Vago

Alex Bardem
Queerteratura
Published in
2 min readMar 2, 2020

Abstinência da escrita
Greve do desejo pelo escrever
Paralisias instigadas em cruzamentos
Eclipse de toda intenção latente
De comer pipoca a estar com alguém
De masturbação a cheirar padê
De dormir a assistir tevê
Nem mesmo hostil parece ser
Não é um vazio, é o tudo
Como se tudo em mim já estivesse construído
Não é a melhor versão minha
Não é ao menos eu
O dissimulado conto da essência do ser
Hoje ouvi que a existência precede a essência
Nesse contexto, a essência existe?
Poderíamos existir, sem formar uma essência
O ânimo meu de viver para isso é nulo
Nada é, afinal, verdadeiro
Genuíno é o movimento de adequar-se às situações
A curiosidade de experienciar, como outro, dados momentos
Sou inclinado a optar pelo risco
Mais do que desistir e estar aqui:
Sentindo tanta completude por ter
Despedaçado algo em vez de deixá-lo se partir
Sozinho, e me carregar junto
Não cabem mais sentires no que está cheio de crença
Nenhuma dor, nenhuma lamúria
Nenhum remorso, ou rancor
Não é um vazio, porque o vazio vive comigo
O meu vazio é a ausência de presença
Hoje estou presente para mim
Lembra o tédio, mas não é o tédio
Qualquer imagem evocada é incapaz de descrever
Como apresento, então, um texto
Sem encontrar um vocábulo que encaixe?
Esse é o retrato de um monte de nada
Você não compreende assumindo que
Sempre selecionamos mal as palavras
Quando voltar a sentir, ficarei arrasado
Confio que volto a partir dos meus traumas
A agonia talvez seja o entrave
Desimportante
Inócuo viver sendo uma máquina
Seguindo planos pela impulsão do não ter o que fazer
Mas, eu poderia ficar sentada
Para sempre
Já que vou parar de escrever nesse momento
Tampouco quero fumar tabaco

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