M&A de Startups: uma década de evolução

Anderson Wustro
Questum
Published in
7 min readApr 7, 2021

DISCLAIMER:

  1. Todas as informações relacionadas às transações de M&A e captações de investimento deste artigo foram coletadas da plataforma da Distrito;
  2. Devido ao sigilo nas operações de M&A, as informações levadas à público são escassas. Por vezes, as transações não são divulgadas na mídia, consequentemente prejudicando a exatidão dos números deste mercado;

Foi entre 2012 e 2013 que tive meu primeiro contato com empresas de tecnologia ao trabalhar em um dos principais e-commerces do sul do país da época. Venture Capital e startup eram palavras desconhecidas no vocabulário da grande maioria dos empreendedores. Mato alto que foi desbravado ao longo dos últimos anos até ultrapassar a marca de 3 bilhões de dólares em investimentos em 2020 só no Brasil. Hoje, mais de uma centena de fundos de investimentos atuam no país em busca de empresas e empreendedores de qualidade para alocar seu capital. O mercado amadureceu e entramos em um caminho próspero, com tendência de crescimento nos próximos anos.

Por outro lado, o mercado de Fusões e Aquisições passou despercebido no mundo de startups e empresas de tecnologia durante grande parte da última década. Apesar de termos cases de consolidação de mercado de ERPs como Totvs e Linx, operações de M&A ainda são um tema pouco discutido por empreendedores que estão em sua jornada Rumo ao Exit.

Neste artigo, trago um panorama do mercado de M&A envolvendo empresas de tecnologia. Meu objetivo aqui é apresentar à você leitor a evolução desse mercado na última década e, ousadamente, apontar algumas tendências que temos visto aqui na Questum. Enjoy!

M&A e IPO: caminhos para um exit

Antes de mais nada, gostaria de clarear brevemente os caminhos para dar saída (parcial ou integral) aos sócios e/ou investidores.

Ao falar de IPO (Initial Public Offering — Oferta Pública Inicial), me refiro a um tipo de operação em que uma empresa oferta suas ações ao público em uma bolsa de valores. A mesma se torna uma empresa de capital aberto, tendo que ser transparente com uma série de informações (contábeis, financeiras e estratégicas entre elas), além de seguir regras de governança e compliance. Não vou entrar no mérito de oferta primária, secundária, follow-on, período de lock-up ou detalhes desnecessários para este artigo. O que quero chamar atenção aqui é que neste momento os sócios da empresa que abriu capital (empreendedor, investidor ou colaborador) podem vender suas ações e consequentemente ter o retorno financeiro de seu capital, ou esforço, investido ao longo da jornada. Vale lembrar que a empresa, ao fazer o IPO, tem a referência de seu valor de mercado exposta diariamente na bolsa de valores em que se encontra.

Quando falamos de saídas via M&A (Mergers and Acquisitions — Fusões e Aquisições), nos referimos a operações de âmbito privado, ao qual, dependendo das partes envolvidas, pode ou não haver o compartilhamento de detalhes da transação — como valor da venda, por exemplo. Para ficar mais claro, cito a transação que assessoramos da Effecti, vendida para a Nuvini, ou também a recente operação de aquisição da RD Station pela Totvs. Pode-se notar que as informações compartilhadas de cada transação são diferentes.

Evolução do mercado de M&A de empresas de tecnologia

Nos últimos anos passamos por uma revolução no ecossistema de startups brasileiro. Vimos um aumento crescente tanto no volume de investimentos quanto no valor total de captação por startups. Isso tudo como consequência do amadurecimento do mercado — investidores, empreendedores, empresas, transformação digital, entre outros fatores.

Quando falamos em M&A, é natural a curva de crescimento iniciar sua aceleração a partir do momento no qual a maturidade das empresas é maior. Ao olharmos o gráfico abaixo, vemos que entre 2011 e 2018 tivemos um volume de transações de M&A pouco expressivo envolvendo startups. Entretanto, é possível notar um início de aceleração do valor financeiro total, ultrapassando a casa de US$ 100 milhões.

Em 2019 a curva começa a se acentuar. Vemos praticamente o dobro do volume de 2018 frente à quantidade e ao valor total das operações. Com destaque as transações da Zup, vendida para o Itaú, e da Supplier e Consinco, ambas adquiridas pela Totvs.

