A vida de trabalhadoras domésticas diante do covid-19
À minha mãe, às minhas tias e às mulheres desse ramo que cuidam de onde eu piso, respiro e toco.
Não há nem atestado que resolva. Se sentir mal e não ir trabalhar não é uma opção para trabalhadoras domésticas, ainda mais para aquelas que ganham por dia trabalhado. Essas chamadas de “diaristas” não tem um local fixo de emprego, muitas trabalham em duas ou três ou quatro casas para compor sua renda. Isso é importante para entender o perigo que essa profissão sofre em tempos de covid-19: como a trabalhadora doméstica saberá onde corre risco de ser contaminada se não trabalha em apenas um local? Se caso a trabalhadora é infectada pelo covid-19 em uma dessas casas, como deve proceder, há leis trabalhistas que a protejam por ser trabalhadora informal? Se ficar totalmente impossibilitada de trabalhar em outras casas, tendo assim, 100% de sua renda corrompida, como poderá sobreviver?
Enquanto patrões e patroas ficam de quarentena em suas casas, a rotina segue a mesma: tem a empregada para cuidar do lar. As mulheres são correspondentes por quase 88% dessa categoria, segundo pesquisas da Fundação Getúlio Vargas em 2019, além disso quase 4,7 milhões vivem na informalidade. Então como fica a situação da trabalhadora doméstica? Desse grupo, 1,5 milhão trabalham com carteira assinada. Outros 2,3 milhões de trabalhadores atuam sem carteira assinada e 2,5 milhões são diaristas, o que as torna um grupo vulnerável diante do cenário atual.
Embora o coronavírus possa a vir contaminar todos, pois o vírus não faz distinção de classe, cor e sexo, nem todos sofrerão as mesmas consequências. Nem todas podem se dar o luxo de deixar de trabalhar e se manter em quarentena. Então, o vírus não torna todos iguais. Logo não teremos o mesmo sofrimento diante desse cenário.
Como filha de empregada doméstica, acho bom deixar em evidência nesse texto, a preocupação é muito maior: não é só o vírus, será a falta de renda. Como vai ser o amanhã?
Nem recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) fizeram com que as diaristas, empregadas domésticas ou trabalhadoras informais de demais áreas se afastassem de suas atividades e recebessem licença-remunerada. Como tivemos o caso no Rio de Janeiro de uma senhora de 63 anos que veio a óbito infectada pelo novo coronavírus. A mesma continuou a trabalhar como empregada doméstica na casa de sua empregadora, que já havia sido diagnosticada com o COVID-19, ao voltar de uma viagem à Itália.
Observando tudo isso, tudo indica que o maior número de trabalhadores neste momento (com grande risco de contágio) estão desamparados por leis trabalhistas. As diaristas estão em situação ainda mais precária e vulnerável, sem contratos legais que possibilitem, negociações, como por exemplo, adiantamento de férias, licenças por motivos de saúde etc. E é por isso que há dificuldades em se manterem e garantirem a segurança de seu coletivo familiar e de si própria.
Com a completa ausência do Estado, mulheres pobres mais um vez na berlinda. Quem cuida dessas cuidadoras?