utilidade

Danilo Monteiro
Quanto ao Tempo
Published in
2 min readMay 24, 2022
Imagem de I-Martin por Pixabay

eram cinco horas. era sempre nessa hora que ele saía. um pouco até começar o oi habitual, mas a conversa engrenava depois de um tempo.

o céu tá bonito.

não vi grande diferença.

ah… rolou o quê?

nada não.

às vezes, era assim. aí aquele silêncio, uma espera grande. parecia até que não ia acabar. eu ali morrendo, mas deixando.

certo…

foi mal.

pelo?

hum, não sei dizer bem.

é, eu imagino.

imaginava mesmo? é que, às vezes, eu sinto de uma maneira tão exata que me pergunto se consigo ver. acho que a vontade me faz dizer isso, mas não é o que sinto, sendo bem honesto. e por que eu não seria honesto aqui, me diga?

tava pensando…

hum.

sabe aquelas horas que a gente só quer viver, mas ainda se prende?

o coração gelou. era aquilo, né?

ahan…

então, acho que tô preso ainda.

nem parecia que eram 5 e 15 ainda. o sol ainda se pondo, o céu meio alaranjado e aqui dentro todo vermelho. não sei ser pela metade, penso. só sei inteiro e aí acabo me despedaçando todinho.

tá, e o que se faz então?

não sei.

devia, já que tá falando.

calou-se porque saiu brusco e não esperava a reação ser daquele jeito. claro que não, esperava que eu estivesse naquele lugar específico. nem aqui, nem ali. naquele cantinho definido.

fale, boy.

tô pensando.

pensar é luxo, pensei. não há tempo, tudo tem prazo de validade. essas mãos, esse sorriso, esses olhos. principalmente eles. o símbolo do tempo.

tu quer que eu diga, né?

não sei.

é sim.

então fale.

fiquei calado. não por muito tempo porque aprendi que ele é luxo. tudo é. todo mundo escolhe uma coisa pra ser diferente e eu escolhi a mais estúpida. que escolha estúpida. estúpido. e o que me resta?

ser útil…

ahn?

tu vai quebrar meu coração, né?

oh…

o desgosto ao ver aquela clareza.

e sorriu. triste, mas sorriu.

porque ia.

--

--