Por que os médicos levam a dor das mulheres menos a sério?

Uma Queviu
QG Feminista
Published in
5 min readApr 8, 2017

Traduzido de http://www.mnn.com/health/fitness-well-being/stories/why-do-doctors-take-womens-pain-less-seriously

Com apenas 25 anos, Ally Niemiec, de Atlanta, foi diagnosticada com duas doenças renais e com endometriose. Ela fez o notável número de 28 cirurgias nos últimos cinco anos e lida com uma dor crônica que a deixa incapaz de trabalhar, dirigir e se relacionar. Apesar do claro diagnóstico e do óbvio sofrimento, ela foi ignorada em salas de emergência e lhe foi negada medicação para dor quando estava em agonia. Niemiec disse que foi levada a se sentir como uma viciada em drogas ou que estava exagerando sua dor. Curiosamente, ela está em vários grupos de apoio com homens que têm os mesmos sintomas e fizeram viagens semelhantes ao PS — mas eles são tratados de forma muito diferente. “Os homens não são tratados como nós mulheres”, diz Niemiec. “Nós somos mandadas para casa, os homens do nosso grupo de apoio estão constantemente no hospital com a dor tratada”.

O Que Os Estudos Mostram

A experiência de Ally Niemiec não é incomum. Os pesquisadores mostraram que há muitas vezes uma disparidade de gênero em como homens e mulheres são tratados quando se fala de dor. Em um estudo com cerca de 1.000 pessoas que visitaram uma sala de emergência, homens e mulheres relataram escores de dor semelhantes, mas as mulheres eram 13 a 25 por cento menos prováveis do que os homens de receber opióides. Além disso, as mulheres esperaram mais tempo para receber sua medicação para dor — 65 minutos versus 49 minutos em média para os homens. O estudo foi publicado na revista Academic Emergency Medicine.

Num outro estudo, publicado na revista Sex Role, foram analisados os registros de medicação de 30 pacientes do sexo masculino e 30 do sexo feminino, que haviam sido recentemente submetidos a cirurgia de ponte de safena. Os resultados mostraram que os pacientes do sexo masculino foram medicados com analgésicos mais freqüentemente do que as pacientes do sexo feminino, enquanto as mulheres eram mais propensas a serem medicadas com sedativos, em vez de remédios para dor. Os autores escreveram que “as hipóteses no estudo foram baseadas em uma revisão da literatura indicando que os profissionais de saúde têm visões estereotipadas de mulheres como emocionalmente mais frágeis e mais propensas a exagerar queixas de dor do que os homens”.

Em um estudo de mais de 1.300 pacientes ambulatoriais em tratamento para câncer, os pesquisadores descobriram que daqueles que não estavam recebendo tratamento adequado para a sua dor, as mulheres eram significativamente mais prováveis do que os homens a ser sub-medicadas. O estudo foi publicado no New England Journal of Medicine.

Uma Experiência Em Primeira Mão

Recentemente, o escritor Joe Fassler se deparou com esta diferença de tratamento quando sua esposa, Rachel, foi levada as pressas de ambulância ao PS depois de acordar uma manhã em agonia, com dor abdominal. Ele contou sua história na revista The Atlantic, observando que o pessoal do hospital minimizou a dor de sua esposa, chegando a ignorá-la. Ele chamou a primeira enfermeira que conseguiu. “Ela vai ter que esperar sua vez”, disse ela. As reações dos outros enfermeiros variaram do desprezo à condescendência. “Você está apenas sentindo um pouco de dor, querida”, disse um deles a Rachel, dando tapinhas na sua cabeça.

Rachel estava sofrendo de torção ovariana — uma emergência cirúrgica — e, no entanto, ela esperou mais de 90 minutos pela medicação para a dor e nem mesmo foi examinada pelo primeiro médico assistente. Ela finalmente foi diagnosticada e enviada para a cirurgia em inacreditáveis 14 horas e meia após sua dor ter começado.

Mais de uma década atrás, duas professoras da Universidade de Maryland investigaram profundamente o tema dos homens, das mulheres e da dor. Sua pesquisa, apresentada em um artigo intitulado The Girl Who Cried Pain: A Bias Against Women in the Treatment of Pain (“A menina que gritou de dor: o preconceito contra as mulheres no tratamento da dor”) analisou se os sexos experimentavam dor de forma diferente e qual a explicação para a diferença no tratamento da dor. Estudos mostraram que as mulheres têm limiares de dor mais baixos e maiores índices de dor do que os homens, no entanto, elas normalmente são mais propensas a receber menos tratamento para dor. “Você esperaria que as mulheres fossem tratadas melhor e mais agressivamente”, diz a Dra. Diane Hoffmann, professora de direito da Faculdade de Direito da Universidade de Maryland, em entrevista ao MNN. Em sua pesquisa, Hoffman e sua co-autora Anita Tarzian, professora associada da Escola de Enfermagem da Universidade de Maryland, encontraram todo tipo de razão para que os prestadores de cuidados de saúde sejam tendenciosos na forma como tratam os homens versus as mulheres, para a dor:

· Os homens normalmente se queixam menos que as mulheres, por isso, quando eles reclamam, “deve ser real.”

· As mulheres são capazes de tolerar a dor melhor, afinal, elas lidam com o parto.

· As mulheres não são precisas quando relatam dor; Elas tendem a reclamar e exagerar.

“A dor é subjetiva. Profissionais de saúde devem acreditar no que a pessoa fala”, diz Tarzian. “As mulheres são mais propensas a relatar como a dor afetará seus papéis e deveres -” eu não posso cuidar dos meus filhos “- enquanto os homens vão relatar mais com a forma como a dor afeta a sua capacidade de ir para o trabalho. Pode parecer mais ameaçador se os homens não puderem ir trabalhar e cuidar da família. Acho que há a sensação de que as mulheres devem engolir a dor e não devem reclamar.” Os pesquisadores referem-se a algo conhecido como a “Síndrome de Yentl”, onde “as mulheres têm maior probabilidade de serem tratadas de forma menos assertiva em seus encontros iniciais com o sistema de saúde até provarem que estão tão doentes quanto os pacientes do sexo masculino”.

Ironicamente, o sexo não é o único preconceito. A aparencia física também desempenha um papel na forma como os prestadores de cuidados de saúde respondem à dor de um paciente. Em um estudo publicado na revista Psychology & Health, os pesquisadores descobriram que os pacientes fisicamente pouco atraentes eram percebidos como tendo mais dor do que os pacientes atraentes. Pessoas bonitas foram percebidas como sendo mais capazes de lidar com seu desconforto.

Tal diferença de tratamento é impensável. Ally Niemiec acha difícil descrever o medo e a frustração que ela experimentou quando médicos e enfermeiros desconsideraram sua dor. “Não é algo que você possa sequer começar a explicar”, diz ela. “Não há nada mais aterrorizante, é o pior sentimento do mundo inteiro, essas pessoas (profissionais de saúde) deveriam nos ajudar”.

Traduzido de:

Aplauda! Clique em quantos aplausos (de 1 a 50) você acha que ele merece e deixe seu comentário!

Quer mais? Segue a gente:

Medium

Facebook

Twitter

Instagram

--

--

Uma Queviu
QG Feminista

Traduções aleatórias da história das mulheres.