Afeto (II)

Danilo Monteiro
Quanto ao Tempo
Published in
2 min readMay 10, 2020

I
Ela tinha medo de escuro e trovão
Encolhida no casaco rosa da mãe
Rezava pelo fim do tormento
Ora, com o tempo veio a filha
As noites já não eram sozinhas
E os trovões, não tão barulhentos.

Pensou no passado, na própria infância
Na pobreza cruel, na indignidade da fome
O sacrifício constante mostrou-se na filha
O primeiro orgulho do seu próprio nome.

Hoje eu enxergo a cor desse amor
Apago da mente o vermelho da cruz
Teus olhos azuis me confirmam o contrário
Pois eles me mostram a grandeza da tua luz.

II
Ela não sabia quem era
Conhecia a perda e a dor
Sem amor, sem destino, sem importância
Aos dez, saiu da crueldade do passado
Encontrou um lar e abriu mão de um mundo
Mas entendia agora a sua relevância.

Esqueceu o pretérito, o sonho é presente
Será que você sabe de suas possibilidades?
A resiliência constante se mostra na filha
Um amor que é sinônimo de oportunidades.

E hoje eu enxergo a cor desse amor
Que suma da mente o nude insípido!
No preto da tua pele está o meu conforto do igual
Outrora no oblívio, agora requerido.

III
Ela sempre teve certeza de si
Sua voz é um oceano de calma profunda
E seu toque tem a suavidade do vento
Entendeu logo cedo a força dos atos
A atenção não vem em abraços ou beijos
Mas no amor registrado em cada momento.

Honrou seu passado, construiu seu futuro
Generosa como é, para três dividiu
Se hoje escrevo, não é por força ou hábito
Porém pelo apreço que a mim dirigiu.

Espero que entenda, você não está por último
- Não tenho o costume de sempre externar…
Porque escrevo para dentro, tal como você,
Cúmplices de um carinho que sabemos guardar.

E ainda vislumbro a cor do teu amor
Os tons empalidecem e buscam sumir
O sol que te toca se converge em arco-íris
Já que uma única cor não pode exprimir
O tanto de afeto que sinto por ti.

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