Carne super fresca

Parar de comer carne talvez não seja a única solução

Questtonó
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Enquanto a imprensa se esbaldava com a “Operação Carne Fraca”, as mídias sociais se tornaram, como sempre, um ringue de discussões onde pessoas contrárias e favoráveis ao consumo de carne travaram algumas batalhas. Porém, ao mesmo tempo que essa batalha está acontecendo, algumas startups estão prometendo revolucionar o mercado alimentício através de inovações que vão do consumo de insetos às carnes produzidas em laboratório.

Deixando de lado movimentos totalmente relacionados à proteção animal, esse assunto é na realidade muito mais crítico e merece mais atenção do que ele vem recebendo. Diversos fatores sociais e econômicos relacionados à produção agropecuária mundial, muitas vezes mascarados por radicalismo e falta de informação, precisam ser discutidos já para que soluções positivas possam ser criadas e multiplicadas.

Há dois anos nossa equipe de pesquisa se debruçou sobre o tema “alimentos”, buscando entender melhor essa realidade ao redor do mundo e identificar tendências que possam ajudar indivíduos e empresas a desenhar soluções conectadas à alimentação. Esse material foi compilado no estudo “Fome de quê?”, disponível para leitura e reprodução gratuita através de uma licença Creative Commons.

Até 2050 a população humana chegará aos 9.5 bilhões de pessoas, segundo estimativas da ONU e outros órgãos. Para alimentar todas essas bocas, precisaremos aumentar nossa produção de alimentos em até 70%. Paralelo a isso ainda existe o problema do desperdício de alimentos – que chega até 50% em alguns países –, impactos ambientais na produção agrícola e agropecuária e principalmente fatores comerciais que promovem o lucro de corporações em detrimento das soluções para a atual crise dos alimentos.

Voltando à carne, vilã da semana passada, é preciso entender aspectos mais complicados sobre seu consumo ao invés de apenas considerarmos aspectos superficiais dentro dessa discussão. A criação de gado promove a destruição de áreas florestais e um enorme consumo hídrico. De toda água potável que possuímos no mundo, 11% é utilizada na produção agropecuária. Dessa mesma reserva de água, 70% é destinada à agricultura, sendo que grande parte da produção de grãos é direcionada à alimentação do gado. Essa se torna uma equação preocupante quando entendemos que o custo de produção e energia de 7 Kg de grãos, que alimentaria em média 10 pessoas, produzem apenas 1 Kg de bife, que alimenta apenas duas pessoas.

Além disso, a criação de gado é responsável por 15% da produção de gases responsáveis pelo efeito estufa. A logística empregada no transporte de toda essa carne aumenta ainda mais essa soma, já que muitos países importam e exportam carne por todo o globo através de terra, céu e mar.

Deveríamos então nos tornarmos todos vegetarianos? A resposta é não. Simplesmente porque isso não acontecerá de forma normal em curto prazo, e o extremismo também nunca será a melhor solução para esse problema. Como em todos dilemas de nossa sociedade, o consumo consciente e as inovações tecnológicas podem ser fatores chaves para revertermos esse panorama.

Em nosso estudo para a produção do “Fome de quê?”, encontramos diversas tendências que podem revolucionar esse setor, como investimentos na produção e consumo local, redução do desperdício e potencialização das propriedades nutritivas dos alimentos. No entanto, duas frentes de inovação que estão despontando no mercado merecem uma atenção especial pelo fato de ainda não serem amplamente acessíveis, mas ao mesmo tempo apresentarem um enorme potencial de impacto.

Alimentos à base de insetos
A FAO (Food and Agriculture Organization), órgão da ONU, está há alguns anos expandindo a cultura da dieta à base de insetos. Essa ideia pode parecer um absurdo para alguns, porém 2 bilhões de pessoas no mundo já seguem esse hábito alimentar. Além de possuírem uma quantidade superior de nutrientes, algumas características biológicas dos insetos (como o sangue frio) possibilitam sua produção com uma enorme redução de energia. A emissão de gases tóxicos também é insignificante e seus detritos são benéficos ao solo. Inúmeras empresas estão de olho nesse mercado e diversos produtos à base de insetos já estão disponíveis para compra.

Exo Protein e Chapul: Barras de cereal à base de grilos.

Baked Wild: Farinha à base de grilos.

Chirp Chips: Nachos de inseto.

Carne de laboratório
Outra opção sendo estudada e desenvolvida é a produção de carnes em laboratório através da reprodução controlada de células animais. Essa tecnologia saiu do plano conceitual para a realidade nos últimos anos, mas o alto custo de produção foi responsável pelo desenvolvimento lento desse produto. No entanto, investimentos nesse setor e barateamento de tecnologias estão reduzindo drasticamente o valor de produção de carne “in vitro”, ao mesmo tempo que a qualidade do produto final também está sendo aperfeiçoada. Produzir carne em laboratório seria uma opção contra a exploração animal, além de ter benefícios na redução de energia e um maior controle na qualidade do alimento, reduzindo chances de doenças geradas pelo consumo de animais.

Memphis Meat: Startup que desenvolvendo tiras de frango.

Super Meat: Carnes kosher produzidas em laboratório.

Para mais informações e tendências relacionadas o dilema da comida, confira nosso estudo completo em: fomedeque.questtono.com.br

Bom apetite!

Mateus Bagatini (Tokyo JP)
Content creator

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