Vamos tomar nossa escola de volta!

Qualidade da Democracia
Qualidade da Democracia
2 min readSep 5, 2014

Sou incondicionalmente solidário com o nosso colega Sérgio Adorno. Assino em baixo do documento que ele distribuiu como diretor da Faculdade de Filosofia, sitiada, impedido de entrar na Administração se não assinasse um documento, praticamente de rendição incondicional. Enquanto os transgressores e abusadores continuarem a ser mimados explicitamente por alguns e secretamente por outros é pouco provável que o problema se resolva. Os professores estão sendo tratados como empregados domésticos da pequena burguesia pseudo-revolucionária.

É preciso observar a história das ocorrências nos sucessivos anos. Quanto mais mimados, mais agressivos, mais irresponsáveis, mais desrespeitosos. Já ouvi, há alguns anos, ilustre professora desta escola justificando a baderna porque “nossos filhos precisam da experiência da revolta”. Ainda não temos a devida solução judicial para a depredação da Reitoria, em greve anterior, prejuízo avaliado em 2 milhões e 400 mil reais e vemos a USP mergulhada novamente na esculhambação. A complacência de professores que tratam os alunos como pupilos de parque infantil contrasta com o fato de que milhões de crianças e jovens neste país nem direito a parque infantil tem: já estão na roça puxando o pau de guatambu ou na fábrica ajudando a família a ter na mesa o pão nosso de cada dia. E essa gente se considera de esquerda!

Transcrevo do meu livro A Sociologia como Aventura esse pequeno trecho relativo a um pronunciamento do Professor Florestan Fernandes no início das ocupações da Faculdade de Filosofia, na Rua Maria Antônia, em 1967: “Florestan foi direto na crítica ao movimento estudantil: “Vocês gastaram o canhão para matar o passarinho. Não os culpo, mas lamento essa necessidade.” E acrescentou: “A ocupação da Faculdade de Filosofia foi um ato que o corpo docente não merecia. Fazemos parte da mesma trincheira. A Faculdade deve ser respeitada e preservada, pois a reforma universitária exige uma luta conjunta.” (…) “Depois de rememorar as posições de vanguarda assumidas pela Faculdade de Filosofia, o prof. Florestan Fernandes não pode conter sua crítica: ‘Vocês forçaram a mão contra a única Faculdade que não merecia esse tratamento’.” [O Estado de S. Paulo, 28 de abril de 1967, p. 12].

Quase 50 anos depois, nos vemos diante dos mesmos fatos. Estamos em face de um movimento fascista travestido de esquerda. Mussolini supunha-se socialista. Hitler também.

Sou favorável à imediata ocupação dos prédios da escola pelos professores que querem trabalhar e pelos alunos que querem estudar e que a ocupação se dê com apoio de pais e familiares. Vamos tomar nossa escola de volta!

José de Souza Martins
Professor de Sociologia da USP

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