Por que ser designer no QuintoAndar?

São quase 4 anos como designer no QuintoAndar. Nunca tinha dedicado tanto tempo a um único mercado ou empresa. Lendo Why design at Facebook, da Julie Zhuo, que está há 10 anos no Facebook e de quem sou super fã, fiquei com vontade de transformar os meus porquês em texto.

Letícia Pires
QuintoAndar Design
7 min readJul 23, 2019

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Letícia está sentada em um sofá, atrás dela há um neon na parede na forma de seta da marca do QuintoAndar.

Sempre foi super difícil explicar o que o QuintoAndar faz. Para facilitar a minha vida, dizia que trabalhava desenhando as telas de um aplicativo de aluguel de imóveis — e as pessoas achavam que é um tipo de classificados de imóveis. Uma vez que viram clientes, ficam impressionados com tantos detalhes e uma experiência tão diferente ao procurar uma nova casa ou colocar seu imóvel para alugar.

Essa mesma reação acontece com cada novo colaborador que acompanhei em sua primeira semana. E, de novo, no primeiro trimestre: “Nossa, vocês fazem muita coisa!”.

O mundo do aluguel é muito complexo. E ainda mais cheio de componentes é o universo do morar, pelo qual o QuintoAndar é apaixonado. E a cada desafio de simplificar este novelo cheio de pontinhas, fico mais envolvida em traduzir tudo isso naquela sensação gostosa de sentar no sofá da nossa casa. “Nada de problema! Nada de dor de cabeça!” é uma obsessão, não só minha. Parece ser de todas as quase mil pessoas que trabalham por aqui.

Mas, qual é o charme de trabalhar com aluguel de imóveis para um designer? Muitas vezes me peguei feliz demais em mexer em uma espécie de cubo mágico que é o QuintoAndar e me perguntava: mas por que raios estou eu tão imersa em um problema do mercado imobiliário?

Pois é…

Não é sobre aluguel, é sobre morar ❤

Acabamos de lançar um novo serviço que usa nossa inteligência de dados para sugerir reformas de imóveis para que eles fiquem prontos para as pessoas se mudarem e para que o proprietário não tenha que desembolsar a grana ou tocar a reforma. O QuintoAndar sabe melhor do que ninguém o que as pessoas querem ao procurar um imóvel. Então decidimos nos desafiar nessa outra frente.

Aí, pode rolar a seguinte pergunta: mas você não trabalhava em aplicativo de aluguel? E eu respondo: sim, mas esse é só o começo.

O aluguel é só uma pontinha do que queremos

Aluguel, inclusive, pode ser uma solução atual, somente. Será que no futuro vamos morar de outro jeito? provavelmente sim. O modelo de aluguel que conhecemos hoje apareceu na Inglaterra, durante a Revolução Industrial. As pessoas migravam para as cidades e trabalhavam nas fábricas, mas não tinham casas próprias por perto. Então, elas pagavam por dia por um quarto em algumas casas de família. Um modelo meio aluguel e meio hotel, né? Era diário porque os salários também eram pagos por dia. A coisa foi ficando mais estável e aí veio o modelo mensal.

Pequeno disclaimer aqui: há super pouco sobre como o modelo de aluguel nasceu, essa informação é uma das poucas que consegui em livros sobre como nasceram as metrópoles no séc XIX. Mas não leve a ferro e fogo. Prometo investigar mais.

Voltando às questões de 2019, a vida contemporânea tem permitido muitas mudanças e experimentações para muita gente. Algumas pessoas preferem alugar não só casas, mas carros, bikes, objetos outros ao invés de possuir esses bens em seu momento de vida. É isso o que estamos vivendo.

O QuintoAndar sempre quis facilitar o aluguel e adora a proposta de flexibilidade que está implícita nesse modelo. Mas ele não quer ser a maior ou melhor plataforma para aluguel. Nunca foi esse o lance.

Então era isso, eu não estou em um relacionamento sério com o mercado imobiliário. Meu objeto de trabalho é o morar. É sobre as pessoas se sentirem em casa, sem precisar ter um papel que fale isso. É sobre relações mais bacanas entre quem tem e quem mora em seu canto.

Não é sobre ser complexo, é sobre simplificar

Meu grande desejo depois de uma viagem em que visitei algumas empresas do Vale do Silício era trabalhar em uma empresa que inovasse de verdade. Confesso que acreditava que inovação era algo grandioso e disruptivo do status-quo. Disruptivo é sim, mas não precisa ser grandioso. Inovação está em pequenos detalhes como o iPod ter oferecido o modo shuffle em seu primeiro aparelhinho. Ou como fizemos no QuintoAndar ao disponibilizar o agendamento de visitas online em dois cliques. Ou melhor, como propor o modelo de análise de crédito como segurança de um contrato de aluguel, excluindo o modelo de fiador — um modelo que funciona para um tanto de gente. Mas não dá tanta autonomia para outros tantos.

Dá medo? Dá. Mas simplicar é viciante!

Eu já estava na empresa no dia em que mudamos todo o modelo de negócio de fiador para a análise de crédito. A previsão era o esvaziamento de metade — sim, 50% — da base de imóveis que tínhamos na plataforma. Era como se de um dia para outro, metade do estoque de uma loja tivesse sido levado.

Para a análise de crédito como solução tão simples para futuros inquilinos, a empresa comprou um baita risco. O modelo mudava a relação que tínhamos com o proprietário. A partir daquele momento o proprietário precisava aceitar não só a corretagem mas também a administração pelo período do contrato. Era uma condicional para o negócio ficar de pé. Lembro do CEO apreensivo. Respirei fundo, triste, pensando que precisaria procurar um outro trabalho se aquela manobra desse no fim da empresa.

Fez todo sentido o trade-off. Mas que deu um medão, deu.

Depois disso, topei outras inúmeras alternativas de modelo de negócio que, de primeira olhada, eu ficava cheia de medo. Trabalhar como designer tão perto do negócio, entendendo cada detalhe e fazendo as apostas é uma espécie de aula de mergulho: quando você desce mais um pouco, dá um medo. Mas descer mais e mais é o desafio.

Aprendi que simplificar processos, fluxos e modelos de negócio pode ser a coisa mais viciante para um designer.

Não é sobre UX, é sobre product design

Aqui eu sei que é um ponto polêmico. A nomenclatura nunca vai ser perfeita. Mas meu ponto aqui é sobre as diferenças que vi e vejo comparando minhas experiências em consultoria de ux e em uma equipe de produto em uma startup. Minha visão aqui não é tão conceitual, vou me apoiar às atribuições práticas de posições que vivi no dia a dia.

Ser product designer no QuintoAndar exige que se tome decisões: não só de design, mas também de negócio. Como designer em squad — equipe multidisciplinar modelo conhecido pelo Spotify — não estive sozinha nessas decisões. Aqui, tive muita autonomia e minha responsabilidade foi cobrada para fazer apostas que ofereçam uma boa experiência para as pessoas. Mas não só isso. Essas nossas apostas precisam ser as mais enxutas e rápidas para validarmos ideias e manter um equilíbrio do negócio.

Decisões de negócio não são triviais para designers

Quando estava na equipe que desenhou a forma como interessados fazem proposta em um imóvel, tínhamos duas alternativas. A conservadora oferecia dois caminhos para as pessoas, que eu como UX certamente escolheria. A que colocamos no ar, de certa maneira, sugeria um caminho prioritário. É o cenário mais comum para as pessoas, mas também é o melhor para o negócio. E não só isso, como primeiro momento, para validar se as pessoas realmente fariam propostas para aluguel de imóveis por ali, era o que fazia mais sentido de ser construído.

Muitas vezes, você, como designer, precisa optar por priorizar melhor uma interação que está bacana e voltar em uma que está ‘capenga’ depois. Não dá para manter a máxima da melhor experiência universal para todos o tempo todo. É dolorido. Mas a gente aprende na dinâmica do empreender.

Trabalhar com produto faz você ser responsável por sua unidade — squad — funcionar como se seu grupo fosse sua empresa.

Fazendo um paralelo com a Zhuo, aqui segue a minha lista sobre ser designer no QuintoAndar:

  1. Entende que sua missão é propor interações e serviços que são novos modelos de troca.
  2. Curte o desafio de levar soluções para muitas pessoas. Escalar é o verbo do seu dia a dia. Suas soluções precisam funcionar para milhares.
  3. Está aberto a um pouco de caos e indefinição. Quase sempre temos um monte de hipóteses e não um caminho definido.
  4. Gosta de construir e experimentar. É do tipo mão na massa.
  5. Quer resolver problemas reais e práticos.
  6. É fã do trabalho em time e promove a colaboração.
  7. Acredita na abordagem do design e se anima em aprender com outras abordagens.

Tudo isso que listei acima traz um sentido muito grande para a dedicação que invisto em meu trabalho e para o desejo que tenho em construir mais e mais no e com o QuintoAndar. Dá aquela sensação boa de ser grata ao tanto que cresci nesse período e um super gás para o muito tem quem por vir!

E a sua lista? Por que você está onde está?

Se você chegou até aqui, aproveite e pense nos porquês de estar onde está, dos porquês da sua dedicação. É um exercício fundamental. Faça também sua listinha 😉

Olhou pra sua lista e deu aquela sensação mais fim de feira do que começo de uma aventura? Talvez seja hora de fechar, agradecer e mudar.

Se você é designer e se animou com o meu contexto no QuintoAndar, dá um alô! ;)

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Letícia Pires
QuintoAndar Design

I help teams create engaging product experiences and new services. Design Director @QuintoAndar.