Abraço você demorado porque amo o seu trapézio

Ele, alguns centímetros maior que eu, chegou aqui em um fim de tarde. Sorriu ao ver que não sou exatamente como ele imaginava. Eu, feito de expansão e curioso, fui além do esteriótipo de bom moço que ele desenhou. Acho que fui o engano dele.

Alguns dias depois, algumas noites bem dormidas, alguns cochilos em tardes de sábados aleatórios. Ele, me conhecendo melhor, soube que nossos horizontes eram bem parecidos. Começamos a dividir a mesma lua, da janela do meu quarto.

Eu, envolvido dos pés a cabeça, queria dizer que somar ele a minha vida me faz bem. Eu, racional, deixo ele pensar que não é tão fácil assim. Ele, experiente, já notou que meus abraços andam longos demais. Eu, despistando, digo que amo trapézios definidos.

Se eu pudesse falar tudo o que passa na minha cabeça, vocês provavelmente achariam que sou um grande poço de imaginação. Sinceramente, não consigo descrever, mas para mim, ele é meio que um tipo de príncipe encantado que a Disney ainda não inventou. Não abre portas, não é loiro e não tem olhos claros. O que ele tem é um coração bom, um peito acolhedor e um olhar que desbrava o mundo. Eu, que não gosto de pensar em me fixar em um lugar, moraria dentro desse mundo que ele enxerga, mesmo que por pouco tempo.

Ele faz o brigadeiro. Eu escolho o filme no Netflix. Ele cozinha. Eu lavo a louça. Ele escolhe roupas pela textura. Eu compro pelas cores. Ele é uma mistura de filmes do Woody Allen com pornô dos anos 90. Eu um filme do Xavier Dolan. Juntos somos um fenômeno inexplicado. Cientistas deveriam nos estudar. Às vezes acho que não somos desse planeta. Eu sou do tipo que fecha todos os botões. Ele do tipo que abre todas as minhas convicções.

Ele disse que gosta de mim, em uma noite dessas, meio dormindo meio acordado. Pedi para repetir. Não falei nada ainda, estou esperando os cientistas descobrirem se somos um problema para a nação ou não.