Pares remotos
(Dia desses fui fazer o cadastro de um casal no hostel em que trabalho: o passaporte dele era da Alemanha e o dela da Tailândia…)
Juntar as escovas de dentes ainda é uma opção com data de expiração. Eles gostam mesmo é de combinar um passaporte vermelho com um verde, um documento de identificação da Europa com um da Ásia.
Esses pares remotos que a vida fez se encontrarem têm interlocução. Um Skype, uma ligação, um cartão-postal. Carregam mochilas e lembranças conjuntas de abraços fortes em aeroportos.
Quando se unem na dimensão física têm o tempo como aliado e feitiço contra feiticeiro. Querem fazer tudo o que os casais que não têm mais que duzentos quilômetros de distância entre fazem. Uma cama sem hora para se arrumar, um café da manhã atrasado.
Mas querem também o mundo juntos. Chegar a latitudes e longitudes de mão dadas, sobre topos e entre monumentos. Não perder o café da manhã do hostel.
Quando chega o último dia da temporada eles sofrem calados por saudades antecipadas enquanto miram um ao outro. Às vezes retém lágrimas durante um beijo.
A distância do último abraço antes da partida é inversamente proporcional à longinquidade que os colocará afastados em algumas horas. Os planos para o próximo encontro sufocam um choro dolorido e amedrontado.
Decolagem autorizada.