Apesar da pandemia, 2020 mostrou do que o M&A é capaz. O ano bateu recorde de transações, ultrapassando a marca de 160 deals a um valor superior a um bilhão de dólares.

Vale ressaltar também que em 2020 tivemos o início de um movimento de abertura de capital de empresas de tecnologia na B3. Meliuz e Enjoei foram as startups que desbravaram as águas do IPO pela primeira vez, levantando aproximadamente R$ 1,8 bilhão em suas ofertas públicas. Além disso, Locaweb e Neogrid também abriram seu capital na B3 e contribuíram para um novo movimento tech na bolsa brasileira.

Setores mais quentes para M&A

Em 2020, ano com recorde no volume de transações de M&A, o mercado esteve aquecido. Os setores de T.I., FinTech, AdTech, RetailTech e EdTech estão no topo da lista em volume de transações. Estes setores totalizaram aproximadamente 60% das operações do período, ou seja, 97 dos 163 deals.

Em relação ao valor total das transações, FinTech é a área de maior volume financeiro com cifra superior a US$ 200 milhões no período.

As empresas com maior apetite por M&A

Conforme mencionado anteriormente, temos Totvs e Linx como alguns dos principais cases de M&A no mercado brasileiro. As duas empresas representaram ao longo da última década grande parte das aquisições envolvendo empresas de tecnologia. Essa hegemonia iniciou seu declínio com movimento de outros players capitalizados no mercado. Movile (iFood), Magazine Luiza e Locaweb vem ocupando maior espaço no seleto grupo dos principais compradores de empresas de tecnologia.

Em 2020, Magazine Luiza concluiu a aquisição de nove empresas. Já a Locaweb, após sua abertura de capital na bolsa, efetuou a compra de cinco empresas de tecnologia. Linx, com quatro aquisições, continua no Top 3 das principais compradores de 2020, apesar de não ter divulgado novas aquisições após ser comprada pela Stone. Movile (iFood), Afya Educacional, XP Investimentos, Via Varejo e Sapore vem empatadas em quarto lugar com três aquisições realizadas por cada uma durante o ano.

Veja abaixo os Top 10 compradores de empresas de tecnologia em 2020.

Tendências do Mercado de M&A de Startups

Para quem está inserido no meio de tecnologia, é nítido o amadurecimento do ecossistema em diversas frentes.

O gráfico abaixo, por exemplo, mostra o crescimento do mercado de Venture Capital ao longo dos últimos anos. Crescimento tímido até 2015, com uma desaceleração em 2016 na conjuntura de um país em crise. Entretanto, uma retomada do crescimento de investimento em startups em 2017 e uma aceleração no valor total de investimentos a partir de 2018 culminando na consolidação do Brasil como principal mercado de VC da América Latina.

E quando o oceano sobe, todo o ecossistema vem junto. Mais capital resulta em mais empresas e consequentemente cria mais oportunidades de Exits.

Ao analisarmos o histórico de transações no primeiro trimestre de cada ano, vemos uma aceleração no número de deals realizados a partir de 2018. No primeiro trimestre de 2021 houve novo recorde de M&A envolvendo startups. brasileiras.

Ao todo foram 56 transações realizadas entre Janeiro e Março deste ano. Um crescimento de 115% em comparação a 2020.

Além do mais, começamos a ver “startups” se tornando compradoras. A Méliuz é um ótimo exemplo de empresa que abriu seu capital na B3 e iniciou sua estratégia de crescimento inorgânico com a aquisição da Picodi.

É importante destacar que cerca de 58% do volume de transações da última década (228 deals) foram realizadas entre 2019 e 2020. Os primeiros ciclos começam a se encerrar e vemos uma tendência forte de crescimento de transações envolvendo empresas de tecnologia — sejam no sell-side ou no buy-side.

Aqui na Questum estamos animados com o que há por vir. O mercado está cada vez mais maduro e os próximos anos prometem, tanto no aumento do volume de transações, quanto no tamanho dos cheques (vide operação entre a RD Station e da Totvs no valor de quase R$2 bilhões).

Conte conosco na sua jornada Rumo ao Exit.

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