Esquadrão Suicida é um cosplay ruim de filme da Marvel

Leandro de Barros
Quadro a Quadro
Published in
3 min readAug 8, 2016

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Eu lembro que quando a DC e a Warner anunciaram uma cacetada de filmes até 2020, eles tinham um “ideal”.

O plano era fazer algo diferente do que a Marvel Studios estava fazendo. A DC/Warner se orgulhou de dizer que estava contratando cineastas com visões únicas (como Zack Snyder, Patty Jenkins, James Wan e a dupla Phil Lord e Christopher Miller) para dar-lhes autonomia criativa para fazer seus filmes.

Nada de “primeiro o Universo Cinematográfico, depois o filme”. As decisões criativas teriam maior peso do que as decisões empresariais e os cineastas teriam autonomia para comandar os projetos.

Aí veio Batman v Superman, um monte de críticas e a postura foi pro brejo.

As pessoas disseram que a DC/Warner tinha que ser mais como a Marvel e o estúdio já divulgou um trailer engraçadinho de Liga da Justiça pra mostrar que “vejam só, aprendemos, nos assistam em 2017”.

Só que o pior disso veio ainda esse ano.

Esquadrão Suicida é um filme que quer ser da Marvel. Tem as piadinhas interrompendo a ação? Tem.

Capangas sem rostos que só servem como base para a cena de ação dos protagonistas? Sim.

Um plano vazio de um vilão cheio de mambo-jambo e CGI, que vai de lugar nenhum para nenhum lugar e envolve um objeto circular no céu? Tem também.

Nick Fury, SHIELD e o governo americano querendo usar pessoas com poderes como ferramentas? Ô se tem.

Roteiro sem metáforas, significados, temas ou propósitos que não sejam ir para a próxima cena e o fim da aventura? Sim.

Fuck, eles até copiam uma música de Guardiões da Galáxia.

Só que Esquadrão Suicida é como um cosplay ruim: ele nem veste uma fantasia legal e nem mesmo interpreta da maneira certa.

Diferente dos filmes da Marvel, esse tem machismo franco e aberto, tem cenas de ação pessimamente dirigidas, tem uma montagem confusa e não tem a mínima noção de que você precisa fazer uma história valer a pena quando ela é única coisa que você tem.

É como um refrigerante: se não vai ter nutrientes, que pelo menos seja gostoso. Nesse contexto, Suicide Squad é o Dolly.

Esquadrão Suicida parece um filme em que as pessoas investiram muito mais tempo fazendo os personagens parecerem legais do que em fazer a história dar liga.

Veja a cena do grupo reunido no bar, por exemplo. Tira aquela cena de contexto e você tem um material que poderia ser muito poderoso.

Mas nada ali tem peso porque o filme não investiu na construção do momento. A Arlequina dizendo para o El Diablo assumir (no sentido de own it e não de admitir algo), por exemplo, poderia ser o mote do filme — mas parece vazio por não achar ressonância em nenhum outro lugar.

Li por aí que os produtores se meteram pra caramba no filme depois das críticas de Batman V Superman e cortaram muitas cenas do longa, para refilmar outras.

Faz sentido. Se você olha para Esquadrão Suicida, vê que tem dois filmes diferentes ali.

Um com apreço e sensibilidade o suficiente para mostrar a Arlequina “compondo” a personagem na chuva para esconder o sofrimento. Um que esperava “explodir” em seu clímax no momento em que o Pistoleiro tem que passar por cima da “filha” para vencer no final.

Ao mesmo tempo, tem um filme ali que não quer saber de nada disso. Que quer ser “dahora” com cenas de ação (sem peso) e close na bunda da Arlequina.

Caramba, a montagem desse filme é tão problemática quem nem a estética “rápida, divertida e eficiente” do Edgar Wright que eles tentam emular dá certo na apresentação dos personagens.

Um filme de produtores que caíram na velha ladainha de que “o povo que manda” no conteúdo que é produzido.

“O público é o melhor juiz”.

Não, não é.

Nós já temos a Marvel, não precisamos de um cosplay ruim dela.

PS: Jared Leto é um Coringa terrível. E eu torcia pra dar certo. Aliás, essa retratação da relação Coringa-Arlequina é quase criminosa para o histórico deles nos quadrinhos. Mas isso é assunto pra outra conversa.

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