Minha dor.

Clara Dantas
QG Feminista
Published in
2 min readSep 5, 2017

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Quero contar a vocês
E pra isso peço empatia
De uma dor que carrego
E me aflige todo dia
Como não tenho remédio
Só me resta a poesia

Minha doença tem nome
Chama-se patriarcado
O tempo todo me dita:
“Sente assim, se vista assado”
“Use maquiagem”
“Fale mais delicado”

Muitos não entendem
Acham que é frescura minha
Querem calar minha voz
“Seu lugar é na cozinha!”
Mas hoje tenho uma noção
Que antes eu não tinha

Ser mulher vai muito além
De beleza e aparência
Não é casa, não é família
É mais que isso, é vivência
De opressão e silenciamento
Eu já tenho experiência

Minha maior afronta
A essa sociedade
É declarar meu amor
Minha lesbianidade
Ter controle do meu corpo
E usá-lo com liberdade

É fácil fazer piada
Chamar de fancha, caminhão
Como se fosse engraçado
Mas não tem graça não
Conheço a dor e o prazer
De ser sa-pa-tão

E por falar em prazer
Até parece que é segredo
“Como é que vocês transam?”
“Precisam de algum brinquedo?”
“É suficiente
Usar só língua e dedo?”

É impressionante
Como todo mundo acredita
Que sexo é só penetração
E que isso a gente imita
É a ausência de um pau
Que ofende, que irrita

Uma vez explicada
Minha sexualidade
Surge o primeiro obstáculo:
A invisibilidade
Porque a sapatão aqui
Não existe pra sociedade

“Você não achou um cara
Que soubesse fazer direito”
“Não gosta de homem?
Como assim? Tá com defeito?!”
Seu discurso não me importa
O que eu exijo é respeito

Ser lésbica é mais
Que orientação sexual
É a revolução
De amar uma igual
Indo contra o que ensina
O sistema patriarcal

Porque se eu, enquanto mulher
Apagada e esquecida
Sou capaz de amar alguém
Igualmente oprimida
Isso é motivo de orgulho
Isso é estilo de vida!

A minha dor
(Isso eu quero esclarecer)
Não é por ser sapatão
É por ninguém compreender
Que é possível não querer homens
É possível se abster

Minha dor, eu repito
É por essa tal Igreja
Que batiza, que acolhe
Mas em seguida apedreja
Tudo isso porque
É uma mulher que me beija

Pois eu dou minha cara à tapa
Tô aqui pra incomodar
Não vou baixar minha cabeça
Nem mesmo recuar
E, até eu morrer,
Ninguém vai me silenciar.

Escrito em 13 de janeiro de 2016.

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