5 passos para começar bootcamps de design dentro da sua empresa

Como fazemos para formar, atualizar e alavancar o conhecimento do nosso time

Tatiane Godoy
QuintoAndar Design
6 min readJan 16, 2020

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Foto de uma sala de aula com os designers alunos do bootcamp.

Quando pensamos no desenvolvimento de pessoas, troca de conhecimento e na formação de uma equipe de design, uma das primeiras alternativas que vêm à cabeça é procurar cursos externos com especialistas de um determinado assunto. Porém, em equipes com crescimento acelerado como a do QuintoAndar — passamos de 15 para 40 designers em menos de um ano — essa alternativa fica cada vez mais complexa e a gente acaba não suprindo as necessidades do dia a dia.

A equipe do QuintoAndar é composta por designers generalistas que trabalham em squads e participam de todo o processo de concepção de produto, e entendemos que é natural não ser especialista em tudo. Por isso, a troca de conhecimento é fundamental para equilibrar nossas habilidades.

Nesse contexto vimos que tínhamos algumas oportunidades:

  • Como acelerar a adaptação dos novos designers sem perder velocidade nos squads?
  • Como descentralizar o conhecimento de algumas pessoas para impactar o restante da equipe?

Bootcamps de design

Surgiu então a ideia de aplicar bootcamps de design, que são mini-cursos de 1h30, onde um designer ensina ferramentas e metodologias de design em formato de aula para outros designers da equipe.

E como a gente faz?

Para chegar em um formato enxuto para o nosso bootcamp, que estamos aplicando e lapidando desde fevereiro de 2019, nós assumimos a premissa de que não tem como parar toda a equipe de design pra ter um workshop de 4 horas de forma frequente e tampouco consumir um tempo grande de um designer voluntário para montar o conteúdo. Definimos então uma estrutura padrão com algumas etapas:

Timeline das 5 etapas do bootcamp.

1. Preparar a aula

Quem quiser dar um bootcamp deve selecionar um tema, uma data disponível e preparar o conteúdo. Para isso, usamos o Notion, onde é possível visualizar toda a programação do mês. Geralmente recomendamos que sejam feitas duas sessões por tema para que todos os designers possam se programar para ir.

Agenda de bootcamps no Notion.

Os temas estão categorizados em Pesquisa, Frameworks e Ferramentas e eles devem ser muito bem recortados para caber em pouco tempo. Por exemplo, ao invés de falar sobre “pesquisa” de forma geral, que é um tema muito amplo, o bootcamper pode priorizar um assunto específico sobre pesquisa como: “Como definir objetivos de uma pesquisa” ou “Como tabular mais rápido pesquisas quantitativas em planilhas”.

O Playbook do bootcamp é um recurso que desenvolvemos em que reunimos dicas para organizar o evento e templates com os tópicos base para a criação do conteúdo.

Parte do manual do bootcamper.

2. Aplicar o conteúdo teórico — até 25 minutos

No dia programado, quem estiver guiando o bootcamp aplica o conteúdo teórico com muitos exemplos de projetos reais. Assim, é possível ver na prática como um determinado frame foi aplicado.

Designer mostrando uma apresentação na TV e explicando o conteúdo do bootcamp.

3. Aplicar exercício prático — até 25 minutos

Para a segunda etapa do bootcamp temos um exercício que é aplicado geralmente em dupla ou em grupos, para aumentar a troca entre os participantes.

Entre os exemplos de exercícios que já aplicamos estão o mapa de empatia com um perfil de usuário específico e a preparação do plano de pesquisa para iniciar um projeto do squad.

Três pessoas em pé colando post its em cima da mesa, durante um exercício prático.

4. Discutir os resultados do exercício — até 25 minutos

Para finalizar a sessão do bootcamp, temos um espaço para discutir os resultados e trocar feedback. O mais interessante aqui é ver como as pessoas resolvem o mesmo problema de maneiras diferentes, mesmo utilizando a mesma ferramenta/framework.

Três pessoas discutindo olhando para folhas de papel.

