Do porquê a pornografia torna seus consumidores solitários

Anna Beatriz Saraiva
QG Feminista
Published in
4 min readMay 10, 2018

texto original: https://fightthenewdrug.org/why-porn-leaves-consumers-lonely/

A autora e ativista política Naomi Wolf viajou por todo o Estados Unidos conversando com universitários sobre relacionamentos. “Quando eu os perguntava sobre solidão, um profundo e triste silencio pairava sobre o público de jovens rapazes e jovens mulheres semelhantes” ela disse. “Eles sabem que eles estão sozinhos juntos… E isso [pornografia] possui uma parcela significante nessa solidão. O que eles não sabem é como sair disso.”

Mas o que a pornografia tem a ver com solidão?

“Quanto mais a pessoa consome pornografia, mais solitária ela se torna”, disse o Dr. Gary Brooks, um psicólogo que trabalhou com vicio em pornografia pelos últimos 30 anos. “Sempre que uma pessoa passa muito tempo no ciclo usual do uso de pornografia, não deixa de ser um tipo de experiência depressiva, degradante, e de auto aversão.” Quão pior a pessoa se sente sobre ela mesma, mais elas procuram consolo onde quer que ela possa obter. Normalmente, elas podem contar com pessoas próximas a elas para as ajudar a passar pelos seus momentos difíceis — um companheiro, um amigo, um membro da família. Mas a maioria dos consumidores de pornografia não estão exatamente empolgados em contar pra ninguém sobre seus hábitos pornográficos, muito menos aos seus parceiros. Então eles recorrem a sua fonte de “conforto” disponível: mais pornografia.

“Quando um dos parceiros faz uso da pornografia com grande frequência,” explica a pesquisadora Dra. Ana Bridges, “pode haver uma tendência de o retirar emocionalmente do relacionamento.” Em parte isso se deve porque o consumo de pornografia faz com que o cérebro ligue a excitação sexual com as fantasias da pornografia, tornando mais difícil para o consumidor ficar excitado com uma pessoas real, em um relacionamento real.”

De acordo com Bridges, como um consumidor de pornografia se afasta de seu relacionamento, eles experienciam um “aumento nos segredos, menos intimidade e também mais depressão.” Estudos apontam que quando pessoas iniciam um padrão continuo de “auto encobrimento,” — o que ocorre quando a pessoa faz coisas das quais ela não se orgulha e quer mantê-las em segredo — isso não afeta apenas seus relacionamentos e os faz sentir solitários, mas também os torna mais vulneráveis a transtornos psicológicos graves. Para ambos, homens e mulheres, consumidores de pornografia, seus hábitos são frequentemente acompanhados por problemas de ansiedade, problemas com imagem corporal, auto estima baixa, e depressão.

Esta pode ser uma das razão pela qual os consumidores de pornografia tem tantos problemas nos seus relacionamentos mais próximos. Estudos demonstram consistentemente que os consumidores de pornografia tendem a se sentir menos amor e confiança em seus casamentos. Eles também experienciam mais comunicação negativa com seus parceiros, se sentem menos dedicados aos seus relacionamentos, tem dificuldades em fazer negociações com seus parceiros, desfrutam menos de satisfação sexual, e cometem mais infidelidade. Enquanto isso, os conjugues de tais consumidores relatam a queda de intimidade em seus casamentos e o sentimento de serem menos compreendidos por seus parceiros consumidores de pornografia. Os experts em relacionamentos, Doutores John e Julie Gottman explicam “há muitos fatores do uso da pornografia que podem pôr a intimidade do relacionamento em perigo, o que é a base da conexão e comunicação entre um casal. Mas quando uma pessoa se acostuma a se masturbar com pornôs, ela na verdade está se afastando de uma interação intima.”

A segunda razão pela qual os consumidores de pornografia tem problemas em seus relacionamentos é porque isto é da natureza da pornografia em si. A pornografia retrata tanto o homem quanto a mulher como pouco mais que corpos com um único proposito, dar e receber prazer sexual. Se os consumidores de pornografia gostam disso ou não, essa apreensão começa a interferir em como eles se veem e como veem outras pessoas na vida real. O quão mais difícil fica para os usuários se enxergar e enxergar os outros como mais que objetos sexuais, mais difícil fica desenvolver e nutrir um relacionamento real.

“Há certamente uma forma de viver a excitação sexual que é o oposto da proximidade,” diz Brooks. “No melhor dos casos, isso pode ser um pouco manejado por algumas pessoas, mas na maioria das vezes isso cria uma barreira que envenena os relacionamentos.” Os Gottmans explicam “quando se assiste pornografia, o usuários está em um total controle da experiência sexual, diferente do sexo normal, no qual pessoas estão compartilhando o controle com seus parceiros. Portanto o usuário de pornografia pode formar uma expectativa irreal de que o sexo estará apenas sob o seu controle pessoal… O objetivo de conexão intima em um relacionamento é confundida e, por último, perdida.”

A pornografia promete uma satisfação imediata, excitação infinita, e intimidade fácil, mas isto acaba, isso tira do consumidor essas três coisas.

O tipo de intimidade que a pornografia oferece não passa de mera titilação. A intimidade real é tão mais. A intimidade real é um mundo de satisfação e excitação que não desaparece quando a tela é desligada. É o deslumbrante risco de ser afetado com outro ser humano. É estar os convidando não apenas para o seu quarto, mas para seu coração e sua vida. A intimidade de verdade é sobre o que damos, não só o que recebemos. É uma troca mutua, não autocentrada. Intimidade é compreender alguém em um nível que a pornografia nunca tenta, e ter a experiência de ter alguém que faz parte da sua vida e te da ouvidos — da ouvidos de verdade — em troca. É se ver através de outros olhos, é se importar com um outro tanto quanto você se importa consigo. É a surpreendente, desconcertante, maravilhosa experiência de que os artistas e filósofos tem tentado descrever desde que nossa sociedade de humanos solitários começou.

É o oposto de solidão. É amor.

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