Dores do crescimento (8/8) — O que não conhecemos pode nos machucar (conclusão)
Tradução do artigo de Paul W. Hruz, Lawrence S. Mayer, Paul R. McHugh
Link para o artigo original (em inglês): aqui.
O uso de bloqueadores de puberdade e hormônios do sexo oposto para crianças é um passo radical que presume grande quantidade de conhecimento e capacidade por parte das crianças concordando com esses procedimentos, por parte dos pais ou guardiões legais aos quais se requer que consintam legalmente que a criança o faça, e por parte dos cientistas e médicos que estão desenvolvendo e administrando esses procedimentos. Frequentemente ouvimos de neurocientistas que o cérebro adolescente é imaturo demais para fazer decisões racionais confiáveis, [122] mas é esperado de nós que adolescentes conturbados emocionalmente tomem decisões sobre sua identidade de gênero e sobre tratamentos médicos sérios com 12 anos ou menos. E é esperado de nós que aguardemos pais e médicos avaliarem os riscos e benefícios da supressão da puberdade, apesar do estado de ignorância na comunidade científica sobre a natureza da identidade de gênero.
A alegação de que tratamentos de bloqueio da puberdade são completamente reversíveis os faz parecerem menos drásticos, mas essa alegação não tem suporte científico. Continua um mistério se a puberdade típica do sexo e ordinária continuará após a supressão da puberdade em pacientes com disforia de gênero. Também não é claro se crianças serão capazes de desenvolver funções reprodutivas normais se elas descontinuassem a supressão da puberdade. Da mesma forma, continua incerto se o desenvolvimento de músculos e de ossos ocorrerá normalmente para essas crianças se elas retomarem a puberdade típica de seu sexo. Além disso, não entendemos completamente as consequências psicológicas de usar a supressão de puberdade para tratar pessoas jovens com disforia de gênero.
Mais pesquisa é necessária para resolver essas questões ainda não respondidas. Ao mesmo tempo, as pesquisas sobre como e por que a disforia de gênero ocorre, persiste e acaba também devem continuar, pois podem elucidar novas formas de ajudar as pessoas a lidarem com a disforia de gênero com tratamentos menos permanentes e drásticos do que a redesignação de sexo.
À luz das várias incertezas e desconhecimentos, seria apropriado descrever o uso de tratamentos bloqueadores de puberdade para disforia de gênero como experimentais. Ainda assim, esse tratamento não está sendo considerado como tal pela comunidade médica. No curso de décadas a medicina experimental desenvolveu muitas normas, padrões e protocolos, incluindo a proteção à pessoa humana, o uso de revisões institucionais, e experimentos clínicos cuidadosamente controlados, assim como estudos de acompanhamento a longo prazo. Essas práticas duradouras objetivam tornar a medicina experimental mais rigorosa e servir o interesse de pacientes, de médicos e da comunidade. Mas quando o assunto é o tratamento por supressores de puberdade para a disforia de gênero, esses protocolos e padrões parecem estar quase completamente ausentes — um fato que desagrada pacientes, médicos, a comunidade e a busca pela verdade. Médicos deveriam ser cautelosos quanto ao adote de terapias experimentais em geral, mas especialmente quanto àquelas que visam crianças; e deveriam, particularmente, evitar qualquer terapia experimental que virtualmente não tem nenhuma evidência científica de segurança ou efetividade. Independentemente das boas intenções dos médicos e dos pais, expor pessoas jovens a esse tipo de tratamento é expô-las ao perigo.
Se por um lado não se sabe muito e com certeza a respeito da disforia de gênero, por outro lado há claras evidências de que pacientes que se identificam com o sexo oposto geralmente sofrem muito: possuem maiores taxas de ansiedade, de depressão, e até de suicídio do que a população em geral. Algo deve ser feito para ajudar tais pacientes, mas enquanto cientistas lutam para entender melhor o que é disforia de gênero e o que a causa, não parece prudente adotar tratamentos hormonais e redesignação de sexo como as principais ferramentas terapêuticas para tratar tal condição.
Notas
[122] See, for example, B.J. Casey, Rebecca M. Jones, and Todd A. Hare, “The Adolescent Brain,” Annals of the New York Academy of Sciences 1124 (2008): 111, http://dx.doi.org/10.1196/annals.1440.010.