Como a pornografia machuca o parceiro do consumidor

Anna Beatriz Saraiva
QG Feminista
Published in
4 min readApr 11, 2018

texto original aqui

Ninguém acorda e diz “hoje eu quero sair por ai e arruinar meus atual e futuros relacionamentos. Eu vou romper com minhas emoções, enfraquecer a confiança e fazer meu parceiro se sentir confuso, rejeitado, zangado e traído.”

Ninguém diz isso, mas várias pesquisas mostram que é exatamente o que pode acontecer como resultado do consumo de pornografia.

Provavelmente não é uma surpresa que mulheres tendem a ver a pornografia e sentir seus efeitos de forma muito diferente dos homens. Enquanto tanto mulheres quanto homens podem lutar contra o consumo de pornografia, estudos tem mostrado que muitas mulheres — mesmo se elas acreditarem que o consumo de pornografia é aceitável para outras pessoas — não veem como aceitável o papel da pornografia dentro de seus próprios relacionamentos. E não se admira! As evidencias de que pornografia pode prejudicar os relacionamentos e os parceiros são esmagadoras.

Dois dos mais respeitados pesquisadores sobre pornografia, Jennings Bryant e Dolf Zillman na Universidade de Alabama, estudaram os efeitos da pornografia e da mídia por mais de 30 anos. Eles descobriram que o consumo de pornografia faz muitos indivíduos menos satisfeitos com a aparência física e performance sexual de seus parceiros e sentem menos curiosidade sexual e afeição pelos mesmos. Elas também descobriram que, com o tempo, muitos dos usuários de pornografia se tornam mais insensíveis com mulheres em geral, menos propensos a valorizar a monogamia e o casamento, e mais propensos a desenvolver percepções distorcidas de sexualidade. Outras pesquisas confirmaram esses resultados e acrescentaram que consumidores de pornografia tendem a ser significativamente menos íntimos com seus parceiros, menos comprometidos em seus relacionamentos, menos satisfeitos com sua vida sexual e romântica, e mais propensos a trair seus parceiros.

Isso é bom para nenhum relacionamento onde uma das partes é consumidora de pornografia, especialmente porque a maioria de nós quer e espera que nossos relacionamentos íntimos sejam baseados em confiança, respeito, comprometimento, honestidade e amor.

É muito comum que quando um parceiro descobre que o outro vem consumindo pornografia, que ele sinta uma serie de emoções negativas, incluindo rejeição, humilhação, abandono, isolamento, solidão, ciúmes, raiva e vergonha. Mesmo que eles não achem que pornografia é uma traição, eles frequentemente sentem uma profunda sensação de perda, traição e desconfiança. O segredo, a vergonha, o isolamento e as mentiras que são frequentemente introduzidas no relacionamento por causa do consumo compulsivo de pornografia podem se multiplicar em todos os tipos de problemas.

Mas mesmo se a pornografia não é mantida em segredo — mesmo se o casal é aberto e honesto sobre seu consumo — isso pode continuar causando danos reais. Mencionamos antes que a compulsão por pornografia pode conduzir a uma menos satisfação e menor interesse nos parceiros. Por que isso acontece? Parte da resposta para a pergunta é que a pornografia reconfigura o cérebro, então o consumidor de pornografia passa a ser menos sensível sexualmente a seus parceiros, mesmo eles conseguindo ainda ser sensíveis a pornografia.

Ao mesmo tempo, a pornografia remodela as expectativas sobre sexo e atração ao apresentar uma imagem irreal. Na pornografia, homens e mulheres sempre parecem impecáveis. Eles são jovens para sempre, cirurgicamente modificados, retocados, e photoshopados para a perfeição. Então não é difícil ver o porquê, de acordo com a pesquisa nacional, seis entre sete mulheres acreditam que a pornografia mudou as expectativas do homens de como mulheres devem parecer.

Como a escritora Naomi Wolf pontuou, “Hoje uma mulher de verdade nua, é só um pornô ruim.”

Mas não é só a aparência física de homens e mulheres que vem sido distorcidas na pornografia. Mulheres são geralmente retratadas como sedentas por sexo em todo lugar, a qualquer hoje, com qualquer um, e elas estão satisfeitas em ir o quão longe e agressivo um homem ou vários quiserem. Elas sempre gozam, em voz alta e em êxtase, e depois estão imediatamente prontas pra mais. Elas nunca estão cansadas ou com dor. Elas nunca precisam de um tempo. Na verdade, elas aparentemente nunca precisar de nada além de sexo sem fim. Elas são retratadas felizes com qualquer coisa que o homem queira fazer, mesmo que seja perigoso, doloroso, ou humilhante.

Se você pensa que essas representações irreais não afeta as crenças, expectativas a ações dos consumidores, pense novamente. Em uma pesquisa recente com Americanos entre 16 e 18 anos, quase todos os participantes declararam terem aprendido como fazer sexo assistindo pornografia, e muitas das mulheres jovens disseram que foram pressionadas a encenar os “roteiros” aprendidos por seus parceiros homens na pornografia. Elas se sentiram atormentadas fazendo sexo em posições desconfortáveis, fingindo respostas sexuais e consentindo com desagradáveis ou dolorosas posições.

É claro, a dor causada pela pornografia pode ir muito além de uma experiência ruim na cama. Pessoas que apreendem os hábitos pornográficos de seus parceiros geralmente internalizam sua vergonha e confusão, perguntando a si mesmos por que eles não são “o suficiente”. Eles podem se sentir indesejáveis, pouco atraentes e sem valor. Muitos dos parceiros de consumidores de pornografia até começam a mostrar sintomas físicos de ansiedade, depressão e até distúrbios de estresse pós traumático. E, embora seja valido tanto para homens quanto para mulheres, estudos mostram que por causa da vergonha que sentem e pelo medo de serem culpadas pelo problema de seus parceiros, a maioria das mulheres que apreende o uso da pornografia pelos parceiros, se isolam, pelo menos um pouco, de suas fontes de apoio social, justamente quando elas mais precisam apoio.

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