que aconteceu foi uma coisa inesperada, a vida às vezes apronta esse tipo de surpresa, mesmo que aconteça um senão na sua trajetória, a vida continua”, afirmou a historiadora do clube, Eli Bellani, que foi entrevistada pelo Puntero Izquierdo em 2015.

“A população está mais alegre, mais solta. As pessoas estão vendo tudo aquilo que aconteceu por outro prisma. Estamos vendo o ressurgir de um time que não existia, e que hoje encara de frente disputas internacionais. A cidade de Chapecó era uma incógnita para muitas pessoas, e hoje mostra para o mundo inteiro que é uma cidade acolhedora, repleta de solidariedade”.

Como diria a música que foi adotada como hino pelo Verdão do Oeste,

“o brilho neste olhar,

que acalma,

e me traz força para encarar tudo”.

Mais fotos da decisão

Leia também

O dia em que o River conheceu o Índio — outubro de 2015
Como reagiu a imprensa da Colômbia — Douglas Ceconello

--

--