O que aprendi julgando o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira desse ano
O Prêmio Design Museu da Casa Brasileira já está presente há mais de três décadas na história do design brasileiro. Tempo suficiente para que os profissionais de design entendam sua relevância. Cada edição traz um panorama do momento que vivemos na economia e na cultura, além de ser um lugar importante para discutir a concepção de cada peça ou produto que fará parte da vida das pessoas. E essa discussão reúne profissionais de alto nível, entre colegas do mercado de Design e da academia, que compõem o corpo de jurados. Este ano finalmente atingimos um equilíbrio entre gêneros com o mesmo número de jurados mulheres e homens, com visões bastante diferentes e criteriosas para cada tema, o que enriqueceu bastante o processo. Ainda bem!
Além das duas etapas de júri tradicionais, a primeira digital e a segunda com as peças físicas à disposição dos jurados, tive a oportunidade de propor ainda uma terceira sessão. Na etapa de “Intervenção’’, todos os jurados poderiam questionar a decisão tomada anteriormente pelos membros de cada categoria, inclusive em projetos já premiados. Em um exercício de humildade e abertura para a visão dos colegas, essa novidade no processo do júri permitiu uma análise ainda mais transversal e abrangente, resultado de uma visão mais sistêmica e rica do design, que considera diversas outras perspectivas além da especialidade de cada um.
Ainda sobre o processo, este ano repetiremos a mesma fórmula de sucesso da edição passada. Na abertura da exposição, os jurados estarão à disposição do público — incluindo designers premiados e não premiados — para promover uma discussão aberta e informal a respeito das decisões tomadas e dar feedbacks sobre a premiação ou não de determinado projeto. Dessa maneira, continuaremos a promover este processo tão rico de formação, por meio da aproximação dos autores com seus públicos e críticas sempre construtivas, o que invariavelmente resulta na melhoria da produção do design no Brasil.
Com relação aos projetos apresentados, houve uma surpreendente evolução na quantidade e qualidade de inscritos nas categorias de eletroeletrônicos e utensílios, resultado provável de uma retomada nesses setores tão importantes da nossa economia. Vi produtos com relevância internacional, soluções resultantes de uma observação criteriosa dos hábitos e comportamentos do consumidor brasileiro. As categorias de iluminação e mobiliário têm historicamente a maior representatividade em número de inscrições e estabilidade na sua boa qualidade, e assim se mantiveram. Mas vale marcar um ponto de atenção para a categoria de mobiliário, que mesmo com mais de 50% das inscrições, teve um número reduzido de produtos aptos a participarem da exposição, na visão dos jurados.
A categoria de materiais de construção continua apresentando soluções contemporâneas e funcionais, assim como a de transportes, que cada vez mais coloca a já reconhecida capacidade produtiva industrial do Brasil em um patamar ainda mais elevado.
Por último, a categoria de têxteis me passou a sensação de que o segmento industrial poderia ser melhor explorado com mais produtos inscritos, dada a diversidade e sofisticação da indústria têxtil brasileira, ao lado de uma produção mais handmade, que apareceu bem representada.
De maneira crítica, transversal, sistêmica e democrática, mais uma vez o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira desempenhou um papel relevante não apenas no campo do reconhecimento, mas também de formação do Design brasileiro.
por Levi Girardi