Tudo, menos a chuva
Recordo bem daquele dia
Nós dois caminhando no parque
Tua mão apertando a minha dizia
Que éramos tudo, menos a chuva.
Eu ainda me lembro do primeiro beijo
Foi suave, gostoso; depois foi intenso
O calor daquele quarto confirmava
Que você era tudo, menos a chuva.
De repente, olho pra cima e constato
Que o céu anda meio cinzento
Você baixa meu rosto e me dá a certeza
De que aquilo é tudo, menos a chuva.
Passa o tempo e eu percebo a distância
Percebo tudo e já começo a chover
Até o ritmo disto acaba mudando
Porque como água, querido, deságuo em torrentes
Que não obedecem à métrica, ao som ou à rima
Só cai e para e volta e pausa e continua
Pois minha estabilidade é intermitente
“Espera, amor…”, sussurro para eu mesmo
Porque você já foi e todos acabam indo também
Olho pro céu, ansioso, aguardando pelo tempo
E espero, sozinho, por um futuro que é nada
Mas que se engana achando que é tudo,
Menos a chuva.
