Pares remotos

Julia Latorre
Viagem
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2 min readMay 22, 2016

(Dia desses fui fazer o cadastro de um casal no hostel em que trabalho: o passaporte dele era da Alemanha e o dela da Tailândia…)

Tributo a Murad Osmann por Leo Hidalgo (ileohidalgo/Flickr/Creative Commons)

Juntar as escovas de dentes ainda é uma opção com data de expiração. Eles gostam mesmo é de combinar um passaporte vermelho com um verde, um documento de identificação da Europa com um da Ásia.

Esses pares remotos que a vida fez se encontrarem têm interlocução. Um Skype, uma ligação, um cartão-postal. Carregam mochilas e lembranças conjuntas de abraços fortes em aeroportos.

Quando se unem na dimensão física têm o tempo como aliado e feitiço contra feiticeiro. Querem fazer tudo o que os casais que não têm mais que duzentos quilômetros de distância entre fazem. Uma cama sem hora para se arrumar, um café da manhã atrasado.

Mas querem também o mundo juntos. Chegar a latitudes e longitudes de mão dadas, sobre topos e entre monumentos. Não perder o café da manhã do hostel.

Quando chega o último dia da temporada eles sofrem calados por saudades antecipadas enquanto miram um ao outro. Às vezes retém lágrimas durante um beijo.

A distância do último abraço antes da partida é inversamente proporcional à longinquidade que os colocará afastados em algumas horas. Os planos para o próximo encontro sufocam um choro dolorido e amedrontado.

Decolagem autorizada.

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Julia Latorre
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Comunicadora especializada em gênero.♀ Escrevo aqui sobre o que dá vontade. linkedin.com/in/julialatorre