5. Coletar feedback e acompanhar as aplicações

Após o bootcamp, costumamos coletar feedback e iterar o curso para a seção seguinte.

Para quem está começando a aplicar na sua empresa também é legal ter alguém para acompanhar todas as seções e evoluir o processo. Fizemos isso no começo para ajustar tempo, formatos de conteúdo e identificar os temas que eram mais aplicados no dia a dia dos projetos. Depois de um tempo, vimos que o formato já funcionava bem sozinho e os temas foram sendo sugeridos pelos próprios designers do time.

Mas e o que a gente aprendeu com isso?

Desde fevereiro de 2019, realizamos em torno de 30 sessões de bootcamps, abordando 16 temas diferentes. Na nossa lista de ideias são mais de 50 temas, tudo sugerido pela própria equipe.

Ao longo das edições, observamos que os bootcamps ajudavam no desenvolvimento de todo o time. Para o bootcamper, uma ótima forma de desenvolver a comunicação e a oratória. Para a equipe, observamos alguns ganhos que já esperávamos e outros que foram novidade:

  • Designers recém chegados se adaptavam mais rápido e de uma forma mais confortável à rotina do squad;
  • Impulsionamos a habilidade da mentoria de design criando um ambiente seguro;
  • Incentivamos o compartilhamento de projetos por meio de exemplos e designers têm contato com jornadas do produto diferentes daquelas nas quais estão trabalhando naquele momento.

Como uma boa surpresa, vimos que o bootcamp auxilia com o direcionamento de carreira dentro da equipe de design. É um compromisso para aprofundar um determinado assunto e ensiná-lo.

Veja abaixo os depoimentos de alguns designers da equipe sobre os bootcamps:

Esse conteúdo foi apresentado na edição de 2019 do Interaction Latin America (ILA) em Medellin e no ILA Redux SP com a Gioconda Souza. Depois dos eventos surgiram algumas perguntas que achamos interessante colocá-las aqui:

1. Ter o ritual estruturado incentiva as pessoas a fazerem ou a forma fechada pode acabar limitando e desmotivando no início?

Ter a rotina nos fez criar uma operação, o que facilita muito a realização dos bootcamps. Notamos que isso motiva mais do que limita porque é uma estrutura que garante que não tome tanto tempo do bootcamper e dos outros designers do time. No início, tivemos um trabalho de incentivar as pessoas a participarem, pois até para a formulação dos temas, não era algo tão claro para todos. Conforme foi passando o tempo e todos entenderam a dinâmica, esse processo se tornou mais orgânico e não precisamos mais acompanhar tão de perto.

2. Como priorizamos os temas?

Para começar identificamos oportunidades de acordo com as nossas necessidades e observamos dificuldades que se repetiam com diferentes designers. Por exemplo, até pouco tempo atrás não tínhamos uma especialista de UX Writing e, como designers de produto generalistas, era fundamental também contar a história do fluxo/produto através do texto. Priorizamos então alguns módulos de frameworks para UX Writing para tornar esse processo um pouco mais ágil.

Após alguns meses rodando o bootcamp, os temas foram sendo sugeridos pelo time. Como próximos passos para evoluir o modelo, vamos casar os temas de bootcamp com o que precisamos evoluir em competências para melhor atuação no que a empresa precisa.

3. Como medimos o impacto dos bootcamps na empresa?

Ainda não trabalhamos em KPIs porém já percebemos alguns impactos fora do time de design apenas de forma qualitativa. Vimos que outras disciplinas demonstraram espontaneamente interesse em participar. Como próximos passos queremos criar algum modelo de intercâmbio com nossos colegas de outro background.

4. Como deixamos o ambiente mais confortável para as pessoas ensinarem?

Para que os designers se sintam mais tranquilos, fazemos pequenas sessões de ensaio antes do bootcamp. Estes ensaios contam com 2 pessoas um dia antes da edição que é pra valer!

E você, têm testado esse ou outros formatos de mentoria de design na sua empresa? Se sim, bora conversar!

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