Dentro de nós
por Leonardo Souza
Quando um pássaro nasce, depois de aproximadamente vinte e quatro dias ele aprende a voar através de seu instinto e prática, voar para eles é como andar para nós. É o anseio pela liberdade, o anseio pelo gosto de ser livre. Quando um passarinho não voa, ele morre…
Durante esses dias sombrios que mais parecem um looping infinito, em que apenas se escuta falar de uma praga que se espalha e aloja nos nossos pulmões, o que se espera de nós? O corpo implora por um segundo de liberdade, anseia pelo encontro proibido e chora na janela olhando para as estrelas, porque agora voar é de um canto da casa para o outro, a comunicação sem toque através de uma pequena tela de celular é de enlouquecer. Até mesmo aqueles que dizem não gostar, sente na pele a falta de um abraço. A pequena caminhada no bairro não satisfaz a vontade de dançar a música favorita ou poder escolher a mesma poltrona de sempre no cinema. O que se espera de nós? Uma ideia fantasiosa que só se via em filmes, mesmo que décadas atrás outros de nós enfrentaram pior, uma ideia fantasiosa que saiu da utopia da mente e agora diante da gente nos enforca, nos isola e nos tira a noção do tempo.
As mentes ansiosas desfrutam de livros esquecidos na estante, os idosos passam um café como se fosse o último, os mais ignorantes gritam por liberdade de uma forma questionável sem pensar a quem. O que se espera de nós? Presos em quarentena, mas o que faz da sua prisão não ser seu sossego? Por que fazer ter o aconchego da sua filha, da sua mulher, do seu bichinho, até mesmo de si mesmo e aprender e refazer os laços? O que se espera de nós?
A mão que enforca não precisa ser teu ultimato. O teu ultimato não precisa ser enlouquecer. Desfrute da arte que está a um click de distância, abrace os seus medos e escreva para você. Um pássaro voa por sobrevivência. Um pássaro voa porque é como ele conhece o mundo. Um pássaro voa porque é como ele vive. Todos nós podemos voar, você voa na dança ou no jornal. Voa no filme favorito ou na conversa em família. Voa na ligação com o amigo ou no seu jogo online. Voa dormindo ou voa cantando.
“Um pássaro engaiolado não conhece a liberdade”, mas a liberdade não conhece o seu pássaro engaiolado, porque mesmo atrás de muros que nos cercam, a liberdade não está lá fora, está dentro de você.
20 de abril de 2020
Sou residente da cidade de Restinga-SP, tenho vinte anos e descobri meu amor pela arte aos doze anos, através das minhas performances inspiradas nos meus programas de TV. Atualmente, sou ator, improvisador e futuro escritor. Minha fruta favorita é laranja e cor favorita é vermelho.
Este texto faz parte do Puxadinho da revista Habitat do Conjunto Artefato. Para conhecer nosso trabalho, siga-nos no Facebook e no Instagram.
