Se eu fosse ao cirurgião plástico

Melina Bassoli
QG Feminista
Published in
2 min readApr 29, 2023

Por: Esther Pineda. Original em espanhol.

Se eu fosse a uma esteticista, me diriam que preciso de botox para as linhas que estão marcadas na minha testa e para os sulcos próximos à minha boca depois de 35 anos de gestos expressivos; que preciso de um peeling para melhorar a pele irritada pelo calor e ressecada pelo frio, e para a acne que aparece por causa do estresse ou da chegada da menstruação. Eles também tentariam adicionar ao pacote a despigmentação dos meus lábios roxos e um microblading para minhas sobrancelhas irregulares, não perderiam a oportunidade de me oferecer o clareamento da vulva e a depilação permanente de todo o corpo.

Se eu fosse ao cabeleireiro, me diriam que eu devo alisar meu cabelo crespo com queratina, para “restaurar minha dignidade”, como diz uma estilista famosa.

Se eu fosse a um cirurgião plástico, ele teria dificuldade em me vender uma mamoplastia por causa dos meus seios grandes, mas ele me diria que preciso de uma mastopexia para levantar meus seios antes que eles comecem a cair com a idade; tentaria me convencer a fazer uma lipoaspiração para eliminar a pelotinha do meu abdômen e me devolver a cintura fina que deixei alguns anos atrás; me recomendaria uma lipoescultura para definir minha figura, uma abdominoplastia para ficar fitness sem esforço e uma transferência de gordura para aumentar o tamanho de meus glúteos.

Um cirurgião também diria que preciso da bichectomia, porque rostos redondos não são mais harmoniosos, seguido de uma rinoplastia para delinear meu nariz largo de preta.

Se eu fosse a uma esteticista, ao cabeleireiro ou a um cirurgião, me diriam tudo o que supostamente está errado em mim para vender o que eles têm para vender e cobrar o que eles têm que cobrar, mesmo que eles destruam minha essência com isso. Mas eu já sei que não há nada de errado comigo, que meu corpo não precisa de seus “procedimentos”, que não tenho “defeitos” ou “imperfeições”. Já descobri que é um negócio que precisa de nós inseguras, deprimidas, entretidas e consumistas.

Foto da autora, postada em seu instagram @estherpinedag

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