Diga adeus

Danilo Monteiro
Quanto ao Tempo
Published in
1 min readApr 2, 2020
Imagem de Harut Movsisyan por Pixabay.

Eu sempre vivi à margem
A um braço de distância
Longe, mas ao mesmo tempo ali
O perto mais necessário.

Não que eu reclamasse desse lugar
Por vezes quis me ver no outro
Mas sempre voltava a mim
Porque eu era o distante confortável.

De repente, o mundo muda
E todos ocupam o meu espaço
O lugar indesejado, de ausência
E descobrem o que eu sempre vi:

Que o tempo é inoportuno
O relógio nunca foi verdadeiro
Pois o presente vira imperativo
E o futuro, subjuntivo.

Com desgosto, então, declaro:
Diga adeus ao seu passado
E seja bem-vindo à minha rotina
De um presente enclausurado.

De afetos abandonados
De abraços impossíveis
De corpos amontoados
De histórias esquecidas.

De quebras de ritmo, sem rima
Em prol de um compasso
De uma música que ninguém dança
Porque é impossível fazer isso à distância.

E eu, que dançava sozinho,
Agora só danço acompanhado
De uma multidão anômala, enjaulada
Desgostosa dessa nova realidade
Que sempre foi a minha.

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