Qual será a “polaridade” de 2018?

Qualidade da Democracia
Qualidade da Democracia
2 min readNov 30, 2017

Por Carlos Melo

Les Amants, de Rene Magritte (Óleo sobre tela, 1928)

A polarização eleitoral é questão sempre repetida, quando se vislumbra as perspectivas de 2018. Diante das pesquisas, dá-se a leitura óbvia de um cenário de barbárie, com a radicalização da disputa: o conflito “esquerda” e “direita” se aguçaria na tensão “Lula versus Bolsonaro”. Claro que não pode ser descartado. Mas, a precipitação leva à aflição quase histérica em busca do tal “centro democrático”, como alternativa virtuosa para o embate. Contudo, também aí pode haver simplismo, interesse e má fé. O momento requer olhar fora da caixa, pesar outras possibilidades.

Nos últimos anos, desenvolveu-se o estigma do “lulismo” e a surgimento de seu antagonista, o “anti-Lula”. Por motivos óbvios, é natural que o ex-presidente seja um dos polos políticos, gerando também quem pretenda pegar carona em sua rejeição. Desde o impeachment, tentativas de forjar o “anti Lula” têm sido frustradas. Normal.

Mas, o surgimento de Jair Bolsonaro é anterior a isso, não sendo apenas um “anti-Lula”. Embora seja um de seus antagonistas, por excelência — assim como de muita gente — , o parlamentar-capitão desenvolveu identidade própria, é um duro (hard) à direita, e expressa mais que isso: há nele uma concepção de Estado e Sociedade — talvez pouco sofisticada, mas há — que precede o ocaso do petismo e, gostemos ou não, deve ultrapassa-lo como tendência histórica.

Bolsonaro, no entanto, não é o ponto; a questão é o atilulismo como estratégia eleitoral. Antes de tudo, é conveniente considerar que, para que emerja um “anti-Lula”, será necessário que haja, de fato, um Lula ou congênere capaz de representa-lo à altura de sua penetração política.

E nesse sentido, nem a mais arraigada a fé petista é capaz de responder se de fato Lula será candidato; sequer se estará em liberdade. Há indícios fortes para se suspeitar que não. E, não sendo, conseguirá o ex-presidente parir, com sucesso, um “sucessor” eleitoralmente competitivo? Difícil afirmar. Mas, se essa polarização pode ir para o espaço, ela não deveria virar fixação.

Ora, mesmo assim, ela interessa a setores chamados de “centro”, pois a ideia da precoce polarização “esquerda” versus “direita” constrói-se o campo da “alternativa”, não por projeto, mas por “rejeição” antecipada a Lula e a Bolsonaro. Sim, a dupla, realmente, pode concorrer e pagar ponta e placê no turfe eleitoral, mas despertar desde já seu fantasma também traz lá vantagens para quem está de fora e quer entrar na corrida. Não há melhor elemento de formação de crença do que o medo.